O método, largamente aplicado na solução de conflitos familiares, é direcionado pela consultora Ana da Fonte para o ambiente empresarial. No livro Organização Viva ela revela como os gestores podem fazer uso do processo
Por Patrícia Raposo
A constelação sistêmica organizacional pode não estar no vocabulário de sua empresa, mas já faz parte da realidade de diversas organizações. Ela tem sido a base para transformações de “cura”, na medida que ajuda na solução de conflitos que tendem a minar a “saúde” do negócio, podendo levá-lo à morte.
Em seu recém-lançado livro Organização Viva, a consultora pernambucana Ana da Fonte sintetiza sua experiência ao longo de quase 40 anos de contribuição atuando junto a diversas organizações e explica como a técnica tem levado muitos empresários a alcançarem maior prosperidade, ajudando inclusive na tomada de decisões. “A constelação mostra onde a organização está doente e porque está doente”, esclarece.
Ana da Fonte entende que as empresas têm alma, porque são feitas por pessoas, cujas emoções e energia influenciam no todo, ou seja, no sistêmico. “A saúde institucional, portanto, depende da investigação e de uma intervenção voltada ao estancamento da sangria para a expansão da prosperidade”, diz a autoria em seu livro.
É simples assim, mas, para ir mais fundo, é preciso compreender que Constelação Sistêmica é um método psicoterápico, desenvolvido pelo psicoterapeuta, teólogo, filósofo e pesquisador alemão Bert Hellinger. A técnica estuda as emoções e energias que, consciente e inconscientemente, acumulamos.
Com base em sua ampla atuação como terapeuta familiar, Hellinger pôde perceber como inúmeras experiências, desde a infância, são decisivas para a saúde emocional e como impactam diretamente nos comportamentos e nos resultados que se deseja alcançar na vida.
O método, largamente aplicado na solução de conflitos familiares, é direcionado por Ana da Fonte para o ambiente empresarial. Com ele, a consteladora consegue identificar de onde vem o desequilíbrio que gera impacto no negócio. “Pode estar em qualquer um, no líder ou num colaborador no meio do organograma da corporação, ou em ambos”, explica. Quando a fonte do problema é identificada, é feita intervenção para reverter o processo.
O Campo de Ressonância
Os sentimentos e emoções atuam em um campo invisível, o chamado Campo de Ressonância. “Ele é inerente a todos os seres vivos e cada ser tem informações individuais registradas nesse campo, que se intercruzam com os de outras pessoas ao ponto de não sabermos mais o que nos pertence e o que pertence ao outro”, explica Ana.
Muito disso é composto por emoções das quais não temos consciência. No Campo de Ressonância podem ocorrer explosões de criatividade ou de destruições, de acordo com as crenças dos envolvidos. “Nas organizações esse é o ponto crucial que precisamos desenvolver nos gestores e colaboradores, já que nem sempre o que estamos vendo com nossos olhos físicos é a realidade por inteiro”, explica.
Neste campo são tratados temas como o fortalecimento de vínculos, o fluir da confiança e a liberação de sentimentos ocultos nos colaboradores. Sentimentos como a inveja, que é muito presente no dia a dia do ambiente de trabalho.
Ana diz que a inveja surge entre aqueles participantes que não estão dispostos a pagar o preço por aquilo que desejam. “Invejar é negligenciar o potencial que existe em si mesmo para ambicionar o do outro, e sua superação ocorre quando o indivíduo decide mudar de atitude”.
A centralização é outro ponto a ser trabalhado. “O centralizador é o sujeito que acha que sabe tudo e que o outro não sabe nada. E isso gera desequilíbrio entre o que faz tudo e o que não faz nada. Um fica sobrecarregado e o outro desmotivado”.
É na memória e nos sentimentos que a Constelação busca a razão para o problema. O processo da Constelação acontece por meio de dinâmicas que possibilitam a exteriorização de conflitos “escondidos” pelas pessoas, buscando restaurar o equilíbrio do sistema.
Numa sessão de constelação, o constelador absorve a energia e tem sensações verdadeiras relacionada às pessoas, levando em consideração conceitos energéticos e fenomenológicos.
E no caso de uma organização, isso depende menos do indivíduo isoladamente e mais do conjunto de seus participantes, que devem atuar alinhados num propósito. Neste sentido, Hellinger ressalta a importância de três pilares para que as relações tenham sucesso: equilíbrio, pertencimento e segurança.
O equilíbrio se relaciona ao dar, receber e retribuir, o que favorece o aprofundamento dos vínculos. O pertencimento tem relação com o acolhimento que a corporação proporciona ao colaborador. A segurança tem dois vieses: quando a estabilidade pode levar o funcionário a perder seu poder criativo deixando-o acomodado ou quando o mantém sob pressão por resultados, levando-o a se sentir ameaçado caso não atinja suas metas. “O nível de estresse se eleva e a doença física ou emocional os envolve provocando acirramento de conflitos e sangrias energéticas”, explica Ana da Fonte.
“A organização é a soma dos colaboradores e se cada uma estiver no seu potencial máximo é óbvio que essa organização terá um espírito muito mais colaborativo e essa organização vai ter uma expansão sem limites”, reflete.
O Livro
Ana revela que levou quase 20 anos para concluir seu livro, que é um retrato de toda sua experiência. Nele, ela dá orientações sobre a cura do colaborador, do time e da organização, com exercícios e QR Codes para que se tenha acesso a vídeos com orientações e esclarecimentos.
“O livro é direcionado tanto aos que querem ser empreendedores de si ou para aquela pessoa que tem uma organização imensa e quer motivar seu time. Tem muitas dicas de liderança e dicas para trabalhos individuais”, explica.
Com o livro cada pessoa pode fazer seu próprio processo. “Temos inclusive um curso online sobre este livro para provocar o empreendedorismo. Sempre trabalhei com a ideia de que quando todos os colaboradores se tornam empreendedores na sua função, a empresa está livre para expandir e o céu é o limite”, conclui.
