Estudo diz que novas térmicas vão prejudicar a exportação de hidrogênio

A construção das térmicas previstas em leis aprovadas em 2021 e 2022, como a da privatização da Eletrobras, pode diminuir a renovabilidade da matriz elétrica e impactar a exportação de hidrogênio
Mateus Cavaliere participou da elaboração de um estudo da PSR que aponta que a construção das térmicas, prevista na privatização da Eletrobras, pode diminuir o percentual de renovabilidade do sistema elétrico do País. Foto: Divulgação

A construção das térmicas prevista na privatização da Eletrobras pode atrapalhar a futura exportação do hidrogênio a ser produzido no Brasil, segundo um estudo realizado pela renomada empresa PSR Soluções e Consultoria em Energia. Segundo o levantamento, a implantação das térmicas – previstas em duas leis aprovadas em 2021 e 2022 – altera a renovabilidade da matriz brasileira, ficando abaixo de 90% a partir de 2030, caso estes empreendimentos sejam implantados.

“A União Europeia (UE) – um potencial grande comprador do hidrogênio brasileiro – só certifica e reconhece o hidrogênio, quando a renovabilidade está acima de 90%. E é o principal mercado que iria importar este hidrogênio do Brasil”, explica o gerente de Planejamento Energético e Inteligência do Mercado da PSR, Mateus Cavaliere.

- Publicidade -

As térmicas citdas acima vão fazer a geração de energia a partir de fontes fósseis e estão previstas nas leis nº 14.182, de 12 de julho de 2021, e nº 14.299, de 5 de janeiro de 2022. A primeira ficou conhecida como a Lei de Privatização da Eletrobras e estabelece a contratação de 8 GW de usinas termelétricas a gás natural, enquanto a segunda possibilita a extensão, até 2040, da concessão de subsídios à usina de carvão mineral do Complexo Termoelétrico Jorge Lacerda, localizado em Santa Catarina.

Com o cenário de construção das termelétricas, Mateus argumenta que os produtores brasileiros de hidrogênio podem construir suas próprias usinas solares ou eólicas para produzir a energia que será usada na produção do hidrogênio. “Isso vai deixar a produção deste hidrogênio mais cara, porque terá o custo da implantação dos empreendimentos. Esta energia própria sairia mais cara do que a energia da rede”, comenta Mateus.

A outra consequência da construção das térmicas seria deixar a energia do País mais cara para todos os consumidores, incluindo os futuros produtores de hidrogênio.

- Publicidade -

A privatização da Eletrobras e as térmicas

A lei que privatizou a Eletrobras estabeleceu que seriam construídas térmicas que tivessem a capacidade instalada de 8 gigawatts (GW). Para o leitor ter ideia, todo o parque gerador da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) tem uma capacidade instalada de 10 GW. Geralmente, o setor elétrico faz leilões dos empreendimentos que vão fabricar a energia e aí os empreendedores que vencem o leilão, implantam o empreendimento e ficam com a obrigação de produzir a quantidade de energia que se comprometeu, contratualmente, a vender.

Já ocorreu o primeiro leilão das térmicas previstas pela lei de privatização da Eletrobras em 2022, quando a finalidade era contrarar 2 GW de capacidade instalada e foi contratado 700 megawatts (MW). Um gigawatt é igual a 1 mil MW. “Tinha um leilão previsto para 2023, mas foi cancelado. Espero que estas térmicas não saiam do papel, porque além de atrapalhar a renovabilidade, elas vão produzir uma energia mais cara”, argumenta Mateus.

Segundo ele, a construção das térmicas pode atrapalhar a transição energética, processo em que o Brasil pretende descarbonizar a sua economia – diminuindo o uso de combustíveis fósseis – que vão ser substituídos, gradativamente, por matérias primas renováveis, como a energia eólica ou solar.

Considerado o combustível do futuro, o hidrogênio só é considerado verde, caso use 100% de energia renovável na sua fabricação.

estudo citado foi realizado a pedido do Instituto Clima e Sociedade (iCS), avaliou se o Brasil seria capaz de atender os critérios estabelecidos pela União Europeia. Foram considerados aspectos como crescimento da demanda por eletricidade; necessidade de novos investimentos em capacidade de geração e transmissão; novas tecnologias; e políticas energéticas públicas. Além de Mateus, participaram da elaboração do estudo os consultores Luana Gaspar e Rafael Kelman.

A UE tem como meta a importação de 10 milhões de toneladas de H2V até 2030, além de ter anunciado recentemente o investimento de 2 bilhões de euros para o desenvolvimento do mercado no Brasil. O hidrogênio verde é peça chave para que o bloco atinja as metas de redução das emissões de carbono.

Leia também

Governo da Paraíba lança atlas solarimétrico

Produção de CO2 biogênico pode gerar receita extra às destilarias de etanol

- Publicidade -
- Publicidade -

Mais Notícias

- Publicidade -