A Companhia do Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) quer destravar gargalos que reduzem o potencial da apicultura em Pernambuco. Por isso, aposta no fomento a arranjos produtivos locais para fortalecer os produtores, reduzir a clandestinidade e assegurar a qualidade do produto.
Um exemplo dessa diretriz é a construção da Unidade de Extração e Beneficiamento de Mel de Dormentes, no Sertão, que vai atender cerca de 30 associados à entidade local de apicultores. A obra vai começar na próxima segunda-feira (11), com investimento de R$ 524 mil aportado pela companhia.
Ao lado de Petrolina, Afrânio e Santa Cruz, também no Sertão pernambucano, Dormentes movimenta R$ 11 milhões por ano com a apicultura, segundo a Codevasf. O número é considerado defasado devido às subnotificações junto aos órgãos oficiais e à falta de espaço para os produtores elevarem o valor agregado do mel, já que parte deles não dispõe do Registro de Inspeção Estadual e, por isso, não pode comercializar em Pernambuco.
A produção acaba nas mãos de atravessadores, que a destinam para o entreposto de Picos (PI), segundo maior exportador de mel do país. Lá o produto é envasado e abastece o mercado nacional e internacional, turbinando os resultados de um segmento que, só com exportações, faturou US$ 26 milhões em 2022.
Mel sem atravessadores
“Temos uma apicultura muito dependente de atravessadores, que levam a produção quase toda para o Piauí, onde há entrepostos certificados que vendem para o Brasil e o mundo. No norte de Minas Gerais, por exemplo, a Codevasf faz um trabalho de incentivo há nove anos, e em 2023, os apicultores locais faturaram R$ 190 milhões. Imagine uma ação desse tamanho aqui. É um desafio que temos abraçado”, afirma o superintendente da Codevasf em Petrolina, Edilazio Wanderley.
O gestor lembra o período em que foi secretário de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude de Pernambuco, entre maio e dezembro de 2022, e esteve à frente do Pernambuco que Alimenta, versão estadual do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) do Governo Federal. A iniciativa viabilizava a aquisição de itens da agricultura familiar para destinação a famílias em vulnerabilidade social.
Oitenta mil kits com banana, melão, inhame, ovos e outros produtos foram distribuídos, mas houve problemas com o mel. “Esse item estava previsto, só que tivemos entraves devido à dificuldade com as certificações”, conta.
Casa de Mel é “divisor de águas”
A Unidade de Extração e Beneficiamento de Mel de Dormentes chega para contribuir com a superação desse cenário, já que concentrará a atividade dos produtores, com controle de qualidade e maiores possibilidades de obtenção do Registro de Inspeção Estadual, a cargo da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro).
O espaço, que fica a cerca de três quilômetros do centro da cidade, vai contar com área de recepção, sala de processamento e decantação, sala de embalagem, sala de envase, sala de expedição, área de repouso, sala de administração, banheiros, vestiários e lavanderia.
A expectativa é de que a obra fique pronta ainda em 2024 e viabilize a produção anual de 70 toneladas de mel, com possibilidade de expansão desses números. “Essa Casa de Mel foi muito sonhada por nós. Há vários anos estamos querendo isso. Nós não temos o registro do nosso mel por não contar com uma Casa de Mel. Nosso produto acaba saindo como sendo do Piauí. Agora, estamos com as mãos estendidas para receber esse espaço e termos o mel de Dormentes”, declarou o apicultor Manoel Nascimento, que falou em nome do segmento na solenidade de anúncio do equipamento, realizada na última terça-feira (5).
Além do incentivo da Codevasf, ações estaduais também buscaram amenizar as dificuldades do setor nos últimos anos, ainda que os produtores se queixem da falta da certificação do produto. Segundo a prefeita de Dormentes, Josimara Cavalcanti, a associação chegou a ser contemplada em um edital do Programa Força Local, que surgiu em 2019 para apoiar o desenvolvimento econômico e social de arranjos produtivos locais. Na ocasião, conquistou um veículo para transportar o mel. Além disso, após uma doação, a entidade passou a ocupar um galpão para armazenar o produto em melhores condições.
“A falta de certificação é, de fato, uma dificuldade que temos encarado, inclusive enquanto Cisape [Consórcio Intermunicipal do Sertão do Araripe Pernambucano]. Mas cito também o Força Local, durante o Governo Paulo Câmara, e essas ações da Codevasf como iniciativas que têm ajudado a produção de mel em nosso município. A Casa de Mel é muito importante para melhor atender nossos apicultores e potencializar a produção. Considero um divisor de águas”, avalia a prefeita, acrescentando que a expectativa é de que o novo espaço fortaleça a criação de empregos diretos e indiretos na região, aquecendo a economia.
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