O impacto das medidas restritivas sobre setores não essenciais

É grande a contradição entre o desempenho dos segmentos não essenciais com os ditos essenciais

A decisão do governo do estado de Pernambuco em prolongar as atuais medida restritivas até 6 de junho levou diversas lideranças empresariais a vir a público clamar por um olhar mais atento para as atividades econômicas. Não é à toa. Quando se comparam os desempenhos dos serviços essenciais com os não essenciais, verifica-se que há segmentos afundando com a pandemia e outros que dispararam em crescimento.

Por isso, presidentes de entidades, como a Câmara de Dirigentes Lojistas, Apesce, que é a associação dos shopping center e a Abrasel, que reúne os negócios de bares e restaurantes, foram convergentes em seus pronunciamentos após o anúncio das medidas.

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Os empresários desses setores vêm pedindo há algum tempo que os horários sejam estendidos em mais duas horas, pois existem negócios que estão trabalhando três horas por dia, como no segmento de bares, onde algumas casas abrem às 17h e têm que fechar às 20h. Diante da grave situação, as lideranças dizem aguardar que medidas sejam tomadas também para salvar os negócios.

No setor de bares e restaurantes a queda foi profunda. Um levantamento da empresa de serviços financeiros Alelo, sobre o consumo nesses estabelecimentos, na região Nordeste, revelou uma retração de 36,3% em março.

Setor de bares e restaurantes sofreram retração de 36,3% em março/Foto: Pixabay

Já no comercio, embora a percepção seja de que as lojas de rua não sintam tanto os impactos das medidas restritivas como os shopping, e isso por uma série de fatores, a realidade traduzida em números mostra que não é bem assim.

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O economista Rafael Ramos, que acompanha de perto a atividade do comercio há alguns anos, revela que em março o recuo neste setor foi 6%, um dos maiores dos últimos meses. E isso se justifica, segundo ele, pelas restrições impostas naquele mês, com os primeiros 15 dias com horários reduzidos para o funcionamento das atividades, e na segunda quinzena com uma quarentena mais rígida, onde só funcionaram atividades consideradas essenciais.

Outro fator que pesou para essa desaceleração acentuada foi o auxílio emergencial, que só começou a ser pago em abril e, ainda assim, com valor bem reduzido em relação ao que foi pago em 2020. “Não vai passar de 20% a injeção de valor no consumo”, calcula o economista.

Além disso, lembra ele, é preciso considerar o alto índice de desemprego em Pernambuco, que gira em 19%, algo em torno de 749 mil pessoas – isso é duas vezes a população da cidade de Caruaru. Se considerarmos os desalentados, o número sobe para quase 1 milhão de pernambucanos sem emprego.  “Com o mercado de trabalho deteriorado, fica difícil o retorno da confiança e do consumo, puxando para baixo o desempenho do comércio”, analisa Rafael Ramos.

E quando se analisam os números, é possível entender como se dá o impacto das medidas restritivas. Os segmentos que mais caíram foram exatamente os que foram atingidos pelas restrições: como as lojas de móveis (-23,2%), de eletrodomésticos (-24,5%), de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-23,3%), de tecidos, vestuários e de calçados (-8,6%).

Já os considerados essenciais, cresceram, como lojas de material de construção (+56,3%), operações de artigos farmacêuticos (+40,2%), de artigos de uso pessoal e doméstico (+38,5%), postos combustíveis e lubrificantes (+4,0%), além de um setor que causou muita controvérsia: o das concessionárias de veículos e lojas de peças. Esse setor cresceu nada menos que 80,6%. “Isso mostra como o decreto do governo interfere no desempenho das atividades”, pontua o economista.

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