A governadora Raquel Lyra (PSDB) e o CEO da empresa de origem dinamarquesa European Energy, Jens-Peter Zink, oficializaram ontem, por meio de contrato, a instalação da companhia que vai fabricar e-metanol no Porto de Suape. É a primeira planta deste tipo no Brasil. O investimento será de R$ 2 bilhões. Usado para abastecer navios, o e-metanol é produzido a partir da síntese do hidrogênio verde e do CO2 verde, usando energia limpa. A iniciativa marca o começo de um grande mercado de produtos verdes que sairá do setor sucroalcooleiro.
Na vanguarda deste cenário de transição para a energia limpa, está o Grupo EQM que iniciou, em abril passado, investimentos para fabricar o biometano. O grupo será o primeiro fornecedor de CO2 verde para a planta da European Energy em Suape. “O processo de fermentação do etanol gera subprodutos como o CO2 verde misturado com outros ácidos. Vamos fazer um processo de purificação deste CO2 verde, que será uma das matérias-primas a serem usadas na fábrica do e-metanol”, explica o diretor comercial do Grupo EQM, Paulo Júlio de Mello.
Para fabricar o CO2 verde, cada usina vai receber um investimento da ordem de 10 milhões de euros, o que corresponde a cerca de R$ 61,5 milhões. “Por enquanto, não posso dizer qual a usina, porque temos um acordo de confidencialidade”, argumentou Paulo. O Grupo EQM tem a usina Cucaú, em Pernambuco, e a Utinga, em Alagoas. Os investimentos para a purificação do CO2 devem ser concluídos pouco antes da entrada em operação da fábrica de e-metanol.
Energia limpa para e-metanol
Para o e-metanol ser reconhecido como verde, a sua fabricação precisa ser feita a partir do hidrogênio verde, do CO2 verde, utilizando também energia limpa. A expectativa é de que o hidrogênio verde seja fabricado pela própria European Energy em Suape e o CO2 verde venha das usinas localizadas nos Estados de Pernambuco, Paraíba e Alagoas.
O e-metanol a ser fabricado pela empresa de origem dinamarquesa vai substituir o óleo bunker usado em embarcações, o qual é fabricado a partir do petróleo, que é fóssil e contribui para o aquecimento global.
“O Brasil, e especialmente Pernambuco, possui alguns dos melhores recursos do mundo inteiro para produzir eletricidade barata, e é por isso que estamos aqui. Vocês têm algumas das melhores condições do mundo para a produção biogênica, o que significa que também há acesso ao CO2 biogênico. Portanto, acreditamos que o Brasil é um dos melhores países do mundo para produzir alto teor de hidrogênio e metanol que pode ser exportado”, disse, durante o evento, o CEO da European Energy, Jens-Peter Zink.
Ele estava se referindo às facilidades que o Estado terá para produzir o CO2 verde, também chamado de CO2 biogênico. Pernambuco é um grande produtor de etanol.
Ainda na solenidade de assinatura, a governadora Raquel Lyra afirmou que este investimento dialoga com a economia do futuro, que se faz presente já a partir dos dias de hoje. “Essas tratativas vêm acontecendo há um ano e meio. Isso tem muito a ver também, neste momento, com o investimento que está acontecendo no Terminal de Contêineres da Maersk”, contou a chefe do Executivo, se referindo a um terminal de contêiner da APM Terminals em Suape.
Será o segundo terminal de contêineres do porto pernambucano. A APM é uma subsidiária da empresa de origem também dinamarquesa A. P. Moller-Maersk, que já usa o e-metanol nos seus navios. A planta de Suape vai fornecer e-metanol para os navios da Maersk.
Pelo que foi divulgado, o projeto básico da planta de e-metanol será apresentado até 30 de abril de 2025, e as obras terão início seis meses depois, quando forem obtidas as licenças ambientais. A previsão é de que as obras comecem em outubro de 2025 e a fábrica entre em operação em julho de 2028.
Quando a fábrica iniciar a sua produção, a estimativa é de que 100 mil toneladas de e-metanol sejam movimentadas por ano no Porto de Suape. O empreendimento vai se instalar numa área de 10 hectares próximo ao Estaleiro Atlântico Sul e deve gerar 250 empregos diretos.
A fábrica de e-metanol não é o primeiro empreendimento da European Energy no Brasil. A companhia, que tem 23 escritórios em 18 países, tem dois projetos operacionais no Nordeste: o Complexo Eólico Ouro Branco e Quatro Ventos, respectivamente nos municípios pernambucanos de Macaparana e Poção, com capacidade de produzir 94 MW; e uma planta solar em Coremas, na Paraíba, de 93 MW. Essas unidades geradoras vão fornecer energia para a produção do e-metanol.
Novos mercados
Todas as plantas de biogás poderão produzir CO2 biogênico, segundo o economista e sócio da Datagro Consultoria, Bruno Wanderley. O CO2 biogênico também pode ser usado pela indústria alimentícia – que faz bebidas gaseificadas -, pelos fabricantes de extintores de incêndio, entre outras aplicações.
Atualmente, praticamente todo o CO2 gerado no processo industrial, como por exemplo a fabricação do etanol, vai para a atmosfera. “Este CO2 é compensado pela fotossíntese da cana-de-açúcar”, comenta Bruno.
“O setor sucroalcooleiro está entrando numa nova era de economia circular em que muitos dos seus subprodutos e resíduos serão matéria-prima para novos produtos que vão ajudar a descarbonizar o mundo”, sintetiza Eduardo Monteiro, presidente do Grupo EQM.
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