A Orizon vai investir R$ 1,2 bilhão em plantas de biometano, o que inclui as unidades da empresa em Jaboatão dos Guararapes, a da Paraíba – localizada em João Pessoa- , a de Sergipe e a de Alagoas, entre outras. A matéria-prima para fazer o biometano é o biogás, gerado com a decomposição da matéria orgânica que a empresa recebe, como resíduo urbano doméstico. Parte do biometano a ser produzido em Jaboatão será vendida a Companhia Pernambucana de Gás (Copergás) a partir do segundo trimestre de 2025.
Em Jabotão dos Guararapes, o Grupo Orizon prevê vender 50 mil metros cúbicos por dia à Copergás por um prazo de 10 anos. Este montante poderá chegar a 70 mil metros cúbicos diários, segundo um fato relevante publicado pela companhia.
A área que vai produzir o biometano já começou a ser preparada em Jaboatão. A expectativa é de que a terraplenagem seja concluída até abril. “A obra civil que deve ficar pronta até dezembro”, afirma o gerente de operações da unidade de Jaboatão, Maiques Santos.
Atualmente, a Orizon usa grande parte do biogás produzidos nos seus ecoparques para gerar energia elétrica. Os novos investimentos incluem novas estruturas para passar a fazer o biometano, como é o caso da unidade pernambucana.
Para produzir o biometano, a empresa tem que retirar as impurezas do biogás e cumprir as especificações definidas pela Agência Nacional de Petróleo (ANP). O biometano pode ser injetado nas redes de distribuição de gás natural e muitas distribuidoras pretendem aumentar a quantidade deste tipo de gás nos seus dutos, porque é um produto mais verde e não tem origem fóssil, como o gás natural. A queima dos combustíveis de origem fóssil emite gás carbônico, contribuindo para o aquecimento global.
O biogás produzido em Jaboatão gera 28 megawatt-hora (MWh) em energia, é comercializado para o mercado livre, sendo suficiente para abastecer uma cidade de 120 mil pessoas. O combustível também gera uma outra receita para a empresa: a venda do crédito de carbono. O que gera o crédito de carbono é justamente a captação do biogás, realizada onde é enterrado o resíduo orgânico. Este emite metano na atmosfera ao se decompor. A captação do biogás impede essa emissão.
Combustível para as indústrias, como cimenteiras
Numa época em que uma parte da indústria, estabelece metas para descarbonizar os seus processos de produção, a unidade da Orizon de Jaboatão vai passar a fabricar o Combustível Derivado de Resíduo (CDR), que pode ser usado por cimenteiras e siderúrgicas substituindo combustíveis fósseis, como, por exemplo, o coque de petróleo.
O CDR é fabricado a partir de resíduos domésticos que não são recicláveis. Para fazer o CDR, a empresa implantou a maior Unidade de Triagem Mecanizada (UTM) da América Latina na unidade de Jaboatão. Lá, esteiras enormes separam os resíduos por tipos, usando inteligência e amostragem. “A filosofia é retirar o máximo possível”, diz o gerente regional para o Nordeste da Orizon, Ramon Brant. Isso significa que muitos materiais recicláveis são encaminhados para empresas parceiras para serem reutilizados como matéria- prima, como ocorre com o vidro, papelão, ferro, alumínio, entre outros.
“Com exceção do resíduo orgânico, aquilo que a gente não consegue reciclar, é transformado em CDR. Hoje, as cimenteiras usam coque de petróleo que é importado”, explica a gerente da UTM, Thais Matos. Já tem uma fábrica de cimento paraibana utilizando o CDR. As cimenteiras são responsáveis por 7% das emissões de gás carbônico em todo o mundo.
O CDR também pode ser usado em caldeiras e já tem uma empresa que utiliza caldeiras fazendo o licenciamento para fazer uso do mesmo na Paraíba. “As indústrias de cimento e siderúrgicas podem atingir as suas metas de descarbonização usando o CDR”, argumenta Thais, acrescentando que outros setores, como o cervejeiro e de cosméticos, podem usar este tipo de combustível.
O CDR pode ser entregue em grandes volumes, porque a UTM tem a capacidade de separar 100 toneladas de resíduos por hora. O meio ambiente também agradece porque os resíduos transformados em CDR não são enterrados. ‘A nossa expectativa é de que o CDR tenha grande procura por causa das metas de descarbonização das empresas”, conta Thais.
Transformação do aterro em Ecoparque da Orizon
Instalada numa área de 110 hectares, a unidade da Orizon em Jabotão era um aterro sanitário no começo dos anos 2000. Atualmente, o local recebe 700 caminhões por dia totalizando, em média, cerca de 4.500 toneladas de resíduos diárias. Vão parar lá os resíduos coletados pelas prefeituras do Recife, Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho, São Lourenço da Mata, Chã de Alegria e Vitória de Santo Antão, incluindo também os de Fernando de Noronha.
A filosofia do Ecoparque é tentar dar a destinação correta a tudo que possa ser reciclável, além de extrair outros produtos dos resíduos, como os citados acima. Até o chorume é transformado em água de reuso, alcançando cerca de 600 metros cúbicos por dia.
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