Si&Mex investe R$ 8 bi na indústria de base tecnológica do NE

Primeiro foi a BYD que anunciou um centro de desenvolvimento com o objetivo de transformar a Grande Salvador no Vale do Silício brasileiro. Agora, é a companhia alemã de energia solar que planeja megaempreendimentos que vão fortalecer a indústria de base tecnológica na região
Vale do Silício ganha força no Nordeste com investimento da Si&Mex
O Vale do Silício é aqui: Si&Mex planeja investir R$ 6 bi numa fábrica de semicondutores em Campina Grande/Foto: Kuka Automação

Depois da BYD prometer transformar a Região Metropolitana de Salvador (BA) no Vale do Silício do Nordeste, a região pode dar mais um passo importante no fortalecimento de sua indústria de base tecnológica. Isso, se saírem do papel os planos ousados da alemã Si&Mex, que assinou protocolos de intenções com as prefeitura de Camaçari e Campina Grande (PB) para investimentos de R$ 8 bilhões em semicondutores, refino de silício (claro) e painéis solares.

Essas unidades fabris deverão entrar em operação entre 2027 e 2029. A planta paraibana, orçada em R$ 6 bilhões, será dedicada à produção de semicondutores e terá um quadro estimado em mil empregados diretos.

Com esse empreendimento, a Si&Mex mira sua demanda própria na fabricação de painéis solares na Bahia, além de outras grandes cadeias industriais que dependem do insumo, especialmente a automotiva.

No setor automobilistico, a multinacional busca pegar carona na produção de carros híbridos e elétricos da BYD e Stellantis no Nordeste. A transição da mobilidade vai demandar semicondutores em larga escala, já que esses veículos tem muito mais tecnologia embarcada que os automóveis a combustão.

É um panorama em que a região tende a assumir protagonismo no Brasil, já que os grupos chinês e franco-italo-americano estão aportando R$ 18,5 bilhões em suas montadoras localizadas em Camaçari e Goiana (PE).

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A maior parte desses recursos será destinada à hibridização e eletrificação de seus produtos. Os primeiros modelos a bateria e etanol/gasolina ou 100% elétricos fabricados nessas fábricas têm previsão de chegar ao mercado já no final desse ano.

Mas o player alemão não está visando apenas a indústria automotiva nordestina e tem planos de ser fornecedor também da cadeia automobilística em Minas Gerais, que abriga unidades da CNH New Holland, Stellantis (Fiat), Iveco, XCMG e Mercedes-Benz.

Vale do Silício no Nordeste pode ter investimento de R$ 8 bilhões da Si&Mex
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Paraíba fará parte do Vale do Silício nordestino

O termo Vale do Silício do Nordeste foi usado pelo fundador e CEO da BYD Wang Chuanfu, em outubro passado, para falar do impacto que deverá ser gerado pela instalação do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da marca, em Salvador.

No entanto, o futuro empreendimento da Si&Mex promete estender esse novo Silicon Valley para outros estados nordestinos, particularmente a Paraíba. No mercado paraibano, Campina Grande se destaca “como um dos maiores centros formadores de mestres e doutores da área tecnológica no Brasil”.

As palavras, em tom enfático, são do CEO da companhia no mercado brasileiro, Valdiney Domingos de Oliveira. Segundo ele, a tradição da cidade em desenvolvimento e pesquisa no setor é um dos principais motivos que explica o interesse da multinacional.

Outro ponto que pesa a favor de Campina Grande é a localização, entre dois polos tecnológicos nordestinos: Recife e Fortaleza.

A cidade está a 197 km da capital pernambucana, cujo ecossistema de inovação – o Porto Digital – é focado em desenvolvimento de soluções. Em 2023, o faturamento do cluster atingiu R$ 5,4 bilhões.

Em relação à metrópole cearense – segundo maior hub de concetividade do mundo – a distância é de 621 km.

Dezessete cabos submarinos, com seis mil quilômetros de extensão e responsáveis por 99% do tráfego de dados dos brasileiros conectam a Praia do Futuro – balneário mais badalado da cidade, à União Europeia. Esse ponto geográfico é o mais próximo entre o Brasil e o Velho Continente. Oito gigantes do setor são donos desses empreendimentos.

Outro área da infraestrutura digital que avança na cidade é a de centros de processamento de dados, que vive um ciclo de expansão exponencial devido à demanda de armazenamento gerada pelas aplicações que utilizam inteligência artificial generativa.

Entre as empresas que têm data centers em construção, ampliação ou operação na capital cearense estão a Scala, Angola Cables, Ascenty e V.tal.

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Matéria-prima virá do Vale do Silício baiano

O projeto paraibano será integrado ao complexo da Si&Mex em Camaçari. A matéria-prima mais importante para os semicondutores, justamente o silício, virá da Bahia, um dos maiores produtores do mineral no Brasil.

O masterplan do empreendimento – que tem estimativa de investimentos de R$ 2 bilhões – prevê a construção de três unidades fabris, que vão produzir de silício refinado a painéis fotovoltáicos. No caso das placas, o objetivo é fabricar o primeiro módulo solar 100% nacional e reciclável.

Vale ressaltar que os equipamentos para energia solar são o core business da empresa no mercado europeu.

Com essa aposta em dois segmentos em alta no Brasil – automotivo e de geração fotovoltáica – a Si&Mex aproveita uma oportunidade gigantesca na América Latina.

Essa movimentação coincide com um momento em que alguns países da União Europeia, como a Espanha, estão concluindo um ciclo de expansão impressionante da geração solar – tanto centralizada (grandes usinas) como distribuída – com incentivos do governo. O que leva as indústrias do setor a procurarem novos mercados.

Vale do Silício brasileiro: termo foi usado pela primeira vez pelo fundador e CEO da BYD, Wuang Chuanfu
Sem modéstia: fundador da BYD, Wang Chuanfu, promete Vale do Silício na Bahia, mas o novo eldorado tecnológico pode incluir outros estados nordestinos/Foto: BYD (Divulgação)

Vale do Silício é promissor no longo prazo

No Brasil, a fonte solar responde atualmente por 20% de toda a produção de energia, com 43 gigawatts (GW) de potência instalada no mercado nacional, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Fotovoltaica (Absolar).

A geração distribuída é a grande força desse indústria. Responde por 68% dessa capacidade (29,2 GW), enquanto os parques geradores de maior porte detêm o equivalente a 32% (14 GW).

A GD vem sendo turbinada especialmente pelos incentivos governamentais estruturados em 2022 e também pelo valor cada vez mais baixo dos painéis fotovoltáicos chineses.

Esse quadro tem prejudicado a fonte eólica que contabiliza no mercado nacional, em dois anos, 2,5 mil demissões na indústria de aerogeradores, pás, torres e outros componentes. O crescimento, no entanto, faz a festa da área solar. Diante disso, o governo federal, a pedido da cadeia eólica, estuda aumentar a tributação das placas produzidas na China.

O país procura ainda equacionar os desequilíbrios recentes no mercado energético, que apresenta oferta superior à demanda. Esse excesso de eletricidade, na visão da Abeeólica, está relacionado a uma expansão sem freio da GD, justamente uma das grande apostas da Si&Mex no Brasil.

Com todas essas variáveis positivas e negativas em jogo, o momento é complexo. Mas os desafios não assustam Valdiney Domingos, que olha para o Vale do Silício nordestino com visão de longo prazo e enxerga grandes chances de negócios tanto na energia solar, quanto na substituição da frota a combustão por híbridos e elétricos.

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