Crescimento próximo de zero e alta da inflação indicam que o setor não deve avançar no próximo ano
Por Samuel Santos
A indústria pernambucana chega ao final de 2021 sem muitos motivos para comemorar. De acordo com os dados do IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor industrial do Estado caiu 3,7% no terceiro trimestre deste ano, se comparado ao igual período do ano passado. Apesar da retração, no acumulado do ano, o segmento apresentou elevação de 7,9% entre janeiro e outubro, o que evidencia uma discreta tendência de recuperação.
O desempenho não foi surpresa para os empresários do setor, que já esperavam um 2021 sem grandes avanços. Conforme as projeções dos especialistas, este ano seria para reorganizar a “casa” depois das perdas significativas acumuladas em 2020.
De acordo com o economista da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (FIEPE), Cézar Andrade, embora o ano passado tenha começado mal, em razão da primeira onda da Covid-19 no Brasil, o setor industrial se manteve aberto, por ser uma atividade essencial. “Isso gerou uma demanda represada e, com a reabertura dos demais setores econômicos, a atividade produtiva foi muito demandada”, explicou.
Diferentemente do fim do ano passado, em 2021, a indústria produziu menos por conta do excesso de estoques e também pela dificuldade de adquirir matéria-prima no mercado. Essa tendência se justifica quando a Produção Industrial Mensal (PIM-PF), medida pelo IBGE, é analisada. De janeiro a outubro deste ano, o resultado da PIM-PF foi pífio e atingiu o razoável 0,7%, na comparação com 2020.
Na outra ponta, os resultados dos PIBs de Pernambuco e do País apresentaram resultados diferentes e positivos no terceiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2020. O PIB do Estado cresceu 2,4% e o do Brasil atingiu 4% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. “Isso aconteceu por conta da reabertura dos demais setores, o que provocou uma guinada maior em ambos os resultados, já que o crescimento deste ano foi em cima de um desempenho muito ruim registrado em 2020. Qualquer melhora em cima de zero é boa”, destacou Andrade.
O desemprego é outro fator que preocupa e emperra o processo de recuperação econômica. Pernambuco fechou o ano com uma das maiores taxas de desocupação do País. Atualmente, o Estado está com 19,3% da sua população desocupada e lidera o ranking dos estados brasileiros na mesma situação, à frente da Bahia (18,7%), do Amapá (17,5%), de Alagoas (17,1%), de Sergipe (17%) e do Rio Grande do Sul (15,9%). Pernambuco também está acima da média do Brasil, que, atualmente, está com 12,6% da sua população economicamente ativa sem emprego.
Mesmo em um cenário difícil, a indústria conseguiu gerar oportunidades este ano, como forma de repor o que foi perdido durante o período mais crítico da pandemia. O saldo de empregos gerados pelo segmento no acumulado de janeiro a outubro de 2021 é de 15.785 postos.
As oportunidades se concentraram em grande parte na construção civil, que vem dando sinais de recuperação. “Num país em crise, o emprego é o último ponto a se recuperar e na indústria estamos vendo que, dia após dia, o segmento vem resgatando o seu quadro de pessoal de antes da pandemia, motivado, sobretudo, pelo reaquecimento da construção civil”, afirmou Cézar Andrade.