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Suape e Pecém têm potencial de serem Hub Ports, aponta estudo

Levantamento da A&M Infra, Navarro Prado Advogados e APM Terminals avalia benefícios de portos concentradores no Brasil, destacando impactos dos Hub Ports no Nordeste e economia nacional
MSC Orion em Suape Hub Ports
O MSC Orion, da classe New Panamax e com capacidade de carregamento de 15 mil TEUs, fez escala em Suape no dia 29 de julho durante viagem inaugural de linha direta entre o Nordeste e a Ásia. Foto: Porto de Suape/Divulgação

Um estudo inédito desenvolvido pela A&M Infra, o escritório Navarro Prado Advogados e a APM Terminals aponta que a implantação de portos concentradores de carga no Brasil, os chamados Hub Ports, tem o potencial de triplicar a movimentação de transbordo de contêineres no país. Além disso, o modelo poderia reduzir em 13% os custos de transporte marítimo, trazendo benefícios significativos ao comércio exterior e à economia nacional.

Segundo o levantamento, a implementação do modelo hub-and-spoke, amplamente adotado em grandes rotas internacionais, otimizaria a logística portuária brasileira ao centralizar operações em portos com infraestrutura para receber meganavios. Esses portos atuariam como distribuidores, conectando-se a portos menores por meio de embarcações de menor porte.

No modelo hub-and-spoke, grandes navios operam em portos concentradores de carga, conectados a portos menores por embarcações de menor porte. Essa estratégia otimiza os tempos de carga e descarga e reduz custos logísticos.

De acordo com o levantamento, o uso do modelo hub-and-spoke poderia reduzir custos de transporte marítimo em até 13% em rotas entre a Costa Leste da América do Sul (ECSA) e a Ásia. Para 2030, a economia anual estimada seria de R$ 600 milhões, considerando apenas essa rota. Além disso, a redução nos tempos de conexão de contêineres em portos nacionais, atualmente entre cinco e sete dias, geraria maior eficiência e resiliência nas cadeias logísticas.

O estudo aponta que, historicamente, novas classes de navios começaram a escalar a costa brasileira somente depois de 8 a 15 anos do início de sua operação em portos na Europa.
Atualmente, essa defasagem é crescente para os navios 366m (que operam em Rotterdã, na Holanda, desde 2006), principalmente por conta de falta de infraestrutura que permita o recebimento de tais navios. Se houvesse a infraestrutura adequada, as escalas destes navios no país poderiam estar ocorrendo desde 2018.

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“A consolidação de um ou mais hub ports no Brasil significaria um acréscimo potencial de até 4,6 milhões de TEUs de transbordo, em volumes de 2023. Em comparação, o total de movimentos de transbordo realizados no Brasil foi de aproximadamente 2,4 milhões de TEUs, em 2023 – isto é, num cenário mais arrojado para a implementação da dinâmica de hub ports, o volume de transbordo no Brasil poderia triplicar”, afirma Leonardo Levy, diretor de Investimentos da APM Terminals para as Américas. “Isso significaria elevar a incidência de transbordo média dos portos brasileiros, dos atuais 18%, para algo entre 30% e 40%”, completa o executivo.

Contexto do setor portuário brasileiro

O setor de transporte marítimo de contêineres enfrenta desafios significativos no Brasil devido à falta de infraestrutura adequada para operar com meganavios. Enquanto navios de 366 metros de comprimento são comuns em portos internacionais desde 2006, no Brasil a operação ainda é limitada e celebrada como uma exceção.

O estudo indica que essa defasagem estrutural tem atrasado a modernização das operações brasileiras. Se a infraestrutura estivesse disponível, escalas regulares com meganavios poderiam ter iniciado em 2018, reduzindo custos e aumentando a competitividade das exportações nacionais.

Além disso, o levantamento revela que a movimentação média de transbordo nos portos brasileiros corresponde a apenas 18% do volume total, muito abaixo da média internacional, que varia entre 30% e 40%. A consolidação de Hub Ports poderia elevar o volume de transbordo de 2,4 milhões de TEUs, registrados em 2023, para até 4,6 milhões de TEUs no mesmo período.

