Atualizada às 22h27
*Por Fernando Ítalo e Paulo Goethe
Em nova demonstração de força para o mercado automobilístico nacional e a concorrência, 5.459 carros da BYD chegaram ao Porto de Suape num navio próprio da greentech chinesa. O desembarque, que deve durar dois dias e meio, é um recorde nas movimentações realizadas no Hub de Veículos do ancoradouro pernambucano.
Na estratégia da marca, a carga é valiosíssima, já que entre os modelos transportados está o SUV Song Plus, próximo lançamento da companhia no Brasil. O mais novo produto da BYD no mercado brasileiro tem previsão de chegar às concessionárias em junho, com valor abaixo dos R$ 200 mil.
Do litoral de Pernambuco, esses automóveis seguem, por via terrestre, para diversos pontos de venda em estados do Norte e Nordeste.
Carros da BYD chegam em navio que usa combustível fóssil
Os carros da BYD, de sete modelos da multinacional, foram transportados da China para o Brasil no Explorer Nº 1 BYD, navio oficial, de propriedade da marca, construído e entregue em janeiro no porto de Yantai, na província de Shandong.
Essa é a segunda viagem da embarcação – entregue à multinacional em janeiro – sendo a primeira no continente americano, onde a greentech está construindo seu maior complexo fabril fora da Ásia, localizado em Camaçari (BA).
A planta baiana começa a montar suas primeiras unidades – com insumos e componentes importados – no final deste ano e, no primeiro semestre de 2025, inicia a fabricação própria.
O navio, com 13 decks e acomodações para até 26 tripulantes, tem capacidade para transportar até 7 mil veículos. É do tipo roll-on roll-off – conhecido como ro-ro – devido ao uso das próprias rodas da carga ou de plataformas sobre rodas, para a movimentação.
O Explorer mede 199,9 metros de comprimento e 38 metros de largura. Essas dimensões inviabilizam operações no Porto de Vitória (ES), principal ponto na logística marítima da BYD no Brasil, já que o ancoradouro capixaba consegue receber embarcações com até 27 metros de largura. Ruim para Vitória, bom para Suape, que se firma na movimentação de veículos.
Quanto à tecnologia, o Explorer, ao contrário dos carros da BYD, não é elétrico nem híbrido, já que esse tipo de motor ainda não é adotado em escala comercial no transporte marítimo e se encontra em fase de testes. O navio utiliza dois combustíveis de origem fóssil: gás natural liquefeito e bunker de baixo enxofre.
O fato de uma greentech usar combustíveis fósseis na movimentação de veículos concebidos para contribuir na descarbonização da economia global evidencia o longo caminho que a indústria automobilística mundial ainda precisa percorrer para se tornar, de fato, sustentável. Mas não invalida a ação enquanto marketing para reforçar a mensagem sobre o poderio da BYD.
Explorer levou 27 dias para trazer carros da BYD
Nessa viagem, o Explorer levou 27 dias para trazer os carros da BYD, da China para o Nordeste. O navio atracou em Suape nesta segunda-feira (27), quando foi iniciado o descarregamento. A previsão é de conclusão nesta quarta-feira (29).
Essa é a quarta operação da BYD em Suape. A primeira foi em 15 de abril, com 1.972 unidades importadas. A segunda aconteceu em 1º de maio (695 veículos). A terceira ocorreu em 14 de maio (1.722 automóveis).
Uma quinta movimentação de grande porte deve ser realizada no porto pernambucano, em junho. O objetivo dessas remessas é garantir a entrada do maior número possível de carros chineses da BYD no Brasil, antes da nova elevação do imposto de importação de veículos elétricos e híbridos. Em julho, a alíquota para essa transação passa de 10% para 35%.
Carros da BYD alavancam greentech no ranking nacional
O crescimento das importações de carros da BYD, segundo a companhia, acontece para acompanhar o incremento das vendas. Em abril, a empresa se tornou a nona montadora em número de automóveis emplacados no país, no ranking geral de todas as marcas, divulgado pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
No acumulado de janeiro até o momento, a Build Your Dreams afirma ter vendido 25 mil unidades no país, o que se deve ao apelo dos seus automóveis para os early adopters da mobilidade zero carbono e, claro, a sua política de preços altamente agressiva, sempre abaixo da concorrência.
Essa competitividade tem sido fundamental para que outras montadoras revejam suas tabelas de veículos elétricos para baixo. Esse movimento dos concorrentes vem sendo observado desde o ano passado.
Vai ter carros da BYD híbridos no Brasil?
O “efeito BYD” no mercado automotivo nacional tende a se ampliar com a decisão da empresa de entrar no segmento de carros híbridos, no Brasil. Sem alarde, a greentech não apenas começou a importar veículos com esse tipo de motor, como também decidiu oficializar que o complexo de Camaçari vai produzir unidades com essa tecnologia.
Inicialmente, o projeto da empresa na Bahia – orçado em R$ 5,5 bilhões – era focado em modelos a bateria. A hibridização era citada pelos executivos que lideram o negócio no país como uma possibilidade.
O posicionamento mudou como reação à rival Stellantis, que anunciou em março seu plano estratégico 2025-2030 para a América Latina, com ênfase no Brasil. No planejamento, é clara a aposta do grupo franco-ítalo-americano na infraestrutura de etanol já existente no país e que a gigante automobilística do Ocidente vai concentrar seus esforços em carros híbridos (bateria e álcool).
As metas de produção da Stellantis até 2030, no mercado nacional, prevêem 70% de carros a bateria e etanol e apenas 30% de elétricos.
Além disso, a insegurança do consumidor brasileiro em relação a veículos 100% a bateria obviamente também pesou nesse redirecionamento.
Uma pesquisa divulgada em março pela plataforma OLX aponta que 64% dos brasileiros avaliam a compra de um carro elétrico.
No entanto, 26% dos entrevistados apontaram o preço como principal motivo que impede a aquisição. Seis por cento indicaram duvidar do custo-benefício desses motores. Dois por cento disseram ter desconfiança em relação à rede de recarga no mercado brasileiro.
Como o país ocupa papel central nos negócios da BYD, é natural que a companhia tente se alinhar ao panorama nacional. “O Brasil é, sem dúvidas, uma de nossas maiores apostas, em todos os sentidos”, diz o presidente da multinacional no mercado brasileiro, Tyler Li.
O conselheiro especial da marca no país, Alexandre Baldy, vai ainda mais adiante: “o Brasil hoje é o maior mercado para a BYD fora da Ásia, o que torna necessário acelerar a construção da nossa fábrica em Camaçari”.
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