A indústria naval e offshore do Nordeste quer participar dos processos para inclusão de estaleiros brasileiros na construção das novas plataformas da Petrobras – P-84 e P-85 – e da licitação para 38 barcos de apoio à produção de petróleo. As novas unidades de produção vão representar investimentos totais de US$ 8 bilhões (em torno de R$ 35 bilhões).
Na Bahia, o Estaleiro Enseada (Novonor) anuncia que vai estar nessas concorrências. Em Pernambuco, o Atlântico Sul Heavy Industry Solutions (EAS), procurado pela reportagem, não se pronunciou.
Apesar disso, considerando a expertise do EAS na construção do casco da plataforma semisubmersível P-55 e a recuperação judicial que vem enfrentando, é improvável que a planta se abstenha.
No caso das novas plataformas, ainda não foi definida pela Petrobras qual será a participação das empresas nacionais. O processo, iniciado em 2022, visando a contratação de um único player para 100% dos dois projetos vem gerando mal-estar entre o segmento e o Governo Lula.
Em meio a esse clima nada amistoso, nesta segunda-feira (22), a Petrobras divulgou a Seatrium, de Singapura, como vencedora do processo, sem maiores explicações sobre qual será o papel da vencedora.
Enquanto esse nó não é desatado, o CEO do Enseada, Ricardo Ricardi, afirma que o estaleiro vai participar de seja qual for o processo para escolha das empresas nacionais que vão trabalhar nas novas unidades de produção e também da concorrência dos platform supply vessels (PSVs).
Enseada quer novos contratos da indústria naval e offshore
Sobre os PSVs, Ricardo Ricardi diz que “apesar do Enseada ter sido concebido para a realização de grandes projetos de construção offshore, o estaleiro vê com grande interesse novas demandas para construções de embarcações, como os barcos de apoio“.
“São encomendas de menor complexidade, que se encaixam bem neste momento em que parte da indústria de construção naval e offshore brasileira procura retomar suas atividades”, acrescenta.
Mas, como o próprio executivo reconhece, o impacto para os estaleiros brasileiros que vierem a ser contratados para atuar no projeto das plataformas será de uma magnitude muito superior. Por isso, obviamente, essa captação é vista como prioridade pela unidade naval baiana.
“Nossa planta é um estaleiro offshore de 5ª geração, especialmente desenhado e construído para construção de módulos de FPSOs [plataformas flutuantes] como essas”, ressalta.
Indústria naval e offshore: entenda briga com a Petrobras
Após muita pressão dos estaleiros brasileiros, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou semana passada, de forma genérica, que a petrolífera vai estudar e apresentar uma estratégia para integrar a indústria naval e ofshore nacional à implementação da P-84 e P-85. Não adiantou qualquer detalhe.
Numa tentativa de apaziguar os ânimos, acenou ainda com a contratação de R$ 2,5 bilhões em barcos de apoio que serão fabricados no mercado interno. A estimativa é de produzir, no país, 38 embarcações de um pacote de 200. Esse investimento, no entanto, é visto pelos estaleiros como um aperitivo diante do montante previsto para as plataformas.
Indústria naval e offshore mandou manifesto a Lula
A fala de Jean Paul Prates veio em resposta a uma pressão nacional da indústria naval e offshore nacional.
Em março, quando já estava praticamente decidida a escolha da Seatrium, entidades que representam os players brasileiros do segmento enviaram uma carta ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, cobrando participação na P-84 e P-85.
O manifesto, com 17 sugestões, reivindica que as FPSOs sejam licitadas por blocos: cinco licitações para os módulos e uma para o casco das embarcações. Em linhas gerais, o setor pleiteia a oportunidade de disputar os contratos em áreas cujo know-how já detêm. Até o momento, essa mudança não aconteceu.
Vale ressaltar que a maior plataforma de petróleo da Petrobras até o início da década passada, a P-55, foi construída em grande parte por dois estaleiros brasileiros: o EAS e o Estaleiro Rio Grande (RS), que ficou responsável pela integração dos módulos.
Não há justificativa, portanto, para que a Petrobras movimente integralmente quase US$ 10 bilhões em Singapura e exporte milhares de postos de trabalho para a Ásia, ao invés de estimular a indústria naval e offshore brasileira e o mercado de trabalho nacional.
Qual o cronograma das novas plataformas?
As novas plataformas, que figuram na lista de maiores que já foram encomendadas pela Petrobras, não integram o plano estratégico da Petrobras para o quinquênio 2023-2028. A expectativa é de que entrem em operação em meados de 2029.
A capacidade de cada uma dessas FPSOs é de 225 mil barris de óleo/dia e 10 milhões de metros cúbicos de gás. As unidades são destinadas aos campos de Atapu e Sépia, na Bacia de Santos, em área do pré-sal.
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