A acentuação da polarização política não passou. Prova disso, são as perspectivas do anunciado debate eleitoral aguardados para as campanhas que democraticamente levarão mais de 156 milhões de eleitoras e eleitores a escolherem prefeitos e vereadores nos seus respectivos municípios. Dentro deste cenário, o que mais preocupa é a continuidade da ameaça constante à própria democracia.
O maior exemplo no Brasil são as imagens deploráveis do dia 8 de janeiro de 2023, com o ataque de golpistas apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, que invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF).
Hoje, o país assiste aos desdobramentos da ‘Operação Lesa Pátria’, que tem o objetivo de identificar pessoas que planejaram, financiaram e incitaram os atos antidemocráticos. Concomitantemente, também existem as condenações ou solturas dos presos no fatídico dia da tentativa de golpe de estado.
Diante disso, causa preocupação um cenário eleitoral como na principal cidade do País, São Paulo, onde o ex-presidente Jair Bolsonaro deve apoiar o prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB). Na oposição, a pré-candidatura do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), que terá o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que convenceu Marta Suplicy a voltar ao PT para compor como vice a chapa do psolista.
“Será entre a figura e eu”, diz Lula, ao se referir a Bolsonaro. Um discurso que pode não condizer tanto com o slogan da reconstrução nacional à qual o Governo Federal se propõe. Diga-se de passagem que, apesar de querer o apoio de Bolsonaro e do governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), o prefeito Ricardo Nunes não pretende assumir um tom tão radical. Nunes ainda não escolheu quem será o seu vice. Aliás, essa escolha deve passar também por Bolsonaro, além do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Alguns desses nomes: Coronel Melo Araújo, da rota de São Paulo; e a delegada Raquel Gallinati.
Correndo por fora, ainda em São Paulo, a pré-candidatura da deputada federal Tabata Amaral (PSB), que tem o apoio do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), com um apelo diferente, de terceira via, que evita a nacionalização do debate. “Eleição municipal é local. Apoios ajudam, mas não são o fator decisivo”, disse Alckmin.
A própria Tabata Amaral disse que contaria com o apoio de Lula e Tarcísio de Freitas, caso fosse eleita. “polarização não deixa ônibus mais rápido”, disse ela, no lançamento de sua pré-candidatura, que pode ter como vice o apresentador José Luiz Datena (PSB). São Paulo reproduz um contexto que pode servir de espelho para outras localidades do Brasil.
Apesar de ter perdido as últimas eleições nacionais no Brasil, da tentativa criminosa e frustrada de golpe, a extrema-direita não arrefeceu as armas. Nos Estados Unidos da América, o ex-presidente Donald Trump segue na frente das prévias republicanas para se candidatar novamente à Casa Branca, carregando consigo toda a truculência que o fez perder as eleições e também de influenciar a invasão do Capitólio, após ser derrotado pelo democrata e atual presidente Joe Biden.
Em Portugal, com um forte discurso anti-imigração baseado em informações falsas, o Chega, presidido pelo deputado André Ventura, concorrente ao cargo de primeiro-ministro, propala um discurso sobre a imigração ser um custo para a Segurança Social pode iludir eleitores que desconhecem os fatos. André Ventura, por exemplo, enxerga Lula com os mesmos olhos que o bolsonarismo: “Lula é, na nossa perspectiva e na perspectiva de qualquer cidadão de centro-direita ou de direita, o pior que a política representa”.
Na Holanda, Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade (PVV), ficou em primeiro lugar nas eleições legislativas de novembro passado, com 23% dos votos. Anti-semita, anti-europeísta, Geert Wilders busca apoio parlamentar para assegurar sua nova função. Como é exigido no sistema político-eleitoral holandês, ele precisa de 76 assentos dos 150 deputados para ser primeiro-ministro. Nessas eleições, seu partido conquistou 37 cadeiras, mas Wilders negocia para chegar ao objetivo.
Na Argentina, os vizinhos elegeram Javier Milei, que vem representando a extrema-direita e espalhando uma das maiores crises econômicas da história daquele País.
Parece inevitável, mas a nacionalização do discurso político nas eleições municipais brasileiras continuam trazendo um conteúdo político dentro desse contexto de polarização, onde seguidores de uma extrema-direita que flerta com o fascismo permanecem insistentes com seus ideais depois de reacenderem o ímpeto e chegarem ao poder no Brasil, em 2018.
Do outro lado, existe o conflito da parte de um centro-esquerda, esquerda moderada e esquerda radical,
que tentam impedir, outra vez, que essa ascensão conquiste seus objetivos novamente. Porém, desta vez, com um diferencial, que já está sendo utilizado nas suas respectivas estratégias e propagandas políticas porque já sabem que tipo de governo essa extrema-direita pode proporcionar, como na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, hoje inelegível.
No Brasil, ainda existe um centro, que geralmente negocia seu apoio em troca de benefícios financeiros, como acontece no Congresso Nacional, com as emendas parlamentares.
Portanto, não se trata de direita ou esquerda. O ponto é o extremismo para qualquer lado da balança, que pode fragilizar a democracia. Por isso, o termômetro eleitoral de 2024 pode acenar para qual direção o País estará rumando nas próximas eleições presidenciais, marcadas para 2026.
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