Indústria automobilística cai 1,9% em 2023

Indústria automobilística teve recuo na produção apesar de reação nas vendas, graças à ajuda da redução temporária de impostos e à queda nos juros. Crescimento das unidades comercializadas ainda não reverteu crise
Montadoras tiveram mais um ano desafiador, apesar do aumento de 9,7% nas vendas, ainda insuficiente para a indústria automobilística retomar o fôlego
Indústria automobilística do Brasil teve mais um ano desafiador, apesar do aumento de 9,7% nas vendas, insuficiente para reverter o ciclo de crises no setor/Foto: Corrado Bonora (Abracomex Site)

Com Agência Brasil

A produção da indústria automobilística, dando continuidade a uma fase desafiadora do setor, caiu 1,9% em 2023, de acordo com informações divulgadas nesta quarta-feira (10) pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Segundo a entidade, as montadoras produziram 2,36 milhões de unidades no ano passado, contra 2,32 milhões em 2022.

Só em dezembro, quando foram fabricados 191,6 mil veículos, a retração chegou a 10,4% sobre o mesmo mês do ano anterior. No comparativo com novembro de 2023, o saldo também foi negativo, com um baque de 15% – de 202,7 mil para 171,6 mil unidades.

Confira o desempenho do setor por segmentos

A produção de automóveis e comerciais leves cresceu de forma modesta no acumulado do ano (1,3%), atingindo 2.204 mil unidades. A fabricação de caminhões e ônibus, no entanto, desabou num nível superior a 1/3. Segundo a Anfavea, a retração, que chegou a 37,5%, foi gerada por “custos mais elevados das novas tecnologias de controle de emissões, adotadas para atender a etapa P8 do Proconve, válida desde janeiro de 2023”.

Indústria automobilística: reação nas vendas não reverte crise

Os dados da Anfavea mostram uma reação de 9,7% nas vendas de 2023, com a comercialização de 2,3 milhões de unidades emplacadas, contra 2,1 milhões em 2022. O crescimento no entanto se dá sobre uma base de comparação muito baixa e ainda não é o suficiente para que o segmento recupere o fôlego.

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Fortemente afetadas pela desarticulação de cadeias produtivas globais durante a pandemia e, no mercado interno, pelos juros altos, as montadoras enfrentam dificuldades para retomar os níveis de produção e vendas anteriores à emergência sanitária mundial.

Estratégias equivocadas, como preços muito acima do valor real dos produtos, aposta em veículos premium e a abortada conversão da maioria dos modelos de passeio para SUV contribuíram para agravar a crise.

Em um cenário internacional mais estável e juros em trajetória de queda ao longo de 2023, as vendas melhoraram, embora ainda se encontrem em patamares modestos em relação à média antes da pandemia.

Em dezembro, por exemplo, o crescimento no número de unidades comercializadas chegou a 14,9% sobre o mesmo mês do ano anterior, com 248,6 mil veículos vendidos. Em relação a novembro, o indicador ficou positivo em 16,9 %, com 212,6 mil carros comercializados no período.  

Incentivos contribuíram para reduzir impacto da crise

O crescimento das vendas da indústria automobilística em 2023 se deve principalmente ao programa de redução temporária de impostos federais para carros populares. Ao todo, em torno de 150 mil veículos foram vendidos graças à redução de carga tributária em junho e julho, que impactou os preços na ponta, barateando alguns modelos. O Governo Federal destinou R$ 800 milhões à iniciativa.

Apesar dos resultados inferiores à expectativa, os números foram comemorado pelas montadoras, diante do sufoco em que se encontravam, com pátios lotados e muitos fabricantes em férias coletivas. O aumento de 9,7% nas vendas de 2023 só foi possível graças a esses incentivos.

Exportações em queda

Nas exportações, o resultado do setor foi negativo. Houve queda, no ano, de 16% nos embarques em relação a 2022. Foram exportadas 403,9 mil unidades em 2023, contra 480,9 mil no ano anterior.

Entre os fatores que explicam a queda, o principal está no recuo das vendas para países latino-americanos que estão entre os principais importadores de veículos brasileiros, como Argentina (retração de 16%), Chile (-57%) e Colômbia (-53%).

A performance só não foi pior devido ao redirecionamento de negócios para o México. Com isso, o país assumiu o primeiro lugar como destino das exportações da indústria automobilística do Brasil, posto que tradicionalmente era ocupado pela Argentina.

Ao todo, o mercado mexicano respondeu por 32% de todo o volume exportado pelos fabricantes brasileiros. Houve um salto de 51% nos embarques para a região em relação a 2022 e os veículos produzidos no Brasil já representam 8% de todo o mercado automobilístico do México.

Outro país que contribuiu para aliviar a queda nas exportações em outros destinos foi o Uruguai, com crescimento de 5% nas unidades exportadas.

Para 2024, as montadoras precisam que os resultados nestes mercados se mantenham e até avancem, pois a Argentina segue em crise econômica e passa por um momento de incertezas com as medidas econômicas polêmicas do Governo Milei.

Caso o presidente de extrema direita argentino adote uma postura mais ideológica que pragmática, prejudicando os interesses do Brasil, as relações comerciais entre os dois países podem piorar ainda mais, algo que seria bastante danoso para a indústria automobilística nacional.

O que esperar da indústria automobilística?

Para 2024, a Anfavea estima um resultado melhor que em 2023. As unidades produzidas, de acordo com as projeções, devem chegar a 2,47 milhões de unidades, 6,2% a mais que no ano passado.

Nas vendas, a associação espera incremento de 6,1% sobre 2023, com uma previsão de 2,45 milhões de unidades comercializadas. Para as exportações, a expectativa é bem modesta: 0,7% de expansão, com 407 mil unidades comercializadas para outros países.

Presidente da Anfavea se diz otimista com indústria automobilística em 2024
Márcio de Lima Leite (Anfavea) se diz otimista com recuperação da indústria automobilística em 2024/Foto: Anfavea (Divulgação)

Presidente da Anfavea se diz otimista

Segundo o presidente da entidade, Márcio de Lima Leite, há motivos para acreditar em um ano positivo para o setor automotivo brasileiro porque, além da expectativa de crescimento do mercado interno e da produção, a publicação da MP 1.205 que instituiu o Programa Mover também deve favorecer o setor.  

“Trata-se uma política industrial muito moderna e inteligente, que garante previsibilidade a toda a cadeia automotiva presente no país e a novas empresas que chegarem, e ainda privilegia as novas tecnologias de descarbonização, os investimentos em P&D e favorece a neoindustrialização”, afirma.  

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