O IPCA-15 para de cair e os preços seguem altos nos mercados

O preço dos alimentos é apenas uma variável do IPCA, que reflete o comportamento de vários setores, como saúde, transporte, entre outros.
Apesar da queda do IPCA, cesta básica cresce acima da inflação. Foto: Freepik

Depois de dois meses de deflação, a prévia da inflação, o IPCA-15 voltou a subir 0,16% em outubro, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira (25) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Durante o período de queda do IPCA, os preços dos alimentos seguiram em alta e acabam de registrar nova alta, contrariando as expectativas do mercado e pressionando o orçamento das famílias mais pobres. O cenário causa um questionamento sobre o motivo das reduções de prévias da inflação não terem se refletido nos preços dos alimentos.

O IPCA é um importante agregador de índices de preços, produzido pelo IBGE e eleito pelo Banco Central (BC) como um indexador da economia para fins de correção monetária e busca aferir a variação do custo de vida médio de famílias com renda de 1 a 10 salários mínimos (R$ 12.210).

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O economista e sócio-diretor da PPK Consultoria, João Rogério Filho, explica que o IPCA é um modelo de estimativa do custo de vida médio, ou seja, o custo dos alimentos é apenas um dos índices que compõem o cálculo. Nele, também é incluído as variações de preços de setores como transporte, saúde, habitação, entre outros. “O fato dessa expectativa estar caindo faz com que alguns itens mais relevantes na nossa cesta de consumo apresentem uma performance distinta do que é o consolidado de todas essas despesas”, diz.

Além disso, o boletim Focus, pesquisa do BC com membros importantes do mercado financeiro, mostra expectativas de investidores sobre o mercado, o que não necessariamente se reflete nos números oficiais. Assim, o número divulgado pelo IBGE difere do boletim, e os preços nas gôndolas dos mercados têm, em média, aumento acima da inflação oficial medida pelo IPCA-15.

“A cesta básica no Recife subiu 18,51%, custa R$ 580, ou seja, quase 3 vezes o que subiu a inflação. Quando chegar janeiro e a gente discutir o aumento do salário mínimo, se for norteado pela inflação, ele subiria 7,17%, mas a comida subiu 18,21%”, explicou o economista.

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João Rogério Filho explica que o reajuste dos salários pelo IPCA causa corrosão no poder de compra. Foto: Carius Pontes

Corrosão salarial

João Rogério destaca como esse fenômeno de corrosão do poder de compra das famílias vem se fortalecendo nos últimos anos e causando índices alarmantes de fome no país. “Quando tenho uma família com renda de até 10 salários mínimos, a gente imagina que a participação de uma cesta básica dentro desse orçamento seja em torno de 5%. Só que uma família com 1 salário mínimo de renda, isso é quase metade. Se não reajustar o salário pelo valor da alimentação, a pessoa vai passar fome”.

Por que tão caro?

A alta da moeda estadunidense eleva preços de produtos essenciais para o brasileiro. Foto: Pixabay

A maior razão para a manutenção dos preços tão elevados nos supermercados, de acordo com João Rogério Filho, é a conexão que o custo de alimentos muito consumidos pelos brasileiros tem com o dólar.

“Podemos dizer que o fator que mais afeta a alta dos preços dos alimentos é o dólar, uma vez que boa parte deles – ou pelo menos os que compõem de forma mais relevante a cesta de consumo típica de um brasileiro – está indexada ao mercado internacional, portanto, cotada em dólar. Proteínas animais, soja, milho, algodão e seu óleo, tudo isso está indexado ao dólar”, explica o economista.

Os preços nos supermercados têm sido influenciados principalmente pelo aumento nos preços das frutas (4,61%), da batata (20,11%), do tomate (6,25%) e da cebola (5,86%). Produtos como leite longa vida, óleo de soja e as carnes estavam em alta até então, mas tiveram redução na prévia do IPCA-15 de outubro.

Atualmente, a moeda estadunidense opera com instabilidade, oscilando após atingir o valor de R$ 5,35, frente à expectativa de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) possa desacelerar o ritmo de aumento da taxa de juros, o que poderia abrir espaço para a valorização de outras moedas, como o real.

Além disso, João Rogério também destaca outro fator de instabilidade nesse momento: a eleição vindoura. Menos de uma semana antes dos brasileiros irem às urnas para o segundo turno, o cenário de tensão e instabilidade preocupa o mercado financeiro tanto quanto a falta de clareza nas políticas econômicas de ambos os candidatos.

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