O volume de fusões e aquisições (M&A) no Nordeste foi 24% menor em 2023, em comparação a 2022, e 32% abaixo do registrado em 2021, de acordo com levantamento da Deloitte com base nos dados da plataforma Transactional Track Record (TTR). Mas a expectativa para 2024 é bem melhor, segundo consultores ouvidos pelo Movimento Econômico.
David Holanda, sócio de financial advisory da Deloitte, explica que as incertezas no cenário macroeconômico, taxas de juros elevadas e tensões geopolíticas frearam as transações. “No Brasil, um dos principais fatores recaiu sobre a Selic”, sustenta.
Para Daniel Maranhão, CEO da Grant Thornton Brasil, 2024 pode trazer não só uma recuperação no cenário de fusões e aquisições, como no de IPO, com muitas empresas retomando à listagem na bolsa para fazer abertura de capital e follow on (oferta subsequente de ações”. Foi o que ele disse no podcast CEO TV, ao ser provocado por uma pergunta da jornalista Patrícia Raposo, do Movimento Econômico.
Maranhão revelou que na Grant Thornton a área de Transações, responsável por serviços de Due Diligence (pesquisas e investigações aprofundadas acerca de alguma empresa), cresceu bastante entre janeiro e dezembro. “Essa área vinha bem no primeiro semestre de 2023, mas caiu no segundo. Agora, aqueceu bastante. Esse é um indicador de que as transações de M&A tendem a crescer no primeiro semestre de 2024, ” comenta. A Due Diligence é um serviço fundamental para um bem-sucedido processo de M&A.
Fusões e Aquisições em 2023
Em 2023, o Nordeste registrou 146 transações de M&A, 73% delas concentrados em três estados – Bahia, Ceará e Pernambuco – que seguem como principais focos para os investimentos. Apesar dessa liderança, Rio Grande do Norte e Maranhão tiveram operações significativas no ano passado.
Em 2021, a região foi alvo de 216 operações de M&A e, em 2022, de 193. Os setores que mais se destacaram foram energia (27%) e tecnologia (22%), seguidos por saúde e financeiro (empatados com 6%).
O setor de saúde já esteve melhor posicionado no ranking nordestino de M&A. “Com os investimentos recebidos nos últimos anos, há muitos segmentos consolidados na saúde, como o de hospital geral, oftalmologia, oncologia e hemodiálise”, explica David Holanda. No entanto, não significa que não haja oportunidade. “O Ceará, por exemplo, ainda não registrou nenhuma operação com clínicas oftalmológicas”, diz o sócio da Deloitte.
Por outro lado, a expansão do mercado de energia na região fez o segmento passar para o topo do ranking em investimentos, diferentemente do que foi registrado no Brasil como um todo. No país, os setores de maiores destaques foram tecnologia (33%), financeiro (20%) e imobiliário (12%).
Cenário nacional
“Quando os juros estão altos, os investidores tendem a buscar opções mais seguras, como investimentos em renda fixa, diminuindo as transações de M&A. A queda de juros, como a que já observamos, tende a impulsionar o mercado”, analisa Edvaldo Martins, especialista em M&A da Share Capital. Para ele outro fator de estímulo é a aprovação da reforma tributária, “que tem sido bem vista no exterior”.
No cenário nacional, dados do Relatório TTR revelam que o volume de transações no Brasil em 2023 chegou a 2.008, com um valor agregado de R$ 215,74 bilhões de reais. Abaixo de 2022, quando houve 2.387 transações que movimentaram R$ 291.72 bilhões de reais. É uma retração considerável se comparado a 2021, que registrou 2.560 transações e movimentou R$ 595,56 bilhões de reais.
Edvaldo Martins analisa que a pandemia desencadeou a desaceleração nos processos de M&A, fortalecida pelos conflitos geopolíticos entre Rússia e Ucrânia e, mais recentemente, entre Israel e Hamas, além de um longo período de taxas de juros elevadas, contribuíram para o desaquecimento do mercado.
“Em um cenário de crescente dinâmica no mercado empresarial brasileiro, as operações de M&A tornam-se ferramentas fundamentais para empresas que buscam entrar em novos mercados, adquirir novas tecnologias, aumentar market share e até mesmo tirar concorrentes do mercado”, ressalta.
Da mesma forma, atende a quem quer realizar um desinvestimento, seja por dificuldade na sucessão familiar ou em obter financiamento para sustentar o crescimento, ou por endividamento alto, por exemplo.
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