A espanhola Solatio deu mais um passo para viabilizar seus planos de construir uma megaindústria de hidrogênio e amônia verdes no Piauí. A empresa formalizou, por meio de memorando de entendimentos (MoU), a intenção de implantar, no estado, a maior usina solar do Brasil, com capacidade de 4 gigawatts (GW) e orçamento de R$ 10 bilhões. A produção será destinada à fábricação de H2V, que exige energia limpa de forma intensiva.
O MoU foi assinado, na semana passada, pelo CEO da companhia, Pedro Vaquer, e o governador do Piauí, Rafael Fonteles, durante a Conferência Internacional de Energias Renováveis, em Teresina.
Solatio quer produzir 1,4 milhão de toneladas de H2V
O projeto de H2V e amônia verde da Solatio é ambicioso. A multinacional, juntamente com a Green Energy Park (Croácia), lidera o pool de investidores do empreendimento, considerado um dos maiores do setor em todo o mundo. O orçamento atinge a casa dos R$ 50 bilhões.
A capacidade de produção prevista é de 1,4 milhão de toneladas de hidrogênio verde e 7,5 milhões de toneladas de amônia por ano.
O objetivo do negócio, cujo MoU foi assinado em outubro passado, em Roterdã (Holanda), é atender à demanda do “combustível do futuro” e do fertilizante nos mercados interno e externo.
No caso da amônia, a Solatio e seus sócios miram, no Brasil, a cobiçada região de Matopiba – formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Esse polo se firma como a mais nova fronteira do agronegócio no país, com destaque para a produção de soja e algodão destinados a exportação.
O governador Rafael Fonteles destaca a importância dessa planta de H2V junto com a usina solar para que o Piauí consiga dar um salto no setor de energia limpa.
A unidade de hidrogênio verde será instalada na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Piauí, localizado em Parnaíba, a 340 quilômetros da capital Teresina. O início das obras está programado para entre 2024 e 2025 e a operação é prevista para 2027.
A ZPE, já em funcionamento, fica localizada no Porto de Luís Correia. O complexo portuário vem sendo construído em tempo recorde para viabilizar a área de livre comércio e o polo piauiense de H2V.
Solatio vai usar expertise solar como trunfo no H2V
A estratégia da Solatio no projeto é clara: usar sua expertise na geração solar como trunfo para entrar na cadeia do H2V, já que a energia limpa é o insumo mais caro e mais importante exigido pelo processo produtivo do hidrogênio verde.
O anúncio da usina solar reforça essa disposição da empresa, de utilizar como capital seu know-how na geração de eletricidade a partir de fontes renováveis.
De acordo com a geradora, a usina será instalada em Bom Princípio do Piauí, a 311 quilômetros de Teresina. O início da implantação da unidade é previsto para 2025 e a execução terá cronograma sincronizado com a indústria de combustível, segundo o CEO Pedro Vaquer.
Solatio garante musculatura para ambição do Piauí
O Piauí, um dos líderes em geração de energia eólica no país, foi o último a entrar na guerra travada entre os estados nordestinos para abrigar um cluster de H2V que será o pioneiro no país e atuará em escala internacional.
Estão nessa briga Ceará, com mais agressividade, Pernambuco – onde a CTG em parceria com o Senai prevêem iniciar a produção experimental já em dezembro próximo – e a Bahia, escolhida pela Unigel para implantação do seu projeto na área.
Os piauíenses chegaram atrasados, mas vieram com sede ao pote. O empreendimento da Solatio foi anunciado pelo governador, na União Europeia, com pompa e circustância, e se destaca pela ousadia, pois foi idealizado sob medida para bater de frente com o futuro Hub de H2V do Pecém, no Ceará.
O hub cearense – que integra setor privado, federação estadual da indústria (Fiec), governo do estado, academia e entidades da cadeia de energia limpa – ficará localizado a apenas 435 km da ZPE do Piauí. Também vai operar numa zona de processamento de exportação, inaugurada em 2013 e que foi a primeira ativada no Brasil.
Atualmente, o número de empresas interessadas em ter operações no polo se aproxima de 40, com sinalização de investimentos da ordem de US$ 30 bilhões de dólares (R$ 145,7 bilhões de reais).
No estado vizinho, Rafael Fontele, sem adiantar números, afirma que “o Piauí atraiu dezenas de memorandos e já conta com projetos de instalação de plantas de produção de hidrogênio verde de empresas europeias que devem começar a ser construídos no próximo ano”.
Investimentos da Solatio atingem no Brasil chegam a R$ 25 bilhões
Com duas décadas de experiência no setor fotovoltaico e 120 projetos na Europa, a Solatio é considerada a maior desenvolvedora de geração solar na América Latina. A companhia está presente no Brasil desde 2009.
No mercado nacional, a empresa tem usinas em operação e construção em diversos estados, como Minas Gerais e Pernambuco. Os investimentos da multinacional no país, entre realizados e previstos, chegam a R$ 25 bilhões. A potência total instalada atualmente é de 6 GW. A Solatio atua na contratação regulada (ACR), mercado livre (ACL) e geração distribuída (GD).
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