Veja a repercussão em PE dos atos antidemocráticos ocorridos em Brasília

Os ataques ocorreram na noite da segunda-feira (12), foram controlados, mas ninguém foi preso.  
Foto: Reprodução do Instagram

A cientista política pernambucana Priscila Lapa estava em Brasília a trabalho quando manifestantes de extrema direita tentaram invadir a sede da superintendência da Polícia Federal, em Brasília, na noite da última segunda-feira (12). Ao Movimento Econômico (ME), Lapa conta que presenciou “bloqueios policiais, caos no trânsito, ônibus e carros incendiados, barulhos de bombas, muita fumaça e grupos de pessoas de preto, verde e amarelo (muitas com a foto de Bolsonaro), alguns com rosto coberto e armados com paus, andando em bandos, impedindo carros de passarem, gritando ‘guerra civil’. Quando percebiam estarem sendo fotografados ou filmados, partiam para cima”, disse Priscila. 

A cientista política também viu vândalos tentando invadir o hotel onde está hospedado o presidente eleito, Luís Inácio da Silva, Lula. Na avaliação de Priscila, o que estes fatos lhe causam “é a visão de um país acuado pela onda de violência, em que parece haver pouca disposição para ceder. Quanto mais as instituições agem, mais respostas violentas. É uma queda de braço que precisa de um fim. Mas não tenho dúvidas de que precisamos de instituições fortalecidas. Não se combate a tentativa de invasão da sede da Polícia Federal sem uma ação incisiva”, avaliou a especialista.

- Publicidade -

Na visão da cientista política, comparações entre as atitudes de cada grupo político são infrutíferas. “Não adianta também fazer generalizações de que lado x ou y é mais violento. Há minorias radicais, com táticas terroristas, que ameaçam o estado de direito e que devem ser identificadas e punidas”, complementa.

Ao UOL, o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Júlio Danilo, afirmou que uma parcela dos autores dos ataques de vandalismo na noite desta segunda-feira, 12, em Brasília, também faz parte de um acampamento que se alojou em frente ao Quartel General do Exército. Ainda segundo ele, a permanência deles no QG será reavalia. Apesar da sinalização de que o acampamento pode ser desmontado, Júlio Danilo admite que a ação das polícias do DF tem uma limitação: “Esse acampamento se encontra em uma área militar, sob jurisdição militar, e todo ato de atuação e intervenção tem que ser em coordenação com as Forças Armadas, no caso lá o Comando do Exército”. Danilo afirmou que os militares “têm colaborado e têm tentado organizar”.

“Ataque à democracia”

O deputado federal pernambucano reeleito, Carlos Veras (PT-PE), questionou a lentidão das forças de segurança do Distrito Federal para intervir e controlar a situação. “Cadê as forças de segurança? Cadê medidas efetivas e urgentes do Governo do Distrito Federal e do Ministério da Justiça? Vão deixar ‘meia dúzia’ de terroristas implantarem o caos no centro da capital da República!?”, questionou o parlamentar. 

- Publicidade -

“Não acredito que isso tenha impacto econômico, pois o mercado e setor empresarial sabem que o país caminha para um processo de crescimento e melhoria da condição do país. Mas, o mundo inteiro vê isso como um ataque à democracia, promovido por grupos organizados que não respeitam o resultado das eleições”, disse o deputado ao ME. 

Sobre o fato de ninguém ter sido preso, Veras demonstra estranheza e diz que, em seus tempos de sindicalista, “só de a gente se aproximar de algum órgão do governo, a polícia chegava atirando em jovens, mulheres, imagine com essa turma tocando fogo em ônibus. Não podem tratar esses atos terroristas de ataque à democracia dessa forma, com complacência”, disse o deputado.

Já o senador Humberto Costa (PT-PE) usou suas redes sociais para dizer que os atos em questão “mostram a quantidade de criminosos que há disfarçados de patriotas” e merecem ser “combatidos com rigor e responder na justiça pelos crimes praticados”. 

