Antônio Campos vai acionar Justiça contra o restaurante Zeppelin no Recife Antigo

Polêmica em torno do projeto sé cresce.
O projeto, chamado de REC Cultural, vai ocupar dois prédios, um na Avenida Rio Branco, 23, e outro Marquês de Olinda, 58, ambos construídos entre as décadas de 1920 e 1930. Foto: Iphan

O ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e pré-candidato à Prefeitura de Olinda, Antônio Campos, vai representar ao Ministério Público Federal (PF) contra aprovação do restaurante Zeppelin pelo superintendente do IPHAN, Jacques Ribemboim. A iniciativa também atinge a autorização para a execução do empreendimento feita pela Prefeitura do Recife.

“Entrarei com representação para abertura de inquérito civil contra a autorização do IPHAN e pela ampla ouvida dos interessados, que certamente poderá levar a uma revisão do projeto ou o ajuizamento da ação competente para sustar essa grave agressão à preservação das características essenciais e o paisagismo do centro do Recife”, diz Antônio Campos, em nota.

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A ocupação dos espaços foi autorizada pelo superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Pernambuco, Jacques Ribemboim, que discordou do corpo técnico co Iphan. O projeto havia sido analisado recentemente e rejeitado, por unanimidade, pelos técnicos do órgão, que alegaram a descaracterização dos prédios ao patrimônio histórico, a partir da implementação do restaurante em formato de zeppelin na cobertura dos imóveis tombados.

A iniciativa, denominada REC Cultural, será instalada nos imóveis nº 23 da avenida Rio Branco e na edificação vizinha, que fica na avenida Marquês de Olinda, nº 58, onde funcionou o Santander Cultural.

Na noite desta quinta-feira, Campos soltou outra nota: “Além da representação ao MPF para abertura de inquérito civil , estarei pedindo ao Conselho Estadual de Política Cultural de Pernambuco medidas urgentes quanto aos prédios onde se pretende instalar o Restaurante Zeppelin, com início de tombamento, se já não for, e medidas cautelares de suspender licenças e promover embargos, até a análise mais aprofundado do projeto. Uma equipe de advogados e urbanistas em breve divulgará um documento àa sociedade pernambucana. Não ao projeto do Restaurante Zeppelin, na forma proposta!”

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O ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), entre junho de 2019 e janeiro de 2023, o advogado e escritor pernambucano Antônio Campos se manifestou contra a aprovação. Foto: Reprodução/ Facebook

Campos atesta que “o projeto do Restaurante Zeppelin , no Centro do Recife, na forma que foi aprovado pelo Iphan, contra os pareceres técnicos e opiniões de várias entidades e autoridades em conservação, é algo que precisa ser revisto. Tenho também lutado pela revitalização do centro do Recife. Na Fundaj, fizemos o cinema do Porto Digital, que é sucesso. Estamos estudando trazer de volta o Bar Savoy, para ajudar na retomada do centro”, rememorou o advogado, que dirigiu a Fundaj de junho de 2019 até janeiro de 2023.

A REc Cultural, em comunicado oficial, se posicionou. O diretor-geral Roberto Souza Leão justificou que a implantação do projeto tem por objetivo fomentar as atividades cultural e turística. Segundo ele, “o projeto é mais uma opção para o turista visitar o Bairro do Recife”.

De forma independente, o cineasta Kleber Mendonça Filho apoiou a movimentação feita pelo IAB-PE. Foto: Reprodução/ Instagram

Polêmica crescente

Adotando uma postura independente e desvinculada de Antônio Campos, o cineasta pernambucano Kléber Mendonça Filho, que aborda este tipo de temática em suas obras, como Aquarius e Retratos Fantasmas, também manifestou apoio a causa levantada pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil-PE (IAB-PE). “Ocupar o centro respeitando o patrimônio histórico. Apoio os técnicos do Iphan. Não é fácil proteger a cidade da mentalidade de shopping center que a tomou”, diz. 

O IAB-PE, o Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da UFPE; o Núcleo Pernambuco do Icomos Brasil e o Icomos Brasil assinaram uma Carta de Apoio ao Corpo Técnico do IPHAN-PE assinaram nota contra a aprovação do projeto.

Na nota, o grupo reitera o apoio incondicional apoio à equipe técnica do IPHAN-PE, que estaria agindo de forma coerente com a atribuição que lhe cabe no sentido de zelar no cumprimento das orientações para preservação do conjunto tombado do Bairro do Recife que conforma uma paisagem singular.

“A reutilização do imóvel é desejada e bem vinda e o uso proposto poderia plenamente absorvido pelo edifício objeto de intervenção, sem a inserção do novo e alienígena volume proposto. Com certeza a sociedade pernambucana, com seu elevado capital cultural, saberá valorizar uma intervenção que parta da preservação de nosso patrimônio. Ser moderno é ser sustentável e entender o valor cultural e econômico de nossos patrimônio plenamente preservado, vivo e utilizado, tirando partido de suas características singulares”, complementa a carta.

