Gilberto Freyre Neto: Pernambuco e Alemanha, uma fraternidade incompreendida

Os alemães sempre fizeram o exercício da construção de pontes e nós ficamos aqui, esperando as andorinhas.
Gilberto Freire Neto
Gilberto Freyre Neto

Por Gilberto Freyre Neto*

No último início de abril, o Business Lunch do LIDE-PE contou com a brilhante e verdadeira apresentação do Cônsul-geral da Alemanha no Recife, o Sr. Johannes Bloos, sobre as oportunidades de negócios entre o nordeste brasileiro e uma das mais pujantes economias do mundo.

- Publicidade -

Não há nenhuma novidade nos interesses alemães em Pernambuco. Ponto geodésico e geopolítico centrado no saliente nordestino, desde Mauricio de Nassau e seus cientistas que Pernambuco foi coroado como pilar dos interesses europeus no novo território produtivo. O que antes era açúcar, hoje parece ser hidrogênio verde, fruto da escassez do gás natural russo.

Os alemães parecem falar claramente quando demonstram os seus interesses, mas parece que não compreendemos nem mesmo quando eles falam em bom português. Foi assim quando Guilherme Piso – holandês – e George Marcgraf – alemão – publicaram o seu História Natural Brasileira de 1648, o primeiro tratado médico-científico publicado sobre as Américas, e continua nos dias de hoje.

A Alemanha mantém a inovação como sua principal commodity, investindo mais de 3% do seu PIB em Pesquisa e Desenvolvimento para o campo industrial. Ecossistema tecno-científico que a posiciona como um dos países que mais registra patentes e invenções no mundo. Essa mesma Alemanha, reinventada no pós-guerra e no pós-unificação reaprendeu a exportar. A grande maioria de suas empresas é exportadora, 97% são pequenas e médias, com forte base familiar e gerando ¼ dos seus empregos diretos e indiretos.

- Publicidade -

Alemanha, grande investidor

Parceiros históricos, a Alemanha é um dos maiores investidores diretos no Brasil, com estoque de investimentos maior que 100 bilhões de reais, se mantendo como o 4º maior parceiro comercial bilateral com saldo de balança superior a 22 bilhões de euros anuais (2022), positivo em mais de 3 bilhões de euros aos germânicos.

Comungando com o nosso país valores democráticos e culturais, essa relação quase-afetiva fortalece uma sólida cooperação nas relações geopolíticas, principalmente em questões relacionadas à energia, meio-ambiente, clima, ciência e cultural, economia e comercio, defesa e direitos humanos, sendo o Brasil, um dos oitos países – o único na América Latina – com o qual a Alemanha estabelece consultas governamentais regulares.

Mas mesmo com esse dinamismo econômico, Pernambuco é apenas o 13º parceiro comercial alemão no Brasil. Nos resumimos à importações de produtos químicos para a indústria de tintas, peças e componentes para o setor automotivo na planta de Goiana e à exportação de alumínio laminado, combustíveis para aviação, frutas do Vale do São Francisco, e cachaça pernambucana, consolidando a Pitú de Vitória de Santo Antão como a maior exportadora nacional. Não há nenhum exercício empresarial para fortalecer a atração de investimentos alemães em Pernambuco, nem mesmo para o turismo, considerando que metade dos turistas alemães na América Latina, visitam o Caribe e suas praias, e apenas 15%, o Brasil.

É uma fraternidade verdadeiramente incompreendida pelos pernambucanos. Os alemães sempre fizeram o exercício da construção de pontes e nós ficamos aqui, esperando as andorinhas.

*Gilberto Freyre Neto é Ex-secretário de Cultura do Estado de Pernambuco no Governo Paulo Câmara e Membro do Comitê de Internacionalização

Leia também:

Gilberto Freyre Neto: Um novo banco para um novo modelo de desenvolvimento

Marcelo Simões: Como se preparar frente a um novo cenário fiscal?

José Carlos Cavalcanti: Inflação é um fenômeno monetário ou fiscal? Ambos, mas não somente!

- Publicidade -
- Publicidade -

Mais Notícias

- Publicidade -