A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) assinará com a Prefeitura do Recife, nesta quinta-feira (4), um convênio inédito no país voltado à formatação de tecnologias de inovação na gestão pública. A ideia do projeto é aplicar inteligência artificial, transformação digital de estruturas de governo, indústria 4.0 e monitoramento de última geração nos dados da gestão municipal, reduzindo custos e integrando poder público e setor produtivo. Os aportes previstos no projeto chegam a R$ 2,1 milhões.
A escolha da capital pernambucana para receber a iniciativa não foi à toa. Embora já abrigasse o maior parque tecnológico do Brasil, o Recife ainda caminhava a passos lentos quando o assunto era levar esse ambiente de inovação para a gestão pública, o que começou a mudar em 2021, com a criação de uma secretaria voltada para a inovação. O passo seguinte foi a transformação do Conecta Recife, antes focado na distribuição de sinal de Wifi público, em um hub que já dispõe de mais de 800 serviços digitais acessados por aplicativo.
Foi esse ambiente de inovação na gestão pública que atraiu os olhares da ABDI. “Fomos procurados pelo prefeito João Campos e pelo Rafael [Figueiredo, secretário municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação], que nos apresentaram um conjunto de soluções inovadoras de transformação digital que a Prefeitura do Recife já desenvolve e que a gente, em parceria, poderia potencializar, encontrando mais soluções inovadoras para simplificar processos no atendimento ao cidadão. Recife é referência nesse trabalho, e inovação é uma das atribuições centrais da ABDI. Por isso, a gente está apostando nessa parceria”, explica o presidente da ABDI, Ricardo Cappelli.
Recursos serão aplicados no desenvolvimento de soluções
A maior parte dos recursos – cerca de R$ 1,1 milhão – será aportada pela agência, e o restante, pelo Executivo municipal. Cappelli explica que esse montante será aplicado no desenvolvimento de projetos, aquisição de softwares e outras ações necessárias para que, em um período determinado, possam ser entregues produtos. Como exemplo, ele cita uma situação hipotética em que, por meio de inteligência artificial, a prefeitura pudesse ter acesso a informações sobre os dias da semana em que os alunos de uma determinada escola mais faltam às aulas e cruzar com dados sobre o trânsito para, a partir disso, apresentar ações que solucionem o problema.
Hoje, o Recife já estimula que startups desenvolvam soluções para problemas a serem resolvidos pela gestão pública por meio dos Ciclos de Inovação Aberta, concursos que já tiveram duas edições desde 2022. A partir da ferramenta, foram contratados, por exemplo, projetos para reduzir as ausências de pacientes que marcaram consultas na rede municipal de saúde e para identificar falhas no asfalto com o uso de inteligência artificial. Cappelli acredita que o convênio a ser assinado vai ampliar o leque de possibilidades na cidade.
“A gente está construindo em Brasília parcerias com agências reguladoras para auxiliar na aceleração de sistemas a partir de inteligência artificial. O Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis], por exemplo, tem 73 sistemas diferentes, que não estão integrados. A gente está fazendo uma parceria para integrar esses sistemas, um estudo de modelagem e fluxos. Então, pensamos que ações dessas natureza podem ajudar muito também as prefeituras, buscando maior eficiência no setor público e o desenvolvimento da indústria do conhecimento e da inovação, com desdobramentos para outros setores”, afirma.
Ideia é replicar projeto na área de inovação em outras cidades
A assinatura do convênio vai ocorrer durante a terceira edição da Startup20, evento que será realizado até esta sexta-feira (5), no Mirante do Paço, no Bairro do Recife, por meio de uma parceria entre a Empresa Municipal de Informática (Emprel) e a Associação Brasileira de Startups (Abstartups). O fórum vai reunir diversos atores desse ecossistema, incluindo as pequenas e médias empresas com foco nas preocupações e desafios do setor.
Sobre o ambiente de inovação nas gestões públicas Brasil afora, Cappelli explica que são percebidos avanços, mas isso acontece em graus diferentes a depender de contextos locais, o que inclui até mesmo a abertura que os prefeitos dão à temática. Por isso, na avaliação do gestor, a experiência pioneira que será desenvolvida no Recife deve ser replicada para outras cidades com o objetivo de fomentar ecossistemas de inovação que se traduzam em melhoria de serviços para a população brasileira.
“Quando a gente fala de inovação, é difícil definir prazos. Nossa expectativa é ter algum produto dentro de um ano. Pode acontecer antes ou um pouco depois. O fato é que nossa intenção é que esse modelo de trabalho possa ser replicado em outras cidades”, planeja.
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