Quantos ataques de tubarão ainda precisam acontecer no litoral pernambucano para que as autoridades tratem o assunto com o peso, responsabilidade e eficácia para desenvolver uma política pública tão séria quanto o assunto exige?
Nesta segunda (6/03), o estado contabilizou seu 77º caso desde que os ataques começaram a ser notificados, em 1992. No continente, são 67 ataques e outros 10 aconteceram no arquipélago de Fernando de Noronha.
É ainda mais assustador que, os últimos três ataques aconteceram num intervalo de menos 20 dias, sendo um na praia de Del Chifre, em Olinda, e os outros dois em trechos que há dois anos já são permanentemente proibidos, inclusive, para o banho de mar.
A governadora Raquel Lyra (PSDB) que está à frente do executivo desde janeiro precisa chamar essa responsabilidade para seu governo. Afinal, o Comitê Estadual de Monitoramento com ataques com Tubarões foi instituído em 17 de maio de 2004, vinculado à Secretaria de Defesa Social (SDS), que, por sua vez, determina ao Corpo de Bombeiros sua presidência.
Sendo assim, o CEMIT é um colegiado composto pela própria SDS, através dos seguintes Órgãos Operativos: Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco; Polícia Militar de Pernambuco e Instituto de Medicina Legal; e pela Agência Estadual do Meio Ambiente – CPRH. Todos na qualidade de membros efetivos. Além desses membros, também participam do Comitê, na qualidade de convidados, os seguintes órgãos: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente – IBAMA; Capitania dos Portos de Pernambuco; Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade – SEMAS entre outros.
O mecanismo já existe. O que a população precisa é de eficiência no exercício prático da sua operacionalização.
Vale a pena lembrar que, lamentavelmente, o pesquisador e professor Fábio Hazin morreu de Covid-19 em 2021. Hazin que presidiu o Comitê, certamente, deixou um legado dos longos anos de trabalho sério para serem desenvolvidos e executados pelas autoridades.
Além disso, um trabalho educativo junto à população por meio de campanhas publicitárias contundentes, que, de fato, alertem sobre os riscos de morte nos veículos de comunicação podem contribuir para diminuição dos ataques. Esse tipo de campanha nem sempre é aceita porque pode trazer um efeito colateral danoso ao turismo e economia do estado. Mas, a mensagem de alerta precisa chegar ao povo que vai às praias.
Relatos de banhistas, populares e comerciantes, de uma maneira geral, mostram que mesmo ao serem avisados pelos bombeiros sobre os riscos na beira da praia e muitas vezes já dentro do mar, existem pessoas que simplesmente ignoram os alertas.
Valeria a pena a interdição de alguns trechos de praia? Talvez, esta fosse uma alternativa radical demais para quem vive do comércio, do turismo e toda uma cadeia produtiva econômica que gira em torno das praias.
Mas, é o próprio Cemit que avisa: é no trecho de 36 quilômetros entre a praia de Bairro Novo, em Olinda, até os Arrecifes do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho, onde há a maior iminência de risco de incidentes de ataques. Nesse trecho de praia, desde o decreto estadual de 1999, existem 150 placas indicativas do risco de incidentes com tubarão.
Ao governo de Pernambuco cabe ser proativo com essa questão de uma vez por todas. Não há mais espaço para contemplar os ataques de tubarão sem reagir. O governo não vai partir do zero. As ferramentas existem, o que precisa é colocar essa parte da máquina para funcionar. É também, uma questão de vontade e decisão política.
Pernambuco não pode ser a referência mundial de ataques de tubarão. Basta.
MUDANÇA
Durante entrevista no início da noite desta segunda (6/3), a governadora Raquel Lyra anunciou que deve transferir o Cemit para a secretaria de Meio Ambiente. Segundo ela, dentro da secretaria de Meio Ambiente o Cemit poderia desempenhar ações “preventivas”. A governadora também avisou que vai se reunir com os prefeitos da Região Metropolitana do Recife (RMR) para debater os próximos passos com relação aos ataques de tubarão. Raquel Lyra também deve conversar com as universidades sobre o assunto.
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