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Transposição trouxe segurança hídrica ao CE, mas falta acabar o Ramal do Salgado

A Transposição das águas do Rio São Francisco trouxe segurança hídrica a uma parte dos Estados do Ceará, Paraíba e Pernambuco. Mas isso só vai ser mais efetivo, quando forem concluídas as obras complementares. No primeiro dia da série de reportagens sobre o impacto da transposição, a matéria fala sobre a situação do Ceará

A transposição das águas do Rio São Francisco poderia estar beneficiando mais pessoas, caso as obras complementares tivessem sido concluídas. Foto: Raylton Alves/Banco de Imagens

O projeto de Transposição das Águas do  Rio São Francisco trouxe segurança hídrica a uma parte do Nordeste Setentrional, mas ainda faltam muitas obras complementares serem concluídas e até saírem do papel para a obra cumprir o propósito de beneficiar 12 milhões de pessoas na Região, como inicialmente estava previsto.  A boa notícia é que o governo federal retomou algumas obras importantes – como o Ramal do Salgado, no Ceará, e o Ramal do Apodi, na Paraíba. A parte  negativa: existem outras obras que ainda não são nem projeto para que esta água chegue a quem precisa. 

Às vezes até o que já está concluído, não tem condições de transportar mais água porque faltam equipamentos, como ocorre no trecho do Eixo Norte da Transposição no Ceará, que não pode transportar mais água, porque deveriam ter sido implantadas oito bombas nas estações elevatórias, mas só foram instaladas duas. A falta das bombas faz o Ceará atualmente ter uma capacidade de receber 25 metros cúbicos da transposição por segundo, o que corresponde a cerca de 25% do que era inicialmente previsto.

Ainda no Ceará, há locais em que o Eixo Norte da transposição deveria ter dois aquedutos cada um com a capacidade de transportar 50 metros cúbicos por segundo, totalizando 100 metros cúbicos por segundo, que poderiam ser recebidos naquele Estado. No entanto, foi construído somente um aqueduto com a capacidade de transportar 50 metros cúbicos por segundo. Em algumas localidades, a construção do projeto ocorreu de forma modular, como, geralmente, acontecem com os grandes e caros projetos de infraestrutura.

“Hoje, já precisaríamos de 50 metros cúbicos por segundo. Precisaríamos de mais duas bombas. A obra demorou um pouco para terminar e repercutiu nas obras complementares”, resume o secretário estadual de Recursos Hídricos do Ceará, Ramon Rodrigues. Segundo ele, o próprio governo federal está se comprometendo a licitar mais duas bombas para o Eixo Norte conseguir transportar 50m³ por segundo.

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As águas da transposição podem ser usadas por 4 milhões de habitantes no Ceará, caso seja necessário. “A gente recebe esta água, mas não recebe continuamente. Esta água só vem para a gente quando tem uma necessidade, por exemplo, nos últimos anos no Ceará tem chovido regular, então a gente não tem precisado muito dessa água do São Francisco, que é um sistema caro, que requer muito bombeamento, requer energia. Então a gente só usa quando efetivamente tem uma necessidade e as águas locais não suprem a nossa demanda”, conta Ramon.

Também chama a atenção o cuidado que o Ceará tem com água do São Francisco. Os cearenses têm uma companhia que faz a gestão da água bruta e a água do São Francisco só entra no sistema de distribuição daquele Estado, quando ocorre uma liberação da companhia, que avalia a necessidade do uso da água. “A gente que é daqui, já viu o que é seca, sabe muito bem o valor da água”, diz Ramon.

Atualmente, as obras complementares a transposição mais importantes para o Ceará são: o Ramal do Salgado e o Ramal do Apodi. O Ramal do Salgado está em construção e vai levar a água do Eixo Norte até a Grande Fortaleza. Atualmente, a água do São Francisco chega a capital cearense pelo Castanhão. Com o Ramal do Salgado, a distância para a água chegar em Fortaleza terá uma redução de cerca de 100 km, de acordo com informações do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR). Esta etapa do empreendimento vai demandar um investimento de R$ 434 milhões e está sendo bancada com recursos federais.

Também em construção, o Ramal do Apodi, no Rio Grande do Norte, é importante para os cearenses, porque vai permitir que a água do Velho Chico chegue ao Ramal do Salgado. Cerca de 20 km depois do Ramal do Apodi captar a água do Eixo Norte, ele vai ter uma derivação que vai abastecer o Ramal do Salgado. Ambos os ramais estão em obras realizadas pelo governo federal. “A nossa expectativa é de que ambos sejam concluídos neste governo”, comenta Ramon.

O primeiro trecho do Eixo Norte que fez a água do São Francisco chegar ao Ceará foi inaugurado em junho de 2020, pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL). Isso ocorreu 13 anos depois do início das obras, que começaram em 2007. Na época, a água chegou a Barragem de Jati, a porta de entrada para o sistema adutor do Castanhão, que liga o Sul do Estado a Região Metropolitana de Fortaleza.

Barragem de Jati, no interior do Ceará, que passou a receber água da transposição do São Francisco. Foto:Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará

Entenda o que é a transposição do São Francisco

As obras da transposição do Rio São Francisco foram iniciadas em 2007, no segundo governo do presidente Lula (PT). A demora na conclusão das obras ocorreu, por vários motivos, inclusive por falta de repasse de recursos federais, a instabilidade política que resultou no impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e a maior recessão da história do Brasil, que ocorreu entre o segundo trimestre de 2014 e o final de 2016, entre outros.

O projeto da transposição prevê a construção de 477 quilômetros de canais, didividos  em dois eixos: o Leste e o Norte, que levariam água a 12 milhões de pessoas em 390 municípios nos estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, que são atingidos por estiagens com frequência.

O Eixo Norte capta a água em Cabrobó e passa por Salgueiro, Terranova e Verdejante, em Pernambuco; Penaforte, Jati, Brejo Santo, Mauriti e Barro, no Ceará; em São José de Piranhas, Monte Horebe e Cajazeiras, na Paraíba. Já o Eixo Leste começa em Floresta (PE) e atravessa os municípios pernambucanos de Custódia, Betânia e Sertânia; acabando em Monteiro, na Paraíba.

Os dois eixos incluíam a construção de 13 aquedutos, nove estações de bombeamento, 27 reservatórios, nove subestações, 270 quilômetros de linhas de transmissão em alta tensão e quatro túneis.

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