MSC Jewel atraca pela primeira vez no terminal portuário cearense de Pecém. Ele é 33 metros maior que o recorde de atracação anterior.
No dia 9 de agosto deste ano, o MSC Jewel atracou pela primeira vez no terminal portuário cearense de Pecém. Ele é 33 metros maior que o recorde da embarcação anterior. Foto: Porto de Pecém/Divulgação

Portos nordestinos com potencial para Hub Ports

Entre os portos analisados, Suape (PE) e Pecém (CE) são destacados como potenciais hubs na região Nordeste. Esses complexos portuários já possuem características favoráveis, como localização estratégica para atender a rotas internacionais, potencial de expansão e integração logística.

O Porto de Suape, em Pernambuco, movimentou mais de 700 mil TEUs em 2023, consolidando-se como um dos principais complexos do Nordeste. Já Pecém, no Ceará, destaca-se pela atuação em segmentos como o transporte de carga de projetos industriais e o papel crescente em cadeias logísticas internacionais. Ambos possuem infraestrutura que pode ser ampliada para receber meganavios e atender às exigências do modelo hub-and-spoke.

No Nordeste, os supernavios começaram a operar somente no segundo semestre de 2024. Em Salvador, o navio MSC Orion com 366 metros de comprimento, calado (profundidade) de 16 metros e capacidade para transportar 15 mil TEUs, que são contêineres de 20 pés – foi o primeiro da sua classe a navegar as águas da Baía de Todos-os-Santos no dia 24 de julho. Com isso, o porto baiano tornou-se o segundo do país a a operar navios de até 366m.

Cinco dias depois, o MSC Orion atracou no Porto de Suape, marcando uma data histórica para o atracadouro pernambucano, que só concluiu em maio deste ano a dragagem do seu canal externo. Com profundidade de 20 metros, Suape agora pode recebe embarcações de grande porte, como os petroleiros Suezmax, em sua capacidade máxima. 

No dia 9 de agosto foi a vez do Porto do Pecém receber o maior navio de sua história. Com 366 metros de comprimento, o MSC Jewel atracou pela primeira vez no terminal portuário cearense. Ele é 33 metros maior que o recorde de atracação anterior. O terminal portuário possui um calado de 15,3 metros de profundidade natural.

A consolidação de um hub no Nordeste geraria benefícios significativos para as cadeias produtivas da região. Indústrias locais poderiam reduzir custos logísticos, ampliar sua competitividade e acessar novos mercados de exportação.

Benefícios econômicos e ambientais

De acordo com o estudo, o modelo hub-and-spoke poderia gerar uma economia anual de até R$ 600 milhões, considerando apenas a rota entre a Costa Leste da América do Sul e a Ásia. Além disso, a adoção de meganavios permitiria a redução de emissões de CO2, já que essas embarcações consomem menos combustível por unidade transportada.

Outro impacto positivo seria o aumento da arrecadação portuária. O Porto de Santos (SP), por exemplo, poderia incrementar suas receitas em até R$ 160 milhões por ano com o aumento das operações de transbordo, atração de novas cargas e maior utilização da infraestrutura existente.

Planejamento integrado e desafios regulatórios

Apesar dos benefícios projetados, a implementação de Hub Ports no Brasil depende de um planejamento integrado e alinhado com as demandas do setor. Segundo Lucas Navarro Prado, sócio do Navarro Prado Advogados, é essencial que o planejamento público contemple a consolidação desses portos nos instrumentos oficiais.

“É indispensável que o setor portuário brasileiro esteja preparado para implementar hubs regionais. A coordenação entre governo, operadores portuários e armadores será crucial para garantir a viabilidade do modelo”, ressalta Prado.

Além disso, o estudo sugere que ajustes na legislação portuária e incentivos fiscais podem ser necessários para atrair os investimentos bilionários exigidos para a modernização da infraestrutura.

Leia mais: Supernavio inaugura rota logística do Porto de Salvador com a Ásia

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