O posicionamento do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que defendeu um maior protagonismo político e econômico das regiões Sul e Sudeste sobre o Norte e Nordeste gerou um conflito de ordem nacional entre os estados envolvidos. Ao comparar as regiões, em entrevista concedidas ao Estado de São Paulo, Zema declarou que Norte e Nordeste seriam ‘vaquinhas que produzem pouco’, que estariam sendo beneficiadas em detrimento dos estados das regiões que ‘produzem muito’.
O presidente do Consórcio Nordeste e governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), publicou uma carta aberta afirmando que Zema “demonstra uma leitura preocupante do Brasil”. “Ao defender o protagonismo do Sul e do Sudeste, indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, sabidamente regiões que vêm sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento”, diz um trecho da carta.
O Consórcio Nordeste também manifestou apoio também aos estados componentes do Amazônia Legal, que segundo o grupo, ‘foram criados com o objetivo de fortalecer essas regiões’. “Negando qualquer tipo de lampejo separatista, o Consórcio Nordeste imediatamente anuncia em seu slogan que é uma expressão de ‘O Brasil que cresce unido’. Enquanto Norte e Nordeste apostam no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a referida entrevista parece aprofundar a lógica subalterno, dividido e desigual”.
Leia a nota oficial do Consórcio Nordeste na íntegra:
O governador de Minas Gerais também é um potencial presidenciável, mas a postura dele parece não ter sido a mais indicada para quem tem interesse em disputar o cargo de presidente da República nas eleições de 2026.
Para o cientista político, Adriano Oliveira, a estratégia adotada por Romeu Zema foi equivocada. “A estratégia segue equivocada, porque não é a primeira vez que ele ataca a região. Ele deve saber, junto com sua assessoria, que um dos motivos da derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi a desidratação que o governo dele teve com o Nordeste”, disse.
“Não adianta apostar que uma candidatura de Zema ganharia em vários estados, assim como Bolsonaro ganhou na região Sul e Sudeste, mas perderia no Nordeste. Então, o discurso de Zema deve ser um discurso eleitoralmente agregador. Além disso, como as instituições estão enfrentando fortemente o bolsonarismo, ele não pode, neste instante, provocar uma desagregação regional”, pontou Oliveira.
Para o cientista, Zema deveria seguir na mesma direção dos governadores do Nordeste que rebateram pedindo unidade. “Ao contrário, ele deve trazer no seu discurso a união, a superação dos desafios do Brasil conjuntamente. Portanto, ele comete um grande equívoco”, completou.
Já a cientista política Priscila Lapa contextualizou que nos últimos anos o Brasil teve uma acentuação de um discurso que legitima as desigualdades, aspectos como meritocracia e outras questões ideológicas. “Isso fica como um legado do bolsonarismo. Não foi Bolsonaro, definitivamente, que criou, e essa direita que o acompanhou, que criou esses processos, mas legitimou. Quando um presidente da república se sentia autorizado, ocupando o posto, falando enquanto chefe de estado, a propagar certas posturas ligadas às relações sociais, então é como se você criasse um efeito de uma reação em cadeia, e vários outros atores se sentem agora confortáveis e legitimados até a mesma postura”, alertou.
Priscila Lapa considerou os processos históricos brasileiros não podem ser resolvidos por meio de ‘simplismo interpretativo’. “O que choca no fato atual é vir de alguém que se coloca como representante de uma nova classe política, de um novo conjunto de ideias, alguém que se colocou na política no sentido de um rompimento com alguns padrões do nosso sistema tradicional”, ponderou.
“Não é possível mais pensar o desenvolvimento deixando para trás quem não tem os mesmos indicadores, muito pelo contrário. Já se entendeu que a lógica econômica, inclusive olhando estritamente, se você quiser olhar só com as lentes da economia, não faz sentido nenhum você imaginar legitimação desse tipo de coisa”, analisou Priscila Lapa.
A cientista política ainda considerou positiva o posicionamento do Consórcio Nordeste. “A gente espera que o Consórcio Nordeste tenha uma atuação muito incisiva no combate a esse tipo de postura, inclusive com práticas que possam reverberar isso, trazendo pleitos para governos, unindo os governadores em agendas comuns e mostrando que o Nordeste, além dos seus desafios, também é uma região de oportunidades”, disse.
Alguns políticos também se posicionaram contra Zema nas redes sociais:
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