O consumidor está sofrendo agora com o calor e, em 2024, vai pagar outra consequência dos dias quentes: a conta das térmicas extras que voltaram a ser acionadas por causa dos picos de consumo de energia. Com o calor extremo, mais pessoas ligaram eletrodomésticos, como ar-condicionado, ventiladores, e aí o Brasil registrou recordes no consumo de energia na segunda-feira (13) e na terça-feira (14). Nestes dias, pela primeira vez o consumo de energia no País ultrapassou os 100 gigawatts médios em dois horários específicos.
Com isso, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mandou algumas térmicas começarem a produzir energia, porque, em tese, isso supriria, rapidamente, o aumento do consumo. As térmicas produzem uma energia mais cara, porque usam o gás natural ou diesel como combustível. Em outubro, as térmicas produziram 9,4% de toda a energia gerada no País. Na última quarta-feira (16), este percentual alcançou 14,33%.
“A conta vai aumentar um pouco mais, mas o impacto desta geração térmica na conta de luz será algo pontual, residual, pelo que estamos vendo até agora. De uma maneira geral, o sistema elétrico está tranquilo e os reservatórios das principais hidrelétricas estão cheios”, resume o diretor da Acropolis Energia, Reive Barros. Os reservatórios das principais hidrelétricas do País estão, em média, com mais de 60% de armazenamento.
Segundo ele, as térmicas têm uma função parecida com a de um seguro de um carro. “Quando se faz um seguro de carro, a pessoa apela pra não usar, mas quando ocorre um acidente, usa”, comenta. Reive também vê outra vantagem no uso das térmicas: “não tem que cortar carga”. No setor elétrico, cortar carga significa suspender o fornecimento de energia, como ocorreu no racionamento de energia em 2001.
Agora, as térmicas também entraram em operação, porque as usinas de Angra I e Angra II estão em manutenção e a energia produzida por elas faz falta no sistema elétrico.
Em 2021, o ONS acionou todas as térmicas foi em 2021, porque os reservatórios das principais hidrelétricas estavam com pouca água e o País só não entrou em racionamento de energia por causa das chuvas que ocorreram no final do ano. Na época, quase todas as térmicas do País entraram em operação e isso fez a conta de energia aumentar mais em 2022. Agora, não foi acionado todo o parque térmico, segundo informações da própria ONS. A onda de calor atingiu 15 Estados, durou uma semana e a previsão é que chegue uma frente fria a partir da sexta-feira (17) e as temperatura fique mais amena.
Outra diferença entre agora e 2021 é que o ONS colocou algumas térmicas em operação para poupar a águas dos reservatórios do Sudeste que tem o período seco que acaba em dezembro. Em 2021, mesmo sabendo da estiagem que assolava o Sudeste, gastaram á agua dos reservatórios, e depois, tiveram que acionar todas as térmicas, o que foi muito criticado pelos executivos do setor.
A conta de luz é cara devido ao subsídio
Ainda de acordo com Reive, o problema que mais encarece a conta de luz dos brasileiros é o subsídio. “A energia está barata e isso não se reflete na conta do consumidor, por causa do subsídio”, conta Reive. “Se o preço da energia estiver baixo e a inflação for zero, o brasileiro ainda vai pagar mais caro na conta de energia por causa do subsídio”, comenta Reive. Geralmente, o reajuste da conta de energia ocorre uma vez por ano e nele são repassados os custos dos subsídios pagos pelo consumidor.
De acordo com a própria Aneel, os subsídios representam, em média, 13,46% da tarifa dos consumidores residenciais brasileiros. Em 2023, os brasileiros pagaram R$ 30,51 bilhões em subsídios na conta de energia até esta sexta-feira (17). Para 2024, somente um encargo setorial a CDE – que banca também alguns subsídios – terá um orçamento proposto pela Aneel de R$ 37,17 bilhões, enquanto em 2023 ficou em R$ 34,99 bilhões. Somente este acréscimo trará 1,26% a mais de reajuste na conta dos consumidores do Norte e Nordeste em 2024.
Embutidos na conta de luz dos brasileiros, os subsídios do setor elétrico bancam programas de distribuição de água, esgoto, irrigação, energia para projeto de aquicultura, térmicas a carvão – que são as mais poluentes de todo o sistema – térmica a óleo diesel etc. “Tem que fazer um plano de retirada paulatinamente, do subsídio da conta de luz dos brasileiros e zerar os subsídios que podem ser retirados, porque há alguns que vão continuar sendo necessários”, comenta Reive. Ele estava se referindo a subsídios que bancam, por exemplo, a tarifa da baixa renda, entre outros.
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