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Valdeci Monteiro: Os ciclos econômicos recentes da Economia de Pernambuco

Neste artigo, o economista Valdeci Monteiro faz um retrospecto da economia de Pernambuco e aponta um novo ciclo de expansão.

O estado de Pernambuco, após um ambiente econômico de grandes dificuldades nas duas décadas finais do século XX – vinha de um crescimento de 8,35% ao ano na década de 1970; retraiu, entre 1985 e 1990, para 2,5% a.a. e na década de 1990, para 0,7%a.a – passou a apresentar um novo ciclo de dinamismo e de transformações relevantes na sua base produtiva.

Valdeci Monteiro
Valdeci Monteiro dos Santos, é economista

Este ciclo ocorreu entre 2004 e 2014 e contemplou dois períodos: o primeiro, entre 2004 e 2007, foi acionado a partir da expansão do mercado interno e da melhoria geral do padrão de consumo brasileiro, no contexto de um ambiente internacional favorável. Pernambuco cresceu nestes quatro anos, 4,9% a.a., já o Brasil registrou uma taxa de 6,1% a.a. Foi um período de expansão dos serviços pessoais; da construção civil; da fabricação de bens de consumo básicos como alimentos, bebidas, roupas; e do comércio varejista, este chegando a apresentar aumento de 14% nas vendas em 2005 (PMC–IBGE).

No segundo, de 2007 a 2014, a economia estadual foi impulsionada, em especial, pelos investimentos na implantação de empreendimentos produtivos e em obras de infraestrutura. O crescimento nessa fase foi de 4,1 %a.a. contra 3,5%a.a. do Brasil, ressaltando o dinamismo da construção civil, com 5,9%a.a. (Contas Regionais, IBGE). Os reflexos deste dinamismo foram sentidos no aumento dos empregos formais e no rendimento do trabalho. Para se ter uma ideia, os empregos formais da construção civil cresceram num ritmo de 8,2% a.a. (RAIS-MTE).

Jeep
Fábrica da Jeep em Goiana, integra o Grupo Stellantis, resultado da fusão da Fiat Chrysler e Peugeot Citroen – FOTO/Divulgação

Significativas mudanças ocorreram na estrutura produtiva estadual neste segundo ciclo: (a) a vinda de grandes grupos empresariais, de diversos segmentos industriais, como FIAT-Chrysler, Kraft Foods, Sadia, Pepsico, Novartis, Hemobrás, IMPSA, Estaleiros Atlântico Sul e Vard Promar, Bünge, entre outros; (b) o surgimento de novas atividades industriais, como as indústrias de petróleo e gás, de construção naval, automobilística, farmoquímica e de fabricação de equipamentos e materiais para a energia eólica; (c) a reestruturação de segmentos tradicionais, como o de produtos alimentares e bebidas, metalmecânica, têxtil, material elétrico; (d) a consolidação das atividades de serviços na base econômica estadual, salientando os serviços prestados às empresas, como a logística e a área de tecnologia da informação e comunicação (TIC).

Assim como, o varejo moderno, os serviços ligados ao turismo e à produção cultural, com desdobramentos na chamada “economia criativa, os serviços de educação e os serviços de saúde; (e) a reorganização da base agropecuária, com o avanço de atividades ligadas à produção de energia na antiga base canavieira, a consolidação de cadeias importantes como a da avicultura (no Agreste) e da ovinocaprinocultura e fruticultura (no Sertão); e (f) o avanço da produção de energia eólica.

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Do ponto de vista territorial, o período evidenciou o reforço da concentração dos investimentos industriais e de infraestrutura na Região Metropolitana do Recife, sobretudo por conta do Complexo Industrial e Portuário de Suape; mas, ao mesmo tempo, o relevante processo de interiorização do desenvolvimento estadual, constado pela implantação de novos empreendimentos, a exemplo da montadora FIAT-JEEP, no município de Goiana, e de diversas outras indústrias localizadas em Igarassu, Itapissuma, Caruaru, Vitória de Santo Antão, Glória do Goitá e Petrolina.

