Nos artigos anteriores de 26-06-2023 e de 03-07-2023 tratamos sobre o termo Shadow Banking System (Sistema Bancário Sombra), desenvolvido a partir dos EUA, apontando sua maior visibilidade com a Grande Crise Financeira de 2007/09, e indicando sua origem, evolução e importância. Mas o que o shadow banking system representa hoje para o sistema bancário norte-americano, e para o sistema bancário global?
O Financial Stability Board – FSB, uma organização de autoridades supervisoras financeiras de grandes economias e instituições financeiras internacionais, com sede na Suíça, desenvolveu uma ampla definição dos shadow banks que inclui todas as entidades fora do sistema bancário regulado que desempenham o centro da função bancária: intermediação (ou seja, pegar dinheiro de poupadores e emprestá-lo a tomadores de empréstimo). E os quatro aspectos chave da intermediação assinalados são:
● transformação de maturidade: obter fundos de curto prazo para investir em ativos de longo prazo;
● transformação de liquidez: um conceito similar ao de transformação de maturidade que envolve usar passivos como cash (dinheiro) para comprar ativos difíceis de vender, tais como empréstimos;
● alavancagem: empregar técnicas tais como tomar moeda emprestada para comprar ativos fixos para magnificar os ganhos potenciais (ou perdas) em um investimento;
● transferência de risco de crédito: pegar o risco de um devedor inadimplente e transferi-lo do originador do empréstimo para um outro agente.
Em um de seus mais recentes relatórios, o FSB avaliou as tendências globais no “non-bank financial intermediation sector” – NBFI (setor de intermediação financeira não bancária), como foi reconhecido o shadow banking, para o ano de 2021, cobrindo 29 jurisdições que representam 80% do PIB global. Segundo o FSB o setor NBFI cresceu 8,9%, um crescimento maior do que seu crescimento médio de cinco anos de 6,6%, sua participação nos ativos financeiros globais ficou estável, em 49,2%, perfazendo um total de US 239,3 trilhões, como apontado na Figura 1 a seguir.
Em termos substantivos, o shadow banking system, mesmo depois do tombo que sofreu na crise de 2007/09, representa atualmente quase metade dos ativos financeiros globais, apesar das estimativas do seu efetivo tamanho permanecerem difíceis de serem obtidas. O shadow banking system dos EUA, por sua origem, parece ser o maior deles, apesar da intermediação não bancária do crédito estar presente em outros países, como aponta um dos mais recentes relatórios do European Systemic Risk Board (ESRB).
Como argumentado em artigo do Banco Central Europeu, a estrutura de financiamento da economia, e da economia da zona do euro em particular, evoluiu desde a crise financeira global com a non-bank financial intermediation assumindo um papel mais proeminente. Esta mudança afeta os mecanismos de transmissão da política monetária. Comparado com bancos, os non-bank financial intermediaries são mais responsivos às medidas de política monetária que influenciam taxas de juros de longo prazo, tais como compras de ativos. O crescente papel dos títulos de dívida na estrutura de financiamento das empresas também leva a transmissões mais fortes dos choques de taxas longas. Ao mesmo tempo, taxas de políticas de curto prazo permanecem como uma ferramenta efetiva para guiar resultados econômicos na zona do euro, os quais ainda são muito dependentes de empréstimos bancários.
No momento em que o artigo acima foi publicado, o mundo ainda vivenciava um ambiente de baixas taxas de juros, onde o texto assinalava que o crescimento das finanças baseadas em mercado tinha sido acompanhado pelo crescimento do crédito, da liquidez e da duração do risco no setor não bancário. De lá para cá o ambiente mudou, e passamos a conviver com taxas de juros mais elevadas, quando comparadas com a média de décadas passadas.
De toda forma, é impossível negar o papel do shadow banking system global na estrutura de financiamento da economia, e entender as mutantes nuances do “financial plumbing” (encanamento financeiro – tema que tratamos na newsletter de 20-02-2023) resultante, é o desafio que prevalece!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre o “shadow banking system”, não hesite em nos contatar”!
*José Carlos Cavalcanti é economista e professor da UFPE
Leia também:
José Carlos Cavalcanti: The Shadow Banking System (O Sistema Bancário Sombra) (1)
José Carlos Cavalcanti: The Shadow Banking System (O Sistema Bancário Sombra) (2)