Carta de Apoio ao Corpo Técnico do IPHAN-PE. Foto: Reprodução/ IAB-PE
Carta de Apoio ao Corpo Técnico do IPHAN-PE. Foto: Reprodução/ IAB-PE
Carta de Apoio ao Corpo Técnico do IPHAN-PE. Foto: Reprodução/ IAB-PE

REC Cultural

O projeto, chamado de REC Cultural, vai ocupar dois prédios, um na Avenida Rio Branco, 23, e outro Marquês de Olinda, 58, ambos construídos entre as décadas de 1920 e 1930. A empreitada fica próxima ao Marco Zero, local conhecido nacionalmente por ser ponto turístico, recebendo, inclusive, a apoteose dos carnavais recifenses ao longo de anos.

Praça do Marco Zero, com o prédio central da foto, que será modificado. Foto: Reprodução Facebook/ Prefeitura do Recife

Para Jacques Ribemboim, superintendente do IPHAN-PE, “trata-se de um investimento privado de interesse público, reforçando a vocação do bairro do Recife como um importante cluster turístico e cultural, com geração de renda e emprego”.

O superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Pernambuco, Jacques Ribemboim. Foto: Reprodução/ Facebook

Já o Diretor Geral do REC Cultural, Roberto Souza Leão, endossa o posicionamento de Ribemboim ao explicar detalhadamente o projeto. “O projeto do novo Centro Cultural tem como pilares principais a valorização da arte e cultura pernambucanas e a transformação de jovens e crianças através da arte e educação. O espaço irá abrigar exposições, aulas, cursos, oficinas, workshops e outras atividades, contando com uma infraestrutura que segue as exigências dos parâmetros internacionais”, relatou. 

“Nosso objetivo é contribuir para a manutenção e fomento de uma atividade cultural cada vez mais presente na vida do cidadão pernambucano e como mais uma opção para os turistas que visitam o Bairro do Recife, com a disponibilidade de um ponto de informações turísticas no principal acesso do edifício. O REC é fruto de um projeto que respeita a nossa história, memória, arte, cultura e patrimônio, gerando oportunidades econômicas e culturais, enriquecendo ainda mais o Recife e o estado de Pernambuco”, reforçou Roberto Souza Leão. 

Porém, no entendimento de Roberto Souza Leão o projeto foi desenvolvido em estreita colaboração de profissionais que tratam com muita seriedade a preservação do patrimônio histórico, além de contar com o envolvimento ativo de membros da comunidade e especialistas em arte, cultura, turismo, arquitetura e urbanismo. 

Porém, as afirmativas do diretor do REC Cultural parecem não corresponder à realidade dos fatos, já que algumas instituições manifestaram apoio ao corpo técnico do próprio Iphan, que já havia se pronunciado contra o investimento.

Já a Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Política Urbana e Licenciamento, fez alguns apontamentos técnicos deixando o caminho livre para a realização do empreendimento, mas deixou que a decisão fosse tomada exatamente pelo Iphan-PE, ainda em 23 de janeiro deste ano, como mostra o documento abaixo:

“A reversibilidade da intervenção eliminará os possíveis impactos sobre os valores patrimoniais determinados já que atende às demandas artísticas necessárias ao funcionamento do centro cultural, sem que a intervenção signifique alteração do gabarito ou volumetria dos imóveis protegidos. Ressaltamos no entanto que, antes de solicitarmos o desmembramento dos processos, por se tratar de imóveis inseridos na poligonal de tombamento federal com indicação de destaque, faz-se imperiosa e necessária a análise e aprovação do Iphan/PE para desfecho dos respectivos licenciamentos”.

Zeppelin no Recife

Em 22 de maio de 1930, o dirigível Graf Zeppelin fazia sua primeira viagem ao Recife. Foto: Prefeitura do Recife/ Divulgação

Em 22 de maio de 1930, o dirigível Graf Zeppelin fazia sua primeira viagem ao Recife, sendo também o primeiro veículo aéreo a cruzar o Oceano Atlântico, vindo da Europa para a América Latina.

O Graf Zeppelin tinha 236 metros de comprimento e realizou grandes viagens no início do século 20. No Recife, a tripulação e os passageiros do dirigível desembarcavam e ele era reabastecido com gás e suprimentos.

O prefeito do Recife à época, Francisco da Costa Maia, chegou a decretar feriado municipal e cidade se preparou durante meses para receber o zeppelin. Segundo registros jornalísticos da época, cerca de 15 mil pessoas foram até o Jiquiá acompanhar a chegada do dirigível.

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