No entanto, a partir de 2015 verifica-se em Pernambuco a reversão de ciclo, ocorrendo, em 2015 e 2016, taxas negativas, respectivamente, de -4,2% e -2,9%, resultante do efeito de um contexto de crise econômica e de instabilidade política nacional que provocou um forte freio nas decisões de investir e nos aportes de financiamento e incentivos. Vale lembrar que estes anos coincidem com a etapa, já prevista, de finalização de grandes obras como as da Refinaria Abreu e Lima e do Estaleiro Atlântico Sul (ambas em Suape), que naturalmente levaram à diminuição dos empregos e dos investimentos em curso; e, por conseguinte, diminuição do ritmo de crescimento, para posterior retomada sustentável, puxada pela maturação dos novos empreendimentos produtivos.

Nos três anos seguintes percebe-se discreta reação das economias brasileira e pernambucana: em 2017 (1,3% e 2,1%); 2018 (1,8 e 1,9%); e 2019 (1,2% e 1,1%). No entanto, o ambiente da pandemia pela Covid 19, deflagrado em escala global a partir de 2020, acabou tendo reflexos relevantes no estado, resultando em forte retração da demanda e da oferta. O Produto Interno Bruto (PIB) estadual resistiu mais que a média do Brasil às adversidades de 2020, mas não escapou de registrar taxa negativa de -2,9% (Agência Condepe-Fidem), enquanto a do Brasil foi de -3,9.

Assim, configurou-se, entre 2015 e 2020, ciclo negativo da dinâmica econômica pernambucana, cujos efeitos foram especialmente observados no mercado de trabalho. Neste período, o emprego total formal em Pernambuco apresentou retração do ritmo da ordem de -2,4% ao ano (frente à expansão de 5,4% a.a. de 2002 a 2014), sendo notadamente afetados os empregos na construção civil, onde ocorreu queda de 117,5 mil em 2014 para 55,2 mil em 2020.

Há sinais de recuperação de Pernambuco em 2021, com um crescimento do PIB de 4,2% (próximo ao desempenho do país de 4,6%), embalado pela volta gradual das atividades econômicas, em especial o comércio e os serviços, num contexto de diminuição da pandemia; que se estende para os primeiros meses de 2022, através, por exemplo, da expansão do Índice de Atividade Econômica de Pernambuco de 0,6%, no segundo trimestre do ano em relação ao anterior (Boletim Regional do Banco Central divulgado em agosto de 2022).

Não obstante, é cedo para se dizer que a partir de 2021 Pernambuco retomou o ciclo expansivo. A conjuntura econômica nacional em curso, imersa em muita incerteza, com inflação ainda candente – sobretudo nos preços dos alimentos – e taxas de juros elevadas, com forte grau de endividamento das famílias; e sobretudo, o quadro ainda preocupante do mercado de trabalho estadual. Entre abril e junho deste ano, 13,6% da população estava desempregada e tínhamos a segunda pior taxa entre os estados, só perdendo para a Bahia. Já o rendimento médio real dos pernambucanos de R$ 1.740 no primeiro semestre de 2022, representou a perda de 12,8% em comparação com o segundo semestre de 2021.

Aguardemos até o final do ano para ver como vai se comportar a economia de Pernambuco, atentos aos desdobramentos da macroeconomia brasileira, aos resultados das eleições nacionais e estaduais e à capacidade endógena do estado de promover a retomada do seu desenvolvimento e de reverter o quadro negativo de seu mercado de trabalho e, sobretudo, dos níveis de miséria.

Potencial local existe para a recuperação: o Complexo Portuário e Industrial de Suape, por exemplo, é um grande trunfo e já sinaliza para importantes investimentos e potencial efeito de adensamento de cadeias produtivas relevantes; assim como, segmentos como o de TIC, projetam demanda crescente por mão de obra especializada e capacidade de difusão de inovação.


Valdeci Monteiro dos Santos é sócio-diretor da Ceplan Consultoria Econômica e professor de Economia e assessor de planejamento da Universidade Católica de Pernambuco

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