Inflação preocupa, mas empresários esperam que seja controlada

Etiene Ramos O temor da inflação chegar a dois dígitos até o final de 2021 ficou mais forte com a divulgação, na semana passada, do índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 0,87% em agosto. Calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA mede a inflação oficial do Brasil e foi […]
Etiene Ramos
Etiene Ramos
Jornalista

Etiene Ramos

O temor da inflação chegar a dois dígitos até o final de 2021 ficou mais forte com a divulgação, na semana passada, do índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 0,87% em agosto. Calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA mede a inflação oficial do Brasil e foi o maior para o mês de agosto desde 2001, resultando num aumento de 9,68% nos últimos 12 meses. Para setembro, a expectativa é romper o limite dos dois dígitos neste mesmo intervalo. 

- Publicidade -

Em meio à instabilidade política, crise hídrica e alto desemprego, o levante da inflação puxada por fatores que vão do clima a tropeços na gestão pública, vem preocupando os empresários e dificultando a recuperação da economia no momento em que a vacinação avança, as restrições sanitárias caem e os clientes retornam ao consumo, represado desde o início da pandemia.

Edgard Leonardo Lima: eletricidade e combustíveis vão continuar elevando inflação – Foto: Divulgação

“O fique em casa é o maior culpado da inflação. Cheguei a perder 80% do movimento dos meus postos de combustíveis no auge da pandemia, no ano passado, mas a folha salarial, as despesas com energia e os impostos não caíram”, declara o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Pernambuco (Sindicombustíveis-PE), Alfredo Pinheiro.

Para ele, o aumento do preço dos combustíveis ao longo da pandemia, referendado no IPCA de agosto com uma elevação de 2,80% no preço da gasolina, agrava a inflação porque a Petrobras detém o monopólio do petróleo no país e, sem concorrência, os preços não tem como cair. “A gasolina hoje é ruim para os postos. Já tivemos aumento de 57% mas só conseguimos repassar 44% para o consumidor. Muitos postos fechando no Recife, em Pernambuco, e no país”, afirma. 

- Publicidade -

O economista Edgard Leonardo Lima, professor do Centro Universitário Tiradentes, no Recife, dá suporte à preocupação do empresário. “Em qualquer lugar do mundo o aumento dos preços dos  combustíveis causa inflação e no Brasil, que é basicamente movido por caminhões, gastamos mais com combustível para transporte por tonelada do que os países que têm malha ferroviária e outros modais mais competitivos”, afirma. Ele acredita que em setembro, os combustíveis e a energia elétrica vão continuar puxando a inflação para cima. Mas, apesar da elevação, entre janeiro e agosto chegar a 5,67% – índice acima da meta de 3,75% definida pelo Conselho Monetário Nacional para 2021, o professor espera que a inflação não alcance os dois dígitos no encerramento do ano.

O presidente da Federação do Comércio Varejista de Pernambuco (Fecomércio-PE), Bernardo Peixoto, revela sua preocupação não apenas com o crescimento da inflação mas com sua capacidade dela contaminar os preços medidos pelo IPCA. De fato, o índice de difusão, que mostra o percentual de itens que tiveram aumento, passou de 64% em julho para 72% em agosto. “Os aumentos na gasolina e na energia elétrica reduzem o poder de compra das pessoas e isso num momento em que os serviços voltam a atrair o público, antes contido pelo isolamento social, e passam a concorrer com o consumo de bens e produtos. Não é que a gente não queira que isso aconteça porque o prestador de serviços também passa a consumir mais com a volta do seu trabalho, mas os serviços estão mais caros”, comenta Peixoto. 

Bernardo Peixoto revela preocupação dos empresários com aumento dos preços – Foto Agencia Maker Midia Divulgação

Para ele, enquanto a crise política persistir, as dificuldades no comércio e nos serviços irão continuar. “Os empresários continuam muito preocupados com a instabilidade e a inflação. Só as grandes redes do varejo estão investindo. Os pequenos e médios estão receosos, mas temos esperança de melhoras ainda este ano. Vem chegando o Dia das Crianças, a Black Friday e depois o Natal e esperamos que as vendas ultrapassem as de 2019”, diz o presidente da Fecomércio-PE.

Mais otimista, o presidente da Associação Pernambucana de Shopping Centers (Apesce), José Luiz Muniz, considera que, embora a inflação anualizada esteja em um patamar próximo dos dois dígitos, a perspectiva para os próximos meses é de controle, estabilização e até de possível redução em 2022 com a normalização da produção afetada pela pandemia nos últimos 12 meses, dos esforços da política do Banco Central e o equilíbrio de componentes internacionais. “Para o comércio, o cenário esperado para o final do ano é de manutenção do crescimento que vem sendo medido nos últimos meses e um fechamento acima do patamar do ano passado, e já acima dos números que tínhamos antes da pandemia. Acreditamos que com o avanço da vacinação e o retorno normal das atividades econômicas e sociais, a tendência é de um novo momento do comércio e da economia, de um modo geral”, afirma.

Para Edgard Leonardo, apesar do conjunto de fatores que leva ao processo inflacionário brasileiro, ainda não estamos em estagflação – quando a estagnação econômica ocorre junto com altas taxas de inflação; nem diante de uma inflação descontrolada, mas ressalta a importância de se melhorar o ambiente político para controlar a situação. “É preciso dar sinais que a economia está voltando, recuperar o grau de investimento da Standard & Poor’s para atrair investidores internacionais, e sinalizar que a economia é sólida. Elevar a taxa de juros e esperar que a inflação se estabilize no ano que vem – a tendência é ficar entre 8% e 9%. O Brasil tem que fazer tarefas de casa como valorizar mais o real perante o dólar para termos uma taxa de inflação mais equilibrada, dentro da meta determinada”, recomenda o economista.

- Publicidade -
- Publicidade -

Mais Notícias

- Publicidade -