Repercussão nas redes sociais

O deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil – SP) também usou seu Twitter para criticar as ações violentas em Brasília, às quais se referiu como “algumas centenas de malucos, incentivados por playboys golpistas que assistem ao caos vestindo sunguinha do Mickey”. 

Por sua vez, a deputada estadual de São Paulo, Janaína Paschoal (PTRB), afirmou que “juridicamente, NADA pode ser feito para impedir a posse do presidente diplomado ontem”. Dirigindo-se aos apoiadores de Bolsonaro como “amados”, a deputada ainda disse que “ao seguirem com essa ilusão coletiva, vocês só conseguirão problemas, seja por atos praticados por uma minoria, seja por armações de infiltrados. Não importa! Manifestações só fazem sentido, quando há alguma chance de alcançar o almejado. O presidente Bolsonaro não pode fazer nada, mas jamais terá coragem de dizer isso com todas as letras para vocês. Acordem!”. 

Entenda o caso

O ataque à sede da Polícia Federal, em Brasília aconteceu logo após a prisão do indígena bolsonarista José Acácio Serere Xavante, decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, sob a acusação de incitar e convocar atos de vandalismo que põem em risco a segurança das instituições democráticas brasileiras. 

As ações violentas ocorreram horas depois da diplomação do presidente eleito e deixaram em alerta a classe política e potenciais investidores. Durante coletiva de imprensa, o governador do Maranhão e já anunciado futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, condenou a ação violenta e declarou que o “Governo federal segue omisso diante dessa situação grave absurda. Nós não temos ainda a caneta na mão, estou falando com Ibaneis (governador do DF), Andrei [Passos, futuro diretor da PF] com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, mas o governo federal precisa dar respostas”, declarou. Ele também alega não ter conversado com membros do atual governo, declarando que “não falo com golpista”.

Quem é José Acácio Serere Xavante?

O indígena e pastor evangélico José Acácio Serere Xavante, conhecido como Cacique Serere, tem 42 anos, nasceu no Mato Grosso (MT) e é líder da Terra Indígena Parabubure. É sócio do Instituto de Promoção Educacional e Social do Araguaia e da Associação Indígena Bruno Omore Dumhiwe e é fundador da instituição religiosa Missão Tsihorira & Pahoriware – Mitsipe.

Serere é filiado ao Patriota, partido pelo qual concorreu ao cargo de prefeito de Campinápolis (MT) em 2020, mas não conseguiu eleger-se. Engajado politicamente a favor do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), usa suas redes sociais para articular atos contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

No mês passado, postou em suas páginas a seguinte mensagem: “Lula não foi eleito, TSE roubou os votos para Lula, houve crime eleitoral, violaram a urna de votação. O ministro Alexandre de Moraes é bandido e ladrão”.

Numa ocasião em que esteve no Palácio da Alvorada, no momento em que Bolsonaro apareceu para cumprimentar seus apoiadores do lado de fora, o indígena provocou-o:  “Não entregue o cargo da Presidência do País”. Também em Brasília, durante um ato pró-Bolsonaro ocorrido num shopping, o indígena chamou o ministro do STF Alexandre de Moraes de “marginal” e “vagabundo” e fez uma denúncia sem provas contra o Supremo: “houve fraudes, nós exigimos a anulação dessa eleição ou vai acontecer aqui uma guerra civil. Vamos detonar esse povo bandido do STF”, bradou.

Diante disso, a prisão temporária de Serere Xavante foi pedida pela Procuradoria Geral da República e determinada pelo STF pelo prazo de 10 dias. Na decisão, o tribunal justifica que “a restrição da liberdade do investigado, com a decretação da prisão temporária, é a única medida capaz de garantir a higidez da investigação”.

Leia também: Manifestantes tentam invadir sede da PF e queimam veículos no DF

- Publicidade -
- Publicidade -

Mais Notícias

- Publicidade -