O Porto de Suape e o CESAR – centro de inovação baseado em Recife – firmaram uma parceria estratégica para o desenvolvimento de uma plataforma digital voltada à gestão operacional do terminal. A iniciativa, que surgiu da necessidade de modernizar os processos internos do porto, deu origem a um sistema inédito que começa a ser comercializado para outros portos brasileiros.
“Desenvolvemos uma solução digital a partir da demanda de Suape, mas com potencial de uso mais amplo”, afirma Eduardo Peixoto, CEO do CESAR. A plataforma, classificada tecnicamente como um Port Management Information System (PMIS), foi projetada para substituir antigos controles baseados em planilhas e integrar, em tempo real, informações sobre movimentação de cargas, acesso de navios e operação logística.
A solução, que recebeu investimento direto de Suape com base na Lei das Estatais (13.303/2016), foi concebida para ampliar a eficiência operacional do porto pernambucano e está sendo posicionada como produto inovador no setor logístico nacional.
Segundo Adriano Gomes, gestor do projeto no CESAR e atual responsável por sua comercialização, a autorização para oferecer a tecnologia a outros portos foi formalizada em abril de 2025, após mais de dois anos de desenvolvimento e testes. “A partir daí, intensificamos a prospecção. Já estamos em negociação com quatro portos, incluindo o maior do país, o Porto de Santos, além de dois terminais privados e um porto público do Nordeste”, destaca.
A necessidade do novo sistema surgiu diante das limitações das soluções disponíveis no mercado, que apresentavam baixa integração e não atendiam plenamente às exigências operacionais. A arquitetura desenvolvida pelo CESAR foi desenhada sob medida para Suape, mas com flexibilidade para atender terminais com perfis e desafios semelhantes.
O contrato firmado entre Suape e o CESAR prevê uma cláusula de propriedade intelectual que permite a exploração comercial da tecnologia. Com a aprovação do conselho do porto, a solução começou a ser oferecida a outros interessados. “Isso é vantajoso para todos os lados. Quando você é o único usuário de um software, arca sozinho com os custos de manutenção. Ao ampliar o uso, esses custos se diluem. Além disso, Suape terá acesso contínuo às atualizações da plataforma”, explica Peixoto.
A ferramenta é capaz de integrar diferentes sistemas utilizados por operadores logísticos, terminais e autoridades portuárias, centralizando dados sobre a chegada de navios, alocação de berços, faturamento e conformidade regulatória com órgãos como a Receita Federal e a Antaq. “Nosso diferencial é a capacidade de integração com soluções de mercado, como o N4 – utilizado pelo TECON Suape – e o sistema Porto Sem Papel, do governo federal. Isso permite automação, redução de erros e ganho de tempo”, detalha Adriano.
A solução foi colocada em operação em Suape em novembro de 2023, após 28 meses de desenvolvimento. Durante o primeiro ano, funcionou em modo espelhado com o sistema anterior, sendo adotada de forma exclusiva a partir de dezembro de 2024.
Dados preliminares da consultoria independente Graf Consulting indicam que a adoção do sistema reduziu pela metade o tempo gasto pelas equipes nas rotinas operacionais e de faturamento. “Se um processo levava 10 dias, agora leva 5. Ainda estamos avaliando outros ganhos, como a liberação mais rápida de berços e a redução de emissões de CO₂, já que os navios passam menos tempo aguardando”, complementa Gomes.
A plataforma ainda não possui nome comercial oficial e é chamada, por ora, de PMIS. O CESAR já iniciou o processo de criação e registro da marca. A expectativa é que, com a identidade definida, o produto ganhe visibilidade internacional em feiras como a Intermodal South America, onde o CESAR participou este ano no estande do Porto de Suape.
Adriano Gomes, que também atuou como gestor técnico da solução, agora lidera a frente comercial do projeto. Com experiência anterior como empreendedor, ele reforça o potencial de exportação da tecnologia, mostrando que inovação nordestina aplicada à infraestrutura pode gerar impacto real e ser replicada nacionalmente.
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