O Terminal de Gás Natural Liquefeito (GNL) do Porto do Pecém foi desativado no final do ano passado. Isso vai fazer com que o Ceará fique com a demanda por gás natural restrita ao que pode chegar aquele Estado por gasodutos, que apresentam uma oferta limitada, segundo especialistas.
“O Ceará está na ponta ou porta de todo o gás vindo do Sudeste. É o último Estado dentro da infraestrutura existente. É uma urgência que a infraestrutura seja ampliada para garantir mais gás ao Ceará”, diz o diretor técnico da Companhia Pernambucana de Gás (Copergás), Roberto Zanella. O gasoduto que chega até o Ceará, é operado pela empresa TAG, e era conhecido, antigamente, como Nordestão, por ligar da Bahia ao Ceará pelo litoral. Este gasoduto recebe gás do Sudeste e leva até a Bahia.
Para não depender somente dos gasodutos, Zanella argumenta que o Ceará poderia obter também este tipo de combustível vindo de uma exploração de gás onshore que a Eneva vai fazer, a partir deste ano, na bacia do Parnaíba, no Maranhão. “Lá será construída uma planta de Gás Natural Liquefeito (GNL) para suprir três clientes que são a Gasmar, a Vale e a Suzano”, comenta. A Gasmar é a distribuidora de gás do Maranhão.
“Se fala muito em hidrogênio verde, que é uma promessa futura. Mas o presente passa pelo gás natural”, defende Zanella, acrescentando que todo projeto precisa de clientes âncora, aqueles que são grandes consumidores. O problema, segundo executivos do setor, é justamente quando a economia voltar a crescer e o Ceará estiver disputando um grande empreendimento que precise de gás natural, o que pode resultar em perda de competitividade. O Ceará também dispõe de energia limpa gerada por eólica, mas é considerada intermitente, porque pode parar a geração repentinamente, caso os ventos parem.
Principal cliente do terminal não se consolidou
Um dos principais clientes do Terminal de GNL do Pecém, o Regás, seria a termelétrica Portocem que foi vendida pela Ceiba Energy para a New Fortress Energy (NFE). Depois da venda, a NFE anunciou que planeja dividir a geração de energia que ocorreria na Portocem em dois projetos que a empresa tem em Barcarena, no Pará, e na TGS, em Santa Catarina. Desse modo, a não implantação da termelétrica no Ceará acabou com a expectativa do Regás ter um cliente âncora.
O Terminal de GNL do Pecém operou com uma capacidade ociosa de mais de 90% nos últimos quatro anos, período em que a economia não apresentou grande aquecimento econômico. Geralmente, o aumento de consumo de combustíveis, como o gás, ocorre nos momentos em que a economia está crescendo e novos empreendimentos estão sendo implantados.
Inaugurado em 2008, a unidade de regaseificação da Petrobras no Pecém, o Regás do Ceará, foi a primeira deste tipo no País. A Petrobras chegou a pensar em desativar o Regás do Ceará antes da crise hídrica de 2021, mas postergou para não comprometer a segurança do sistema elétrico, que acionou muitas térmicas para não faltar energia no Brasil. Mesmo assim, o terminal passou a maior parte daquele ano sem importar energia.
A reportagem do Movimento Econômico entrou em contato com a secretaria de Desenvolvimento Econômico do Ceará e com o Complexo Industrial Portuário do Pecém (CIPP). Em nota, o CIPP informou o seguinte: “Após a saída do navio da Petrobras em dezembro, a CIPP S/A irá receber os ativos do terminal de regás, que será hibernado até que novas térmicas a gás natural ou outros clientes de porte semelhante justifiquem a sua reentrada em operação”.
O comunicado também disse que “enquanto isso, a CIPP S/A também avalia a necessidade de descontinuar ou não esse terminal de regás no Píer 2 do Porto do Pecém para permitir a operação de amônia verde e outros combustíveis líquidos, de acordo com o plano de expansão da CIPP S/A nos próximos anos”. O Porto do Pecém tem mais de 30 memorandos de entendimentos de empresas interessadas em produzir hidrogênio verde naquele complexo industrial.
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