Gás natural chega ao Polo Gesseiro após 2 décadas de espera

Atendimento ao pleito histórico do setor, por meio de uso do gás natural liquefeito, soluciona drama do setor gesseiro na área energética e ambiental, mas falta a Ferrovia Transnordestina, outra bandeira do segmento
Governadora de Pernambuco anuncia projeto de GNL no Polo do Araripe, formado por 700 empresas e responsável pela geração de 15 mil empregos
Raquel Lyra anuncia hoje, em Araripina, projeto para que o gás natural finalmente chegue ao polo responsável por 80% de todo o gesso produzido no Brasil/Foto: Governo de Pernambuco (Divulgação)

A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, anuncia hoje, às 9h, em Araripina um projeto para atendimento do Polo Gesseiro com gás natural, que inclui a construção de duas unidades de regaseificação, uma na própria cidade e a outra em Trindade. O empreendimento, cujos detalhes só serão revelados no evento, vai encerrar uma espera de 20 anos no centro mais importantes do setor no Brasil. As 700 empresa da região geram 15 mil empregos e são responsáveis por 80% da produção nacional.

“A iniciativa tornará a produção do Polo Gesseiro do Araripe mais sustentável, já que a maior parte das empresas ainda utiliza a queima da lenha como fonte de energia”, informa a agenda de Raquel Lyra, divulgada pela comunicação do governo.

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Essa luta dos empresários da região pelo gás natural começou no início dos anos 2000, liderada pelo então presidente do Sindicato das Indústrias do Gesso do Estado de Pernambuco (Sindugesso), Josias Inojosa.

O sindicato tinha dois argumentos fortíssimos para o pleito: a falta de alternativas sustentáveis para a operação das fábricas, num negócio que utiliza energia de forma intensiva, principalmente no caso das calcinadoras da matéria-prima do gesso, a gipsita. Diante da situação, muitas empresas usam lenha do bioma da caatinga, afetando o meio ambiente.

O segundo motivo: a importância econômica do polo como cluster industrial fora da Região Metropolitana do Recife e com uma abrangência que inclui Pernambuco, Ceará e Piauí.

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Ao longo do tempo, o problema só piorou. Algumas empresas tentaram a utilização de energia solar, a compra de lenha oriunda de áreas de manejo e outras fontes. Sem sucesso. Como saída, indústrias do segmento vinham adquirindo lenha a mais de 200 quilômetros de distância, com um custo altíssimo tanto financeiro, como ambiental, o que gerou risco de paralisação das atividades.

O drama vai chegar ao fim vinte anos e vários governadores depois. Uma das dificuldades que o governo do estado teve de enfrentar para equacionar o problema foi a inviabilidade financeira e técnica da construção de centenas de quilômetros de gasoduto até a região.

Fim do drama do gás natural

Só agora, sob Raquel Lyra, a Companhia Pernambucana de Gás (Copergás) vai finalmente implantar a solução encontrada pela empresa: a utilização do gás natural liquefeito (GNL).

Esse modelo já vem sendo adotado pela Copergás desde o governo Paulo Câmara, que optou por beneficiar Petrolina e Garanhuns primeiro. Os dois empreendimentos que entraram em operação em 2022 são uma parceria com a norte-americana New Fortress. A multinacional faz o transporte do gás natural em estado líquido (GNL) até estas cidades, por caminhões-contêineres refrigerados.

Nessa condição, o gás natural tem seu volume reduzido em 600 vezes. Ao chegar ao município de destino, o produto passa pela planta de regaseificação local. Em seguida é transferido para a Copergás, responsável pela odorização e distribuição para os clientes, por meio de gasodutos.

Planta de regaseificação de gás natural em Garanhuns foi inagurada pela Copergás ano passado
Unidade de regaseificação de gás natural de Garanhuns entrou em operação em 2022/Foto: Copergás (Divulgação)

Fiepe defende gás natural no Araripe

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Ricardo Essinger, elogia a iniciativa do governo e reforça as críticas à demora na solução desse gargalo.

“A Fiepe tem defendido e cobrado esta implantação, há mais de uma década. Temos agora a pavimentação de caminho. O desafio pela frente é o aprimoramento de tecnologias, com o objetivo de ajudar as empresas nas áreas de inovação e produtividade. Não é um processo simples, mas que precisa ter este primeiro passo, na área energética”, afirma.

O presidente do Sindugesso, Jefferson Duarte, considera a chegada do gás natural ao polo uma “grande virada de chave para o setor”, mas, assim como Ricardo Essinger, aproveita para elencar outras dificuldades.

“Estamos no limite do consumo de lenha. No entanto, apenas a vinda do gás natural não consegue sanar outros entraves que enfrentamos, como carga tributária elevada, gargalos para escoamento da produção e até carência de força de trabalho qualificada”, detalha.

Governo vai anunciar pacote para o polo

Diante dos problemas estruturais e conjunturais que o polo gesseiro vêm enfrentando, o Governo de Pernambuco sinaliza para um apoio que vai além do gás natural, segundo o presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe), André Teixeira.

De acordo com o executivo, o governo vem trabalhando na formulação de um programa voltado para o setor que inclui incentivos fiscais e outras linhas de ação. Ele não adianta detalhes do pacote, que será anunciado pela governadora.

Transnordestina é outra bandeira histórica do setor

A solução para o gargalo energético e os benefícios que serão divulgados pelo governo, no entanto, ainda não vão atender a outra bandeira histórica do Sindugesso: a construção do trecho da Transnordestina em Pernambuco.

A ferrovia, cujo trecho no estado terá 548 quilômetros, é fundamental para reduzir os custos logísticos do setor, conectar o cluster ao Porto de Suape e viabilizar a entrada dessas indústrias no mercado internacional. Josias Inojosa abraçou o projeto como uma causa. Realizou inúmeras viagens pelo Brasil – especialmente para Brasíllia.

Peregrinou pelos gabinetes da capital federal, teve diversas reuniões com a antiga concessionária da ferrovia – a TLSA, do grupo CSN – e promoveu palestras num ritmo incansável para mobilizar o setor produtivo e a sociedade em torno do empreendimento. Morreu em 2004 sem ver o sonho realizado.

A esperança do setor agora é que o compromisso do ministro Sílvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), na visita recente do Presidente Lula à Refinaria Abreu e Lima, não seja apenas discurso. O ministro garantiu que a retomada do ramal Salgueiro-Suape – paralisado desde 2016 – terá a ordem de serviço assinada por Lula até 30 de setembro.

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