Liquidez Global: Guias, Volatilidade e Caixa de Ferramentas, por José Carlos Cavalcanti

Os transbordamentos internacionais da política monetária e de sentimento de risco através da liquidez global evolui em resposta à regulação.
José Carlos Cavalcanti
José Carlos Cavalcanti/Foto: divulgação

Ao tempo em estávamos produzindo a newsletter da semana passada, tomamos conhecimento da existência dos trabalhos da economista Linda Goldberg, do Federal Reserve Bank of New York (Banco Central dos EUA, em Nova York). Esta profissional vem, já há algum tempo, desenvolvendo trabalhos relacionados com o conceito de Liquidez Global, e nesta newsletter damos atenção a um trabalho em particular (e que dá o seu título): “Global Liquidity: Drivers, Volatility and Toolkits”, de junho de 2023.

Segundo Goldberg, a Liquidez Global se refere aos volumes de fluxos financeiros – largamente intermediados através de bancos e instituições financeiras não-bancárias – que podem se mover transfronteiras a relatively high frequencies (frequências relativamente altas). A amplitude das respostas às condições globais, tais como sentiment risk (sentimento de risco), discutidos no contexto do ciclo financeiro global, depende das características e vulnerabilidades das instituições que ofertam fluxos de fundos.

De acordo com a autora, a evidência através de enfoques empíricos, e usando dados granulares, provê lições relevantes para a definição de políticas. Os transbordamentos internacionais da política monetária e de sentimento de risco através da liquidez global evolui em resposta à regulação, às características das instituições financeiras, e às ações de instituições oficiais em torno da oferta de liquidez.

Logo, como indicado pela autora, políticas prudenciais nos países de bancos globais e de facilidades oficiais reduzem as distorções em funding (financiamento) durante eventos de stress (tais como o da Grande Crise Financeira e 2007 e o da Covid 19). Desafios de políticas específicos de países, sumarizados por trilemas monetários e financeiros, são parcialmente aliviados. No entanto, a migração do risco ao longo de tipos de intermediários financeiros sublinha a importância de avançar agendas regulatórias com instituições financeiras não bancárias.

Cabe-nos apontar o que seriam os trilemas monetários e financeiros acima referidos. O conhecido Trilema Monetário mostrado na Figura 1 à frente aponta para a incompatibilidade de três características econômicas: ter autonomia de política monetária, mantendo taxas de câmbio fixas, e tendo fluxos de capital internacional livres e abertos. Goldberg relembra ainda autores que apontam para extensivas incompatibilidades domésticas em um mundo globalizado. Um exemplo de tais incompatibilidades é capturado pelo Trilema Financeiro. Ele traz para o foco os nós de conflito na cena da estabilidade financeira internacional magnificado pelo substantivo crescimento nas décadas recentes do financiamento transfronteiras. Neste caso, os três nós mutuamente incompatíveis são: estabilidade financeira, não intervenção em fluxos financeiros transfronteiras, e controle nacional sobre supervisão financeira e regulação (visualizado também na Figura 1 à frente).

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Figura josé Carlos Cavancanti
Figura 1

Desta forma, três lições são avançadas pela autora. Primeiramente, políticas prudenciais, supervisão efetiva e facilidades de liquidez a partir dos países fontes de liquidez global amortecem o ciclo financeiro global. Em segundo lugar, o acesso à liquidez organizacional interna e à liquidez do setor oficial pode baixar a amplitude da resposta de liquidez global a eventos de stress. E, finalmente, a migração de risco impõe desafios para moderar a amplitude dos fluxos de liquidez global.

E por que é importante entender como a Liquidez Global se manifesta? Como pode ser extraído deste e de outros trabalhos relacionados, os esforços de pesquisa trazem luzes para a compreensão de como importantes mecanismos envolvidos na transmissão e amplificação de choques (tais como a Grande Crise Financeira de 2007 e o da Covid 19) podem ocorrer ao longo de tipos específicos de instituições. Entender tais mecanismos é crucial para antecipação de políticas e ferramentas para atenuação dos seus impactos negativos, o que é crucial para países em desenvolvimento como o Brasil!

*José Carlos Cavalcanti é economista e professor da UFPE

Leia também:

José Carlos Cavalcanti: The Shadow Banking System (O Sistema Bancário Sombra) (1)

José Carlos Cavalcanti: The Shadow Banking System (O Sistema Bancário Sombra) (2)

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