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Tecnologia e tradição: projeto capacita jovens pescadores em Pernambuco

Projeto da UFPE e Ministério da Pesca traz novas ferramentas digitais para aproximar os jovens pescadores das práticas artesanais desta atividade no Nordeste
capacitação jovens pescadores Pernambuco
Foto: Marcelo Matheus/Divulgação

Cerca de 1,3 milhão de pessoas no Brasil dependem diretamente da pesca artesanal como fonte de sustento, sendo 40% desse total concentrado no Nordeste, segundo a Secretaria Nacional da Pesca Artesanal. Desses trabalhadores, 235 mil são jovens entre 15 e 29 anos, desempenhando papel fundamental na cadeia produtiva pesqueira. Para qualificar essa parcela da população, o projeto Jovens da Pesca, realizado em Pernambuco, busca aliar práticas tradicionais ao mundo digital.

A iniciativa, conduzida pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em parceria com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), ensina jovens pescadores a usar tecnologias como fotografia, edição de vídeos e aplicativos, facilitando a comercialização e promovendo maior visibilidade para a pesca artesanal.

O secretário Nacional da Pesca Artesanal e professor da UFPE, Cristiano Ramalho, destaca que o projeto valoriza os aspectos socioeconômicos, culturais e ambientais da pesca artesanal por meio do uso de mídias digitais. As oficinas são ministradas por profissionais como Anderson Stevens, fotógrafo e diretor da Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos da Imprensa de Pernambuco (ARFOC), que ressalta o impacto das tecnologias sociais na transformação da visão dos jovens sobre a atividade pesqueira.

O coordenador do projeto, Gilson Antunes, explica que a capacitação também aborda o uso de ferramentas como tabelas de marés, GPS e aplicativos, ampliando o conhecimento sobre condições climáticas, marés e técnicas de pesca. “Trabalhamos com a juventude pesqueira, aproximando-os do ofício de seus pais e avós, enquanto mostramos como a tecnologia pode ser uma aliada no dia a dia da pesca”, afirma.

As oficinas tiveram início entre 20 e 24 de janeiro, na Associação das Mulheres Pescadoras Artesanais (AMPAS), em São José da Coroa Grande, com a participação de 18 jovens. O encerramento ocorreu no dia 30, com uma avaliação crítica da formação.

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No último semestre de 2024, com 15 jovens fizeram parte da capacitação na comunidade de Brasília Teimosa, Grande Recife.
No último semestre de 2024, 15 jovens pescadores fizeram parte da primeira capacitação na comunidade de Brasília Teimosa, Grande Recife. Foto: Marcelo Matheus/Divulgação

“A partir dessa experiência, descobri que sou pescador”

Além de abordar técnicas digitais, o curso discute a importância da mulher na cadeia produtiva da pesca, mudanças climáticas e impactos ambientais, adotando uma metodologia inspirada na pedagogia de Paulo Freire. As atividades incluem aulas teóricas e práticas, com visitas a áreas de pesca e observação direta das pescadoras em ação no mangue.

Em 2024, a primeira capacitação do projeto ocorreu na comunidade de Brasília Teimosa, no Recife, reunindo 15 jovens e impactando mais de 130 famílias. As atividades incluíram visitas à Colônia de Pescadores Z1 e oficinas sobre o impacto da pesca artesanal.

O jovem Gabriel José Gonçalves, 18 anos, destaca que a iniciativa ampliou sua visão sobre a pesca artesanal e o papel das mulheres no setor. “Muitas pessoas acham que a pesca se resume ao homem no mar, mas as mulheres têm um papel fundamental. Aprendi muito sobre isso durante o projeto”, relata.

Já Fabiano Gerson da Silva Araújo, 19 anos, ressalta a importância da capacitação para a preservação dos mangues e do ecossistema pesqueiro. “Esses projetos proporcionam experiências valiosas e mostram a realidade do nosso trabalho com o mangue, a maré e os rios”, pontua.

Em São José da Coroa Grande, as oficinas começaram na última semana na Associação das Mulheres Pescadoras Artesanais (AMPAS).
Em São José da Coroa Grande, as oficinas começaram na última semana na Associação das Mulheres Pescadoras Artesanais (AMPAS). Foto: Divulgação

Impacto e perspectivas

O Jovens da Pesca já beneficiou comunidades em Brasília Teimosa e Abreu do Una e prevê expansão para Ilha de Deus, no Recife, e Goiana, ainda sem data definida. Ao todo, mais de 60 jovens serão capacitados diretamente, com um impacto estimado de 400 famílias beneficiadas indiretamente.

Segundo Gilson Antunes, a iniciativa também contribui para a formulação de políticas públicas voltadas à juventude pesqueira. “O curso oferece certificação, capacitando de fato os participantes e fortalecendo a economia local baseada na pesca artesanal”, enfatiza.

O coordenador destaca ainda a necessidade de políticas públicas a longo prazo. “Os bancos privados não costumam apoiar iniciativas pesqueiras, e as políticas governamentais muitas vezes são transitórias. Precisamos de um modelo sustentável, que assegure o acesso a crédito e a valorização dos territórios pesqueiros”, defende.

Governo avança com Plano Nacional da Pesca Artesanal

Desde janeiro de 2023, o Governo Federal, por meio do decreto nº 11.352, implementou o Programa Povos da Pesca Artesanal, voltado para o fortalecimento das comunidades pesqueiras. Sob coordenação da Secretaria Nacional da Pesca Artesanal, o programa busca promover a inclusão social e o desenvolvimento sustentável do setor.

Entre as iniciativas em andamento, destaca-se o Primeiro Plano Nacional da Pesca Artesanal (PNPA), que terá participação ativa das comunidades pesqueiras e orientará políticas públicas para o setor nos próximos dez anos. Um dos eixos centrais do plano é o estímulo à juventude pesqueira, com foco em educação, tecnologia e geração de renda.

Além disso, o governo lançou em 2024 o projeto Jovem Cientista da Pesca Artesanal, oferecendo bolsas de estudo para 2 mil jovens a fim de reduzir a evasão escolar e incentivar a continuidade dos estudos. “Ainda estamos longe do ideal, mas o programa representa um esforço para apoiar esses jovens e conectá-los ao setor pesqueiro”, avalia Cristiano Ramalho.

O plano inclui ainda sete plenárias regionais, com a primeira no Nordeste, além de parcerias com a Fiocruz para capacitação de agentes de saúde nos territórios pesqueiros. Outra frente do programa é o combate ao racismo ambiental, sobretudo nos estados atingidos pelo vazamento de petróleo em 2019.

“A juventude pesqueira é peça-chave para o futuro da pesca artesanal”, reforça Ramalho. “O governo está estruturando um plano para transformar essa atividade em um eixo estratégico de desenvolvimento sustentável e inclusão social no país”, conclui.

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