Começou no dia 7 de março de 2022 o prazo para os contribuintes fazerem a declaração do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), com final até o próximo dia 29 de abril. Neste ano de 2022, a instituição do IRPF completa 100 anos de existência e está recheada de novidades em termos de tecnologia, como a possibilidade de preencher a Declaração online – com acesso pela conta GOV.BR – e também no aplicativo Meu Imposto de Renda, para smartphones e tablets.
Além disso, este ano existe a possibilidade de iniciar o processo a partir da declaração pré-preenchida, com dados já cadastrados dos principais informes de rendimentos e contas bancárias acessando a conta GOV.BR nível prata ou ouro. Por fim, a principal novidade é a possibilidade do pagamento e da restituição do Imposto serem feitos usando a chave PIX.
Independente das ferramentas, fazer a declaração de imposto de renda ainda pode ser um fardo para muitas pessoas, em especial as famílias com alto nível de complexidade em suas finanças, com muitos bens, contas, dívidas e diversas formas de rendimentos. O que muita gente não sabe é que é possível transformar esse fardo em uma grande ferramenta de planejamento e educação financeira.
Um imposto de renda bem feito precisa começar a ser organizado desde o início do ano-base. Por exemplo, para este ano de 2022, o ideal é que o contribuinte esteja atento durante todo o ano de 2021, guardando desde o início do ano comprovantes de possíveis deduções, como exames pagos, planos de saúde, gastos com educação, investimentos em planos de aposentadoria, dentre outros. Caso não seja feito desta forma, juntar todos os documentos apenas quando for iniciar a declaração pode ser mais difícil e o contribuinte pode acabar se esquecendo de deduções que lhe fariam, talvez, ter imposto a restituir.
Durante o processo de declaração do IRPF, é importante observar todos os campos existentes dentro do aplicativo ou programa, pois isso poderá ajudar a lembrar de alguma informação que esteja esquecida. Após a finalização da declaração, o documento é um resumo de todos os bens e dívidas do contribuinte que – pasmem – não deveria servir apenas para a Receita Federal, e sim para o próprio contribuinte.
Imposto de renda x dívidas
Observe bem sua declaração final. Não adianta ter bens e, principalmente, não adianta ter investimentos em ativos financeiros se as dívidas estiverem com um valor muito significativo, gerando juros sobre o saldo devedor mês a mês que, provavelmente, são maiores do que os rendimentos dos investimentos. Se essa for sua situação, considere resgatar os investimentos para quitar pelo menos parcialmente as dívidas, deixando se possível apenas a reserva financeira de emergências. Se for o caso, analise a possibilidade de vender algum bem para quitar a dívida, como um de dois veículos, por exemplo. Além de auxiliar na redução do saldo devedor, diminuiria os gastos anuais com transporte.
Analise também o valor do imposto de renda. Se você teve imposto a pagar, considere mudar a composição dos seus gastos durante o ano calendário para gastos dedutíveis, como pagar o plano de saúde em seu nome em vez de estar vinculado a algum plano empresarial no qual não é possível deduzir do IRPF.
Considere também criar um plano de previdência complementar na modalidade PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre), o qual permite deduzir do IRPF o valor investido no limite de até 12% dos rendimentos tributáveis, pagando o imposto de renda sobre a previdência ao final do plano. Além de acumular recursos para o seu futuro na aposentadoria, você diminui o saldo de imposto a pagar e provavelmente terá restituição, melhorando as condições financeiras ano a ano.
A declaração do imposto de renda serve como um panorama geral da sua situação financeira, permitindo tomar decisões de planejamento financeiro que podem lhe afetar no longo prazo. Caso não se sinta em condições de fazer essas análises, é relevante procurar um contador ou um consultor financeiro. Veja esse momento com outros olhos para organizar as finanças da sua família.
Valéria Saturnino é doutora em Finanças, professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Consultora Associada da Ceplan Consultoria Econômica e Planejamento