A elevação de até 1,5 ponto percentual (pp) na taxa Selic, que saiu de 6,25% ao ano para 7,75%, o maior índice da taxa em quatro anos, foi interpretado por economistas como um endurecimento da política monetária, por conta da piora no risco fiscal e de aumento da inflação.
Para o economista e head de Renda Variável da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti, o balanço de risco cresceu após as declarações do ministro Paulo Guedes de que iria furar o teto de gastos para conceder o Auxílio Brasil de R$ 400,00. “Isso gerou a apreciação do dólar e consequente, a elevação das expectativas de previsões da inflação. O BC terá que adotar uma política monetária mais contracionista”, disse Bertotti, acrescentado que o Brasil é muito dependente de insumos importados. “O dólar alto causa grande impacto nos índices de inflação”, acrescenta.
“Os desafios na mesa do COPOM eram grandes, afinal caberia à Autoridade Monetária tentar equilibrar sobre a taxa todos os dilemas econômicos atuais (inflação persistente, fiscal desorganizado, atividade fraca). provavelmente irá conseguir acalmar o mercado com tal decisão”, analisa Para o economista da Necton, André Perfeito.
Para os economistas, o aumento do aperto monetário deve continuar na próxima reunião do Copom marcada para dezembro (também com 1,5 pp de alta). Para Bertotti, até o primeiro trimestre de 2022, a taxa Selic atingirá 10,50%. Já André Perfeito estima que em fevereiro do ano que vem, a taxa esteja em 10,25%
Para Bertotti há um grande risco que é a “desancoragem fiscal”. Isso abre precedentes para efetuar novos gastos, piorando ainda mais orçamento da União. “O presidente prometeu na semana passada uma ajuda financeira para 750 mil caminhoneiros, mas sem indicar a fonte de recursos. Isso deixa o mercado temoroso”, diz ele. O economista lista fatores adicionais que pressionam a inflação, sobretudo a alta da commodities, como o petróleo, carvão e gás.
Bertotti ressaltou que o Boletim Focus do Banco Central, que aponta que a mediana das estimativas do mercado para os principais indicadores econômicos do país, já mostram uma deterioração do cenário macroecômico, com mudanças nas expectativas do mercado. A previsão do mercado financeiro para a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) disparou de 8,69% para 8,96% em 2021 e de 4,18% para 4,40% em 2022. Além disso, ele lembra que o mercado diminuiu a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB), que mede o crescimento da economia brasileira, de 5,01% para 4,97% em 2021 e de 1,50% para 1,40% em 2022. A expectativa do mercado para o dólar também cresceu. Conforme o relatório, disparou de R$ 5,25 para R$ 5,45 no fim deste ano e no final do ano que vem.