
O impacto das taxas impostas pelo governo Trump podem se tornar uma dor de cabeça para a exportação de aço no Ceará. No início de março, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, havia anunciado a tarifa de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio nos EUA. No último dia 3 de abril, foi a vez de entrar em vigor a taxa de 10% em impostos para as mercadorias que entram em território americano.
Dados do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE) apontam que os três maiores destinos das exportações cearenses são: Estados Unidos, México e França. Produtos do setor siderúrgico (ferro fundido, ferro e aço), calçados, peixes e crustáceos foram os principais responsáveis pelas vendas para os Estados Unidos.
De acordo com o Centro Internacional de Negócios do Ceará (CINCE), vinculado à Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), os Estados Unidos são o principal parceiro comercial do Ceará. De janeiro a outubro de 2024 foram comercializados US$ 591,44 milhões (preço FOB), com uma participação de 46,40% no total das exportações do Ceará (US$ 1.275,09 milhões).
A Arcelor Mittal, com unidade no Ceará, preferiu não comentar o assunto, informando que o tema está sendo conduzido pelo Instituto Aço Brasil. Através de nota, o Instituto Aço Brasil destacou que, como não haverá tarifa adicional aos 25% já anunciados em fevereiro para as exportações brasileiras de aço, a prioridade do setor continuará sendo a defesa da via diplomática negocial para restabelecer o acordo de cotas de exportação de aço firmado em 2018.
O acordo citado vigorou até 11/3/25 e previa a isenção de tarifas de importação ao aço brasileiro, considerando as cotas de 3,5 milhões de toneladas de semi acabados (placas) e 687 mil toneladas de laminados por ano. Ele foi resultado de árdua negociação, na época, entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos, para atenuar os efeitos da chamada Seção 232, instituída em maio de 2018 pelo presidente Donald Trump em seu primeiro mandato, que estabeleceu alíquota de importação de 25% para o aço, independentemente de origem.
“Em fevereiro deste ano, já em seu segundo mandato, o presidente Trump decidiu impor novamente a tarifa de 25% para as importações de aço, derrubando o acordo firmado em 2018. Desde então, a indústria brasileira de aço vem defendendo a reconstrução do mecanismo de cotas, o que também tem sido alvo de grande esforço negocial por parte do governo brasileiro e de sua diplomacia junto às autoridades norte-americanas”, aponta trecho da nota.
Usinas do EUA demandam aço
As usinas norte-americanas demandaram quase 6 milhões de toneladas de placas de aço em 2024, das quais 3,4 milhões de toneladas vieram do Brasil. “O não restabelecimento do acordo será prejudicial a ambos os países, razão pela qual o Aço Brasil mantém sua confiança na continuidade do diálogo entre os dois governos, de forma a retomar o fluxo de produtos de aço para os Estados Unidos”, finaliza a nota divulgada pelo Instituto.

O economista-chefe da Fiec, Guilherme Muchale, explica que, no geral, a tarifa colocada para o Brasil veio abaixo do que era esperado pelos principais atores do mercado. Entretanto, ele acredita que não seja um ponto a comemorar e sugere o aumento do diálogo entre os países, buscando um acordo que beneficie.
“Os Estados Unidos diminuíram a competitividade dos produtos brasileiros no mercado americano, por mais que, por enquanto, não seja possível aferir o efeito disso, dado que as maiores economias, como União Europeia e a China, tiveram um aumento de tarifa superior ao Brasil. De qualquer forma, é quase unanimidade, que os próximos passos para o Brasil é entender e observar como os demais parceiros comerciais americanos vão atuar, se haverá uma escalada de tarifas desses países e, até lá, com base na negociação, buscar novos caminhos, seja uma redução dessa tarifa colocada, seja uma renegociação com políticas de cotas para produtos. Dentro dessas primeiras semanas será muito importante o diálogo e que a diplomacia brasileira interaja com seus pares americanos”, analisa.
Sobre a exportação do aço, o economista ressalta que a produção e exportação do aço brasileiro é muito complementar ao aço americano, considerado uma matéria-prima para a indústria americana. “O aço que o Brasil exporta em maior volume e valor são os semiacabados, que, inclusive, é o mais exportado pelo Ceará, atualmente. A indústria siderúrgica americana não é autossuficiente para esse produto, então não conseguiria substituir essas importações, pelo menos no curto e médio prazo”, afirma.
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