Alagoas vem se destacando no cenário de produção de carnes que buscam reduzir ou zerar a emissão de carbono ao longo do processo produtivo. Em formato de cooperativa, a empresa alagoana Boi de Engenho é um exemplo e vem apostando na redução da emissão de carbono em suas fazendas e hoje expande o mercado de venda dos cortes para outros estados.
O debate acerca de ações que minimizem os impactos do carbono na pecuária tem ganhado cada vez mais relevância no mercado nacional e tido cada vez mais apoio para que sejam desenvolvidos protocolos e outras estratégias.
A Boi de Engenho reuniu em 2016 produtores do estado com o objetivo de produzir carne de alta qualidade e que atendessem padrões de sustentabilidade em todo o processo. Segundo o diretor financeiro da empresa, Amarílio Monteiro, a cooperativa, que reúne 12 fazendas administradas por cinco famílias de Alagoas, decidiu apostar na criação da raça europeia Angus e implementar protocolos para reduzir a emissão de carbono nas fazendas.
“Nossos animais só bebem água potável no coxo. Isso garante mais qualidade, mais peso ao animal e evita pegar doenças. O manejo nas fazendas é feito de forma racional onde existe um cuidado em não bater, nem utilizar arreios ou outros materiais nos animais. A alimentação é composta de pasto com um complemento de ração. Então ele chega ao ponto de abate mais jovem, proporcionando uma carne de qualidade”, explicou.
Nas fazendas, houve a implantação de um protocolo que realiza o sequestro do carbono por meio da pastagem, que garante melhor qualidade do boi e da carne produzida para corte.
“Somos a única do Nordeste com a certificação do Brazil Beef Quality, que é concedido por uma startup que utiliza inteligência artificial para classificação e certificação de carnes. Este trabalho é feito para garantir e padronizar a qualidade do corte que será vendido ao consumidor”, disse.
A Boi de Engenho também foi certificada pelo Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SIBI), que autorizou a comercialização em todo o Brasil. O certificado só foi possível após a indústria alcançar a garantia de oferta de segurança alimentar e procedência dos animais, fortalecendo assim a relação de proteção dos consumidores.
Hoje, a produção de Alagoas já alcançou o mercado pernambucano, com expectativa de chegar a outros estados em breve. “Por conta da alta demanda que estamos tendo, já estudamos ampliar nossa indústria em Maceió e pretendemos em breve levar nossos produtos para todo o país, que é uma carne de qualidade e que preserva o meio ambiente”, afirmou.
Alagoas avança na pecuária de baixo carbono
A preocupação para se reduzir as emissões de carbono ao longo do processo de criação de gado até se chegar com a carne na mesa do consumidor teve início em Alagoa nos idos de 2010. Naquela época, criadores implantaram a cultura do eucalipto agregado à área de pastagem para produzir celulose e promover a retirada do carbono do ambiente.
O pesquisador Roberto Giolo, da Embrapa Gado de Corte, vem acompanhando de perto esse processo. Ele destaca o interesse do governo de Alagoas e da Federação das Indústrias, por exemplo, em promover seminários, workshops e cursos que auxiliem os produtores locais a entenderem a importância de implantar estratégias mais sustentáveis no sistema agropecuário.
“Venho acompanhando o interesse de diversos estados do Nordeste sobre a agropecuária de baixa emissão de carbono e Alagoas é um estado que está à frente dos demais. Esse tema começou a ganhar força em 2010 e já estive em algumas oportunidades em anos seguintes no estado participando de eventos que reuniam produtores locais para se debater sobre o tema”, disse.
Atualmente, segundo Girolo, as iniciativas realizadas envolvem atores importantes, como a Embrapa, Sebrae, governo estadual e Federação da Indústria e estão alinhadas ao plano ABC+, do Governo Federal, que estabelece as diretrizes para uma agricultura de baixa emissão de carbono.
“A nível nacional em cada estado há comitês que se organizam para ter um plano estadual que estimula adotar tecnologias mais eficientes. Dentre elas estão os sistemas integrados, que é a temática que eu venho trabalhando, a parte de recuperação de pastagens, terminação intensiva, dentre outras e o uso de bio insumos. Alagoas está bem avançada nessas iniciativas de uma pecuária mais sustentável, a ponto de estarem mandando mais informações para o uso do protocolo, que seria, digamos, a ponta das ações”, explicou.
Amarílio, da Boi de Engenho, lembra que os custos para se produzir de forma mais sustentável são um pouco mais altos que o formato tradicional, mas o retorno tem sido positivo.
“Todo esse investimento mostra nosso empenho em fazer um manejo bem-feito, eficiente, sustentável e que agrega valor ao produto, mesmo tendo um custo maior comparado a formas tradicionais de criação. Todos os nossos produtores parceiros precisam atender aos nossos requisitos, já que quanto mais carbono conseguirmos retirar por meio do pasto, teremos uma carne com melhor qualidade. Desta forma, além de estarmos produzindo comida, contribuímos para salvar o meio ambiente”, concluiu.
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