As articulações para implantação de um polo de H2V no Ceará avançam. De acordo com balanço divulgado nesta terça-feira (2) pelo governo cearense, o estado fechou 2023 com 30 acordos com instituições parcerias, empresas nacionais e estrangeiras, que sinalizam para investimentos de US$ 30 bilhões de dólares (R$ 145,7 bilhões de reais) em toda a cadeia do hidrogênio verde e derivados, como a amônia verde.
Entre esses acordos, três já evoluíram para pré-contratos totalizando investimento de US$ 8 bilhões (R$ 38,8 bilhões) e uma capacidade instalada de 6 gigawatts até 2034, com início da produção estimado para entre 2026 e 2027.
Esses investidores privados têm a partir de 2024 para tomarem suas decisões finais e assinarem contratos definitivos. A Fortescue, por exemplo, já deu início ao processo de licenciamento ambiental de seu projeto, se tornando a primeira empresa no Brasil a apresentar esse estudo para o desenvolvimento de um projeto de H2V em larga escala.
Ceará é o mais agressivo na guerra do H2V
Nessa briga pelo pioneirismo e protagonismo no H2V no Brasil, o Ceará – que tem como principais rivais neste setor Bahia, Pernambuco e mais recentemente o Piauí – conta com vários fatores a seu favor.
Entre os principais, estão o crescimento da geração eólica e solar no estado – fundamental para a indústria do H2V – o Porto do Pecém, uma rota de negócios para hidrogênio verde já formalizada entre o Ceará e o Porto de Roterdã e a posição estratégica em relação à União Europeia.
O Ceará tem ainda uma estratégia bastante agressiva do governo estadual, que tem se empenhado em todos os níveis para viabilizar a criação de um cluster do chamado combustível do futuro. Os esforços da Palácio do Abolição e das secretarias incluem a articulação com o setor privado em escala internacional para promoção dos diferenciais competitivos do estado para o H2V e um marketing ostensivo.
Outra frente de atuação da administração estadual é o canal de interlocução com o parlamento federal para acelerar o marco legal do hidrogênio verde. Para esse trabalho, o governo conta especialmente com o presidente da Comissão de Políticas Públicas sobre Hidrogênio Verde, o senador cearense Cid Gomes (PDT).
Governo destaca atuação no H2V
De acordo com o governo cearense, “o governador Elmano de Freitas tem priorizado e dado continuidade às políticas de energias renováveis de governos anteriores”.
A administração estadual destaca ainda que “as secretarias do Desenvolvimento Econômico, das Relações Internacionais e o Complexo do Pecém, têm trabalhado incansavelmente na promoção do estado para atrair empresas que enxergam no hidrogênio verde o grande pilar da transformação da matriz energética mundial”.
Já o secretário de Desenvolvimento Econômico, Salmito Filho, afirma que “investir em práticas sustentáveis na geração de energia limpa são preocupações do governo cearense”. “Aproveitar de forma consciente o sol e os ventos fortes, presentes em abundância no nosso Ceará, trará, resultados satisfatórios e transformadores na nossa economia”, acrescenta.
Fiec reforça articulação pelo H2V
Na esfera privada, o Ceará conta com um engajamento fortíssimo do empresariado local para viabilizar o polo, por meio da Federação das Indústrias do Estado do Ceará. A Fiec firmou, em setembro, um acordo de cooperação no H2V com o setor industrial paulista (por meio da Fiesp), a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) e com a Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica).
Oportunidades de Matopiba a Europa e Ásia
Do ponto de vista da demanda, o Ceará tem uma grande oportunidade nas futuras exportações, via Pecém, não apenas para a Europa, mas também para países asiáticos que têm planos mais consistentes de descarbonização da economia, como a China, Japão e Coreia do Sul.
No mercado interno, o estado é beneficiado pela proximidade da região de Matopiba, área de cerrado entre o Nordeste e o Norte, considerada a nova fronteira agrícola do Brasil.
Esse polo do agronegócio – formado por terras do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – tem potencial, na transição energética, para se transformar num dos maiores consumidores de fertilizantes à base de amônia verde do país e está na mira dos cearenses.
A região, de perfil exportador, já responde por 10% de toda a soja e milho colhidos no Brasil. É também a segunda maior produtora de algodão, atrás apenas de Mato Grosso.
O que é o Hub do H2V do Ceará?
Mais que um projeto, a implantação de um polo de hidrogênio verde se tornou uma política de estado, integrando governo, empresariado e a academia. Formalizado em fevereiro de 2021 e chamado oficialmente de Hub do H2V, o programa é uma parceria entre a administração estadual, o Complexo do Pecém, Fiec e a Universidade Federal do Ceará (UFC).
A iniciativa prevê a criação, na ZPE Ceará, localizada em Pecém, de uma plataforma voltada para a produção e distribuição de hidrogênio verde, em escala global.
O Complexo do Pecém – joint venture formada pelo governo estadual e o Porto de Roterdã – é um dos principais pilares do hub e trabalha para criar as condições logísticas locais e internacionais necessárias ao sucesso do empreendimento.
Em setembro passado, a autoridade portuária recebeu autorização do governo brasileiro para um financiamento de US$ 90 milhões do Banco Mundial.
Os recursos serão destinados à implantação de infraestrutura básica para corredores de utilidades, acesso ao setor produtivo de H2V, expansão do atual Terminal de Múltiplas Utilidades (TMUT) e incremento do Píer 2 do terminal, que será destinado a H2V e derivados.
Além disso, Pecém tem um acordo com o acionista holandês para criação de um corredor marítimo do H2V, entre o Ceará e os Países Baixos.
O que é H2V e como ele é produzido?
O hidrogênio é uma matéria-prima que possui aplicação em diversos setores industriais, desde o segmento de alimentos até fertilizantes. Porém 96% da produção mundial hoje é resultante de métodos poluentes, gerando 830 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano, o correspondente a 2% das emissões anuais de CO2 em todo o mundo.
Daí a necessidade crucial da descarbonização da cadeia do hidrogênio para a transição energética. O H2V é obtido através da eletrólise (quebra das moléculas por meio de eletricidade) da água ou etanol, entre outros produtos. A geração dessa eletricidade, bem como todo o processo produtivo, não pode emitir CO2, por isso as plantas eólicas, solares e outras fontes de energia limpa são vitais para essa indústria.
Infraestrutura energética para o H2V
Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), evidenciam que o Ceará vem fazendo o dever de casa, do ponto de vista da infraestrutura energética necessária para a atração de um polo de H2V. O estado tem atualmente 100 parques eólicos que geram 2.577 MW de potência. Há outros 72 empreendimentos eólicos em construção ou obras não iniciadas, com capacidade contratada de 2.876MW.
Além desses, há 26 empreendimentos de geração eólica offshore – com potencial estimado em 64,9 GW – em fase de licenciamento no Ibama.
Já a capacidade instalada de energia fotovoltaica (solar) é de 1.559 MW distribuídos em 35 empreendimentos no Ceará. Outros 419 parques solares estão construção e, juntos, em breve, vão gerar 16.738,3MW de potência.
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