Aumentar o potencial de geração de energia renovável é um dos fatores determinantes para Pernambuco não ver o bonde do hidrogênio verde passar, segundo o CEO da H2 Verde, Luiz Piauhylino Filho. E esta geração de energia pode ser solar flutuante e implantada em 10% da lâmina de água de reservatórios como os de Itaparica, da hidrelétrica de Luiz Gonzaga que pertence à Chesf, e da Barragem de Pirapama, no Grande Recife, e futuramente na barragem do Engenho Maranhão, em Ipojuca.
As projeções acima mostrando inclusive o quanto pode ser produzido de hidrogênio verde foram feitas por Luiz Piauhylino Filho em detalhes no 9º Seminário de Energia Elétrica, Recursos Hídricos e Infraestrutura promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco na sede da instituição, na tarde desta terça-feira (17), no Bairro de Santo Amaro, Centro do Recife.
Somente 7% da geração de energia produzida em Pernambuco tem como fonte a radiação solar e a principal matéria-prima usada para gerar energia no Estado ainda é o diesel, um combustível que emite carbono, um dos gases que contribuem para o aquecimento global. “Uma das empresas que podem mudar este cenário em Pernambuco é a Chesf”, conta Piauhylino Filho. A empresa dele, a H2 Verde, está à frente de vários projetos de hidrogênio, incluindo um de produção em larga escala em Portugal. “O hidrogênio verde não é o futuro. É o presente”, diz Luiz Piauhylino Filho.
No levantamento feito pelo executivo, somente no reservatório de Itaparica, o da hidrelétrica de Luiz Gonzaga, poderia ser instalado 7 gigawatts (GW) de potência instalada em geração de energia solar flutuante e mais 5 gigawatts em eletrolisadores que poderiam produzir 341.250 toneladas de hidrogênio verde (H2V) por ano. As placas solares cobririam 10% do total da lâmina d’água. E o investimento previsto seria de R$ 70 bilhões.
A partir do hidrogênio produzido poderia ser feito o aço verde, methanol verde e amônia verde. “Este projeto do reservatório de Luiz Gonzaga (o de Itaparica) poderia trazer para Pernambuco a produção de aço sustentável e outros subprodutos, como o fertilizante verde e a amônia”, conta. Atualmente, o Brasil importa o metanol e também a amônia, matéria-prima usada para fazer um produto que o Brasil também não produz o suficiente: fertilizantes.
Já nos reservatórios de Pirapama e na futura barragem do Engenho Maranhão – que está em construção – poderiam ser implantados, em cada um, 200 megawatts (MW) de potência instalada em usinas de geração solar flutuantes que resultariam numa produção de 10 mil toneladas de H2V por ano, totalizando 20 mil toneladas anuais nos dois empreendimentos. O investimento em cada um dos reservatórios seria de R$ 2,1 bilhões. Os dois reservatórios pertencem à Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), estatal do governo de Pernambuco.
E os recursos viriam de onde ? “Dinheiro não falta. E o Brasil poderia usar o fundo social do pré-sal que vai arrecadar R$ 900 bilhões até 2030. Por que não carrear estes recursos em investimentos para esta nova indústria ?”, questiona Luiz Piauhylino Filho. Durante a apresentação no evento, ele mostrou cifras bilionárias que estão sendo empregadas por países como Estados Unidos, Alemanha, França, Japão e Arábia Saudita para implantar usinas geradoras de energia renovável e hidrogênio verde. No mundo, há muitos investidores procurando um lugar competitivo para instalar suas plantas de hidrogênio verde.
O hidrogênio pode ser obtido usando os combustíveis fósseis como matéria-prima, mas ele só é verde, quando é produzido a partir das energias renováveis.
Ainda de acordo com o executivo, a produção de hidrogênio verde passa por Suape e por melhorias na infraestrutura. “Os interiores de Pernambuco, Bahia e Piauí possuem minério de ferro, hidrelétricas (Boa Esperança, Sobradinho e Luiz Gonzaga) e fatores de geração eólica e solar bastante relevantes. Temos todas as condições para desenvolver grandes projetos de produção de hidrogênio verde e aço verde, porém, sem um ramal da Transnordestina que conecte o Porto de Suape em Pernambuco não será possível escoar o hidrogênio verde e o aço verde produzido no Estado”, resume Luiz Piauhylino Filho.
Além do ramal ferroviário, o executivo sinaliza outros itens importantíssimos para a implantação destes empreendimentos em Pernambuco: a construção de gasodutos – ligando o reservatório de Luiz Gonzaga a Salgueiro e Suape- para transportar exclusivamente o hidrogênio verde; tornar ágil o processo de licenciamento ambiental das usinas solares; a ampliação das linhas de transmissão e subestações em Salgueiro e Suape, e o direito de captação d’água para produção de hidrogênio verde, que poderia ser água de reuso tratada pela Compesa.
Desafios do hidrogênio verde no Brasil
“É fundamental ter regras claras e definidas na área do hidrogênio. Sem isso, o investimento não vem”, comenta Luiz, acrescentando que os projetos que tratam do assunto no Brasil passam por mais de 10 entidades que atuam no âmbito federal, estadual e municipal. Segundo ele, isso pode fazer com que o projeto leve até oito anos para ser aprovado em todas as instâncias. E aconselha: “deveria ter um canal que centralizasse as demandas dos investidores, uma entidade que fizesse o acompanhamento geral do projeto”. Há três anos, o Congresso Nacional discute o marco regulatório do hidrogênio verde, que não avançou.
Ele cita também como é o tratamento para o investidor abrir um empreendimento deste tipo em Portugal. “Lá,ao governo decide se o projeto vai ter o selo do Programa de Interesse Nacional (PIN). Ao receber este selo, o projeto terá prioridade no licenciamento ambiental, acesso à rede de transmissão de energia, acesso aos financiamentos direcionados para este segmento”, comenta. É uma gestão central e desburocratizada.
Os projetos de hidrogênio verde são considerados prioritários em várias partes do mundo porque o combustível é apontado como o que vai fazer a transição energética para uma economia com menos emissões de carbono.
Descarbonização e a competitividade da indústria
Também palestrante do evento, o diretor de Inovação e Tecnologia do Senai-PE, Oziel Alves, afirmou que a descarbonização da economia é uma questão de competitividade para que o mundo continue comprando os produtos da indústria nacional, como o cimento ou o aço. Ambos são intensivos no uso de energia e podem substituir o carbono usado nos seus processos industriais pelo hidrogênio verde.
“O hidrogênio verde é um vetor energético para o desenvolvimento de vários subprodutos que podem aumentar a nossa densidade industrial. O hidrogênio pode ser vendido como commodity, mas também se transformar em mais produtos de valor agregado”, argumenta Oziel. Ele está à frente do Tec Hub de transição energética, uma estrutura que vai oferecer apoio na área de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD &I) e até pequenas estruturas onde as empresas podem desenvolver seus projetos antes de implantá-los em larga escala.
A intenção do Tec Hub é contribuir para que as empresas produzam subprodutos com maior valor agregado a partir do hidrogênio verde. “Agora, está sendo feita a terraplenagem, mas a expectativa é de que em 2024 fique pronto”, conclui Oziel.
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