
O mercado imobiliário no litoral norte de Alagoas e no litoral sul de Pernambuco atravessa uma fase de expansão acelerada, impulsionado pela alta demanda turística e pelo crescente interesse por segunda residência. Segundo levantamento da BRAIN Consultoria, essas regiões lideram os preços do metro quadrado no Nordeste, que ultrapassam os R$ 16 mil.
Segundo dados da BRAIN Consultoria, em Pernambuco, o município de Ipojuca ocupa o topo do ranking com valor médio de R$ 16.237 por m², seguido por Tamandaré, com R$ 12.991 por m². Em Alagoas, Maragogi se destaca com o valor de R$ 14.779 por m², seguida por Marechal Deodoro, na Região Metropolitana de Maceió, com valores de R$ 14.345. Já na capital alagoana, o destaque vai para o bairro da Ponta Verde, com o metro quadrado custando R$ 12.108. São Miguel dos Milagres também registra valor expressivo, com R$ 11.181 por m².
Segundo Alfredo Brêda, vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-AL) e da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o mercado imobiliário nessa região, com destaque para Maceió, está bem aquecido, sendo puxado pela venda de imóveis com apenas um quarto, os studios, que hoje representam quase 30% dos novos lançamentos.
“O metro quadrado desses imóveis é mais alto, o que impacta a média geral. Um estúdio de 20m² vendido a R$ 18 mil por metro quadrado pode custar R$ 360 mil. Já um imóvel de 60m² a R$ 12 mil/m² ultrapassa R$ 700 mil. Isso mostra como o tamanho influencia no cálculo do preço médio. Hoje os studios correspondem a quase 30% dos novos lançamentos e das vendas aqui no mercado. Então, esse tipo de unidade puxa para cima o valor do metro quadrado”, explicou.
O vice-presidente do Sinduscon-AL reforça que a defasagem pós-pandemia ainda é um fator em curso e que influenciou diretamente no valor do metro quadrado. “Tínhamos uma defasagem real de 20%. Hoje, ela é de 12%. Então, nós estamos ainda nesse trabalho. É uma dificuldade muito grande, porque não se pode também aumentar o preço sem que haja uma melhoria da renda do nosso pessoal. É importante que as pessoas tenham uma melhor renda”, avalia.

Ele disse ainda que o grande desafio das construtoras tem sido equilibrar os custos com as obras e os preços oferecidos pelos imóveis. “Nós que somos construtores estamos tentando o tempo todo evitar aumentos excessivos nos preços, tentando segurar ao máximo os preços. Até mesmo com a inflação aumentando, a gente tem conseguido, de certa forma, não aumentar tanto os preços”, disse.
Além dos imóveis compactos, Brêda falou que a crescente procura por imóveis de três quartos vem ocorrendo especialmente na Região Metropolitana de Maceió. “Esse tipo de unidade é escasso e tem sido muito buscado, o que deve puxar ainda mais os preços em regiões como o litoral sul da capital”, analisou.
Grandes empreendimentos impactam no valor do m²
A faixa litorânea entre Alagoas e Pernambuco tem atraído a atenção de diversos investidores, que prometem grandes investimentos de moradia e hotelaria para a região. Um dos maiores anunciados até então é a parceria entre as empresas Due e Neymar Sports, do jogador Neymar, que prevê 28 empreendimentos ao longo de 100 km de praias, com Valor Geral de Venda (VGV) estimado em R$ 7,5 bilhões. A parceria pretende criar um corredor de alto padrão, conectando Muro Alto (PE) a Japaratinga (AL).
Além disso, a região recebe obras de infraestrutura no trecho alagoano, como a duplicação da rodovia AL-101 Norte e a construção do Aeroporto de Maragogi, com investimento de R$ 400 milhões e previsão de entrega ainda este ano. Essas iniciativas colocam o litoral alagoano em destaque no cenário nacional.

A alta demanda imobiliária que vem aquecendo a região também movimenta o setor hoteleiro, que até 2026 terá lançado cinco novos hotéis, segundo dados da Secretaria de Turismo de Alagoas (Setur). A rede Ibis lançou, no início do ano, seu primeiro hotel no formato pé na areia de bandeira internacional, uma novidade também para a região. O Ibis Styles Maragogi possui 180 apartamentos, todos com vista para o mar, incluindo opções de casal, triplo e família.
Impactos econômicos, sociais e ambientais
A valorização do metro quadrado e o crescimento do mercado imobiliário tornam o litoral de Alagoas e Pernambuco um dos principais polos emergentes do país. No entanto, o avanço acelerado exige cuidado com impactos sociais e ambientais.
O economista alagoano Fábio Leão analisa que o avanço do mercado imobiliário está ligado a diversos fatores, como a alta demanda do turismo, a atração de investimentos, reassentamentos urbanos e o aumento da demanda por aluguel de temporada.
“De uma forma geral, o mercado imobiliário em Maceió e no litoral norte de Alagoas apresenta um cenário promissor, com valorização contínua e oportunidades para investidores. Além disso, o desastre ambiental causado pela Braskem, que deslocou milhares de famílias, aumentou a pressão sobre o mercado“, analisa.

Leão destacou que, apesar dos benefícios que a valorização e os investimentos devem trazer para a região, é importante observar alguns desafios, como a alta da Selic e a necessidade de sustentabilidade. Ele aponta que a elevação da taxa de juros pode encarecer o crédito imobiliário, mas também aumentar a rentabilidade dos imóveis para locação.
Para os investidores e construtoras, o desafio será promover um crescimento sustentável, com foco em cidades inteligentes, que atendam às necessidades de mobilidade urbana, além de edificações preparadas com soluções energéticas sustentáveis.
“Um dos principais pontos a serem observados diz respeito à questão ambiental. A forte pressão no sistema natural, com invasão de mangues, inobservância das legislações, poucos investimentos em saneamento e serviços públicos, como transporte, segurança e educação, podem fazer com que o setor venha a sofrer com a exaustão ambiental e social. O que pode ser um atrativo atualmente pode se transformar em sua própria decadência no futuro, caso os devidos regramentos não sejam observados e um planejamento ambiental e social não seja realizado”, analisa.
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