Indústria eólica desacelera. Entenda por que isso é ruim para o Nordeste

Presidente executiva da ABEEólica, Elbia Gannoum, aponta como o setor pode se adaptar a uma nova realidade, inclusive na produção de hidrogênio verde
elbia gannoum - eólica
Presidente executiva da ABEEólica, Elbia Gannoum, diz que a desaceleração que começou a ocorrer na indústria eólica é ruim para o Nordeste, que recebeu 90% dos empreendimentos do setor. Foto: ABEEólica/Divulgação

A indústria eólica implantada no País passa por um momento de desaceleração que começou a ocorrer na metade de 2022. “Isso é péssimo para o Nordeste, porque 90% dos investimentos do setor ocorrem na região”, comenta a presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEEólica), Elbia Gannoum. Para o leitor ter uma ideia, os investimentos do setor alcançaram cerca de R$ 250 bilhões no período de 2012 a 2023, numa estimativa feita pela entidade.

O Nordeste tem mais de 90% do potencial de geração eólica do País. A desaceleração de 2023 refletiu os contratos que não foram fechados pela indústria eólica durante 2020 e 2021, porque os equipamentos deste tipo levam um tempo, geralmente, de dois anos para serem entregues. “Foi alterada uma curva que era sempre crescente. Desse modo, em 2023, foram instalados 4,8 gigawatts (GW) de eólicas. Em 2024, serão menos de 3 GW e em 2025 menos ainda. Nestes dois anos serão construídas menos eólicas do que nos anos anteriores”, afirma Elbia.

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A desaceleração da indústria eólica está ocorrendo por vários motivos. Um deles foi a redução da contratação da energia deste tipo a ser produzida para o mercado livre, aquele formado pelos usuários que consomem em alta tensão e podem escolher a quem vão comprar energia. “Os grandes clientes já migraram para o mercado livre e contrataram a energia por um período de 10 anos”, conta Elbia.

Outro motivo da desaceleração é o preço barato da energia no mercado de curto prazo, que acontece atualmente porque há um excesso de produção de energia no País. “Também está ocorrendo um aumento da geração distribuída. Ao invés de construir eólicas de grande porte, estão preferindo contratar a geração que ocorre no telhado”, argumenta Elbia. Ela estava se referindo aos sistemas de pequeno porte que geralmente produzem a energia, onde a mesma vai ser consumida.

Ao ser questionada se está ocorrendo uma desindustrialização do setor eólico no País, Elbia responde que não dá pra dizer isso. “Não vamos passar a ser importadores de equipamentos eólicos. A indústria de equipamentos para o setor vai ficar mais concentrada. Estamos trabalhando junto ao governo federal para mudar este quadro”, conta Elbia.

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Ela argumenta também que o futuro da produção de energia eólica está atrelada à política industrial que o País vai adotar. “Pode vir por aí uma nova onda de eólica offshore mais hidrogênio verde. Existem boas perspectivas desde que haja uma política industrial que contemple as energias renováveis na produção de hidrogênio verde”, explica.

Há estudos da área que apontam que o hidrogênio verde (H2V) pode ser mais barato, onde possam ser instalados empreendimentos de geração renovável competitivos que produzam uma energia pra ser usada na indústria que vai fabricar o H2V, que só é verde quando é fabricado com energia limpa. Desse modo, o Nordeste receberia mais eólicas e as futuras fábricas de H2V.

Energia eólica no Nordeste
O Nordeste tem cerca de 90% de toda a geração eólica que se instalou no Brasil. Foto: Agência Brasil

A energia eólica e o Nordeste

No mundo, o Brasil ocupa o 6º lugar na capacidade instalada de produzir energia eólica, totalizando 31 mil megawatts (MW), segundo informações da edição 34 do Infovento, de março último. Em 2012, o Brasil era o 15º país na produção de energia eólica. O aumento da produção eólica também fez com que o Nordeste passasse a produzir mais energia do que consome, passando a fornecê-la para outras regiões do país.

De toda energia injetada no sistema elétrico brasileiro, chamado Sistema Interligado Nacional (SIN), as eólicas foram responsáveis por 15,3% em 2023. Dos 31 mil megawatts de capacidade instalada, 28.887 mil megawatts se encontram no Nordeste, concentrados nos Estados do Rio Grande do Norte, Bahia, Piauí, Ceará e Pernambuco. Isso significa que o Nordeste tem 90% de toda a geração eólica do País.

Para o leitor ter uma ideia, os estados do Rio Grande do Norte e da Bahia têm em potência instalada, respectivamente, 9.936 MW e 9.715 MW. O primeiro tem 303 parques e o segundo 328. A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, com todas as suas hidrelétricas, tem uma capacidade instalada de cerca de 10 mil MW. É como se estes dois estados tivessem recebidos um parque com a mesma capacidade instalada de uma Chesf.

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