Vagas disponíveis e falta de mão-de-obra: os desafios do mercado de tecnologia em PE

O Recife está no topo do ranking das capitais com mais estudantes de tecnologia do país. Mas, por que ainda sobram vagas de trabalho nessa área?
Prédio Porto Digital
O Porto Digital é parceiro do programa Embarque Digital, da Prefeitura do Recife, de formação de profissionais para a área de tecnologia. Foto: Porto Digital/Divulgação

Dados divulgados recentemente do Censo de Ensino Superior 2021, do Ministério da Educação, mostraram um aumento expressivo do número de matriculados em cursos na área de tecnologia no Recife. A alta foi de 20% em matrículas entre 2019 e 2021, colocando a capital pernambucana na liderança do ranking entre as capitais. Eram 5.711 alunos em 2019, passando para 6.746 em 2021 – uma relação de 15 estudantes para cada 100 mil habitantes.

No entanto, apesar do grande contingente de mão-de-obra sendo formada, há hoje pelo menos três mil oportunidades de trabalho nesta área em Pernambuco que não são ocupadas, por falta de profissionais qualificados, segundo levantamento do Porto Digital. Reverter esse quadro e zerar essa conta é o desafio hoje, de governos e centros de formação. “A formação é a médio, longo prazo. Você não coloca o aluno hoje no curso e amanhã ele está pronto. A base desse aluno, na escola, também precisa vir boa, pra que ele performe bem em programação, por exemplo. Mas, estamos vendo sim essa conta fechar e essa realidade mudar”, avalia Pierre Lucena, presidente do Porto Digital.

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Benedito Macedo, Diretor Executivo da CESAR School, acredita que o momento é de criação de um ambiente favorável para mais qualificação e mais empregabilidade. “O processo de transformação dos negócios, com o entendimento do mundo digital, tem demandado mais profissionais da área de tecnologia e isso leva a uma maior demanda para os cursos. Na CESAR School temos três cursos e planejamos, até o ano que vem, lançar mais sete na área de tecnologia, para atender a essa demanda crescente”, diz .

Segundo Macedo, esse movimento de geração abundante de vagas na área de tecnologia não vai ser interrompido, porque a atividade acompanha as demandas da vida cotidiana, que estão em constante crescimento e variação. “Cursos de tecnologia podem ser percebidos como ‘do futuro’. Existe uma demanda alta que deve seguir pelos próximos 10 ou até 20 anos. Hoje já vemos iniciativas de computação sendo usadas para genética, desenvolvimento de novos remédios e tratamentos. Então existe essa fusão entre a chamada ‘ciência da vida’ e a tecnologia da informação e parte da computação. São cursos muito promissores”, aponta.

Ciência da computação, engenharia da computação, sistemas de informação, engenharia de software, áreas de inteligência artificial, análise de dados e segurança cibernética são algumas das qualificação que estão mais em alta e que mais geram oportunidades.

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CESAR
O CESAR oferece três cursos na área de tecnologia e pretende lançar mais sete novas qualificações. Foto: divulgação

Embarque Digital

Um caminho que vem sendo percorrido na direção de fazer com que as vagas geradas no Recife sejam ocupadas por recifenses é o programa Embarque Digital (ED). Criado em 2021, o ED oferece bolsas de estudo em cursos de tecnologia para alunos egressos da rede pública. Com um diferencial: o curso é demandado pelo mercado e é formatado para esta demanda, em cinco faculdades parceiras. “Havia um gap, uma distância muito grande entre os cursos que eram ofertados e a necessidade das empresas. O próprio Embarque Digital nasce entendendo a necessidade das empresas para capacitar esses tecnólogos pra essas empresas especificamente”, explica a Secretária Executiva de Desenvolvimento e Inovação da Prefeitura do Recife, Gelisa Bosi.

Os cursos do ED duram dois anos e meio; é um superior tecnólogo. No primeiro ano, 200 estudantes foram contemplados. No ano seguinte, em 2022, embarcaram 600. Para este ano, a previsão é beneficiar mais 600 pessoas. Matheus Paiva é um destes estudantes. Ingressou no curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas nas primeiras turmas programa e, antes mesmo de concluir a formação, já está empregado. “Dentro do programa, a gente faz uma imersão, numa empresa da área de tecnologia e lá dentro a gente constrói projetos que estão alinhados com o que os clientes da empresa precisam. Eu fiz um projeto, meu projeto ficou entre os melhores e eu ganhei um estágio. Agora, em janeiro, eu fui contratado para uma vaga efetiva”, contou o universitário.

Matheus já havia feito uma formação antes do ED, em Gestão da informação. E a trilha que percorreu a uma vaga de emprego, ele acredita, foi o formato de formação personalizada para o que o empregador busca. “A minha turma é toda do Embarque e é completamente focada na necessidade do mercado. Esse é um grande diferencial, eu percebo claramente nas disciplinas, nos professores, nas atividades, como tudo é diferente do meu curso anterior”, avalia o estudante.

Matheus Paiva, estudante do Embarque Digital
Matheus Paiva vai terminar a formação pelo Embarque Digital este ano, mas já conquistou uma vaga de trabalho na área de TI. Foto: acervo pessoal

O Porto Digital é parceiro da Prefeitura do Recife no programa. Segundo o presidente, Pierre Lucena, os números que colocaram Recife no topo do ranking das capitais com mais estudantes de tecnologia são de 2021, quando o Embarque Digital estava ainda nos primeiros grupos de formação. A tendência é que, as próximas edições do Censo do Ensino Superior elevem ainda mais o posicionamento do município no cenário de formação em tecnologia do país. Para ele, programas de inclusão e que promovam a diversidade dessa mão de obra são fundamentais. “Trazer pessoas da escola pública, formar, encaminhar para o mercado de tecnologia, que é um mercado essencialmente de busca de soluções para a vida cotidiana, é um ciclo que muda tudo, muda por quem e pra quem essas soluções são desenvolvidas; muda a sociedade, muda o ecossistema das cidades”, avalia.

Os próximos passos

No Recife, Gelisa Bosi acredita que ter na cidade o maior volume de pessoas se preparando para o mercado de tecnologia atrairá mais empresas do setor, o que, consequentemente, ampliará a oferta de oportunidades para estes jovens. “A cidade já é vista como um polo de tecnologia, com benefícios específicos para empresas da área. Já temos o olhar do país e até internacional em relação a esse ambiente favorável à inovação. E ter mais pessoas estudando TI [tecnologia da informação] significa que teremos cada vez mais pessoas qualificadas. É um ciclo: agora, o país sabe que aqui se oferece o que o mercado está precisando e, consequentemente, isso faz as pessoas se qualificarem para disputarem esses postos de trabalho”, pondera.

Pierre defende que as fronteiras desta formação sejam expandidas e extrapolem o território recifense. “A ampliação dessa realidade para outros municípios do estado é urgente. Eu já tive estudante bom, pronto pro Embarque, mas que eu não pude trazer para o programa porque ele era morador de Olinda. Nós já iniciamos uma conversa com o governo do estado pra que a gente amplie o programa. É preciso levar pra outros municípios, outras regiões, dar a mesma oportunidade para o estudante do interior, por exemplo, lembra Lucena.

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