Por Gustavo Delgado*
“O bater de asas de uma borboleta no Japão pode provocar um furacão no México.” Quem nunca ouviu essa expressão, o chamado “efeito borboleta” para descrever como pequenos eventos podem desencadear efeitos avassaladores e imprevisíveis? No entanto, é hora de questionarmos: ainda podemos nos apoiar no argumento de que esses eventos são realmente “imprevisíveis”? E será que podemos continuar assumindo o risco do efeito borboleta?
Cada vez menos esta justificativa é aceita, isto é um fato. Temos, hoje, acesso a muito mais informação, temos muito mais oportunidades de estudar, de entender de prever, de imaginar, de mitigar estes riscos.
Temos que, como já dizia um ex-chefe, entender os fundamentos dos fatos, analisar a consequência de forma mais profunda, preditiva, entender as correlações, entender cada vez mais de macroeconomia. E mais ainda, como usamos no perfil básico de formação do programa “berçário de empreendedores” de OCCA, temos que ser cada vez mais “nexialistas”, ou seja, buscar os nexos das coisas, ter a visão holística, como preceitua e usa pela primeira vez o autor canadense A.E. van Vogt, em seu livro “Voyages of the space beagle”.
Quem não é da área de comércio exterior pode não estar sabendo que agora, mais uma vez, assim como foi durante a pandemia, os fretes internacionais estão aumentando absurdamente. Uns atribuem isso à guerra da Russia x Ucrânia (mas já completamos ano desta infeliz guerra); e outros comentam sobre a questão das ameaças dos Houthis no Mar vermelho e seu consequente desvio de rotas marítimas para o Sul da África. Há ainda os que comentam sobre o “efeito BYD”, a empresa sensação chinesa que tem movimentado seus carros em um volume muito maior do que o normal, impactando na grande procura por navios, o que gera um aumento no custo do frete internacional.
O que isso tem a ver com todos, simples mortais que não somos profissionais do comércio exterior? Tudo! Um aumento generalizado no valor das mercadorias está à espreita, se não revertermos esta oferta de frete internacional rapidamente. Até agora, esse impacto não foi plenamente sentido porque as empresas têm recorrido aos seus estoques antes de enfrentar os altos custos logísticos, evitando assim um aumento imediato nos custos de aquisição de insumos. Mas tudo tem um limite, e o tempo está correndo.
Não pretendo ser um arauto de más notícias, longe disso. Até porque tudo ainda pode ser revertido. Mas, o que é preciso, ainda de maneira mais forte, é destacar a importância de entender as conexões das coisas, entender as possíveis consequências.
Como professor, sempre tento abrir os olhos dos empresários para fazer com que eles processem cada vez mais rápido e melhor os dados que se encontram na sua frente. Sendo assim, recomendo fortemente o estudo da economia, da macro economia, da economia internacional. Nos dias atuais, a estratégia empresarial depende, em grande parte, dessa perspectiva ampliada.
Para um ambiente empresarial em que o curto prazo é o que se olha, apenas ele, sugerir e recomendar o olhar a médio ou longo prazo, a análise mais global, mais dos fundamentos, tende a ser encarado como pedir algo impossível. Mas, com este meu trabalho de consultoria, ouvindo e analisando várias corporações, posso garantir que essa é a diferença entre empresas medianas e aquelas com posicionamentos estratégicos sólidos e bem-sucedidos
Se comecei este artigo com uma expressão comum, termino com outra: “o mundo tem ficado cada vez menor!”. A interconexão global exige uma visão estratégica ampla e aprofundada. Entender isso é o que permitirá às empresas navegar com sucesso pelas complexidades do mundo moderno.
*Gustavo Delgado é Consultor de comércio exterior e de internacionalização de empresas, Diretor de OCCA Olinda Creative Community Action, Diretor de inovação da ABDAEX, Coordendor de MBA em Comércio exterior, Coordenador dos cursos de Gestão da UNIFBV e Mestre em Economia Internacional.
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