Em Alagoas, os coqueiros não apenas embelezam a paisagem e proporcionam sombra nos dias quentes para quem frequenta suas praias. A produção dos derivados da palmeira da espécie Cocos nucifera tem movimentado a economia, possibilitando a atração de grandes projetos para o estado. Um deles é o da empresa gaúcha Qualicoco, que está construindo um novo parque industrial no município da Barra de São Miguel e investindo mais de R$ 60 milhões em um grande projeto que deve consolidar Alagoas no “Turismo do Coco”.
A empresa possui uma unidade temporária no município de Rio Largo, onde produz óleo e coco ralado. Somente em 2023, a produção passou de 1,4 tonelada, mas com a mudança para a nova planta na Barra de São Miguel, essa produção deve dobrar.
O novo parque industrial terá uma área total de 11.000 m² e irá abrigar a produção de derivados do coco com novas linhas de produção, como coco ralado, leite e água de coco, óleo e manteiga. Segundo o gerente de marketing da empresa, Bruno Cardoso, nesta primeira fase, os investimentos serão de aproximadamente R$ 60 milhões.
“Apesar de estarmos em construção, já iniciamos a produção de coco ralado na planta da Barra de São Miguel. A nossa previsão é que as obras sejam concluídas em breve e em agosto devemos ter transferido para lá toda nossa produção”, disse.
Os planos da Qualicoco possuem outras duas etapas. Na fase 2 do projeto, a previsão é que até 2025 seja implantada uma fazenda de coqueiros para abastecer a fábrica em toda a linha de produção. Atualmente, parte da matéria-prima utilizada é importada de outros estados, já que a produção alagoana ainda não consegue suprir a demanda do mercado.
Já a fase 3, que deve acontecer até o ano de 2029, prevê que seja criada uma experiência turística, onde as pessoas poderão acompanhar toda a linha de produção e degustar alguns produtos, assim como as vinícolas oferecem passeios guiados com degustação de vinhos.
“Escolhemos Alagoas para receber todo esse projeto por acreditar no potencial produtivo e econômico, já que o estado é um dos maiores produtores à base de coco do país. Com isso, queremos tornar a Barra de São Miguel um polo de turismo do coco, onde as pessoas terão uma experiência de todo o processo do fruto até ele chegar na prateleira”, explicou Bruno Cardoso.
A Qualicoco, segundo Bruno Cardoso, possui forte presença na região Sudeste do Brasil, mas exporta produtos para toda a América do Sul, África do Sul e está em negociação para entrar no mercado norte-americano.
Do coqueiro para o mundo
Os coqueiros que originam boa parte da produção de coco que compramos no supermercado, não são originários do Brasil. A introdução dessa planta começou pela Bahia, pelos idos de 1553, vindos das ilhas de Cabo Verde, de partes da África e da Índia.
O clima tropical brasileiro favoreceu que a vegetação se espalhasse principalmente pelo litoral. Em Alagoas, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contabilizou mais de 22 mil hectares de área colhida no ano de 2022, principalmente de Gigante da Malásia (GML).
Esta variedade gigante apresenta fecundação cruzada, e crescimento rápido, sendo bastante rústico e resistente as adversidades. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a fase vegetativa é longa, iniciando o período de produção com cerca de sete anos. Os frutos são grandes, e a produção chega atingir 50-80 frutos/pé/ano. É utilizado basicamente na indústria, por apresentar copra espessa. A vida econômica do coqueiro gigante atinge 60 a 80 anos.
Boa parte das plantações do estado está localizada em regiões litorâneas. Entre os municípios de Feliz Deserto e Coruripe, no Litoral Sul do estado, a empresa Incoco produz desde 2013 diversos derivados do fruto e possui cerca de dois mil hectares próprios destinados a produção do coco, possibilitando que os processos de colher, descascar e processar o fruto dure apenas 24 horas.
A cartela de produtos abrange desde os tradicionais leites e coco ralado, até opções premium e fit, como farinha de coco e óleo extravirgem de coco. Segundo o diretor da empresa, Rodrigo Wanderley, os produtos abastecem o mercado em todos os estados brasileiros, além de China e Estados Unidos.
“Nós temos orgulho de sermos uma empresa que produz diversos produtos derivados do coco, com matéria-prima de excelente qualidade oriunda de fazendas alagoanas. Nos orgulhamos de poder levar essa qualidade para a mesa de consumidores de todo o Brasil e do exterior”, disse Rodrigo.
Outra tradicional empresa, a Sococo, está desde a década de 1960 no mercado produzindo coco ralado, leite, óleo e água de coco, além de sobremesas. Ela iniciou suas operações em Alagoas, mas no ano de 1979 expandiu seus negócios com a implantação de uma fazenda no município de Mojú, no Pará, de 20 mil hectares, com mais de 6 mil hectares de área plantada, sendo considerado o maior coqueiral da América Latina.
Em 1987, em Ananindeua, também no Pará, foi implantada a unidade de processamento industrial. Hoje, os produtos são exportados para países da América do Norte e do Sul, Europa e Oceania.
Coco que produz renda e fortalece a economia
Por ser um produto de múltiplas finalidades, o coco possui grande importância na economia alagoana e para as famílias que dependem do fruto para sobreviver. Para a secretária de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços de Alagoas (Sedics), Alice Beltrão, a produção do fruto gera empregos diretos e indiretos, beneficiando agricultores, trabalhadores rurais e empresários envolvidos em sua cadeia produtiva.
“A exportação de produtos derivados do coco, como óleo, água e polpa desidratada contribui significativamente para a economia alagoana. A demanda crescente por produtos naturais e saudáveis no mercado internacional impulsiona as exportações, gerando divisas e fortalecendo a balança comercial do estado”, disse.
Outro aspecto relevante é o impacto socioeconômico da produção de coco em comunidades locais. “Muitas famílias dependem da agricultura do coco como fonte principal de renda, promovendo inclusão social e desenvolvimento rural. O cultivo sustentável do coco também favorece a preservação ambiental, pois contribui para a manutenção de ecossistemas costeiros e áreas de manguezal”, avaliou Alice Beltrão.
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