Por Juliana Albuquerque
Os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada na terça (18), pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostra que o Brasil atingiu em 2021 o maior nível de endividamento dos últimos 11 anos, com 70,9% das famílias brasileiras endividadas.
No recorte regional, o nível de endividamento é maior no Sudeste (81,7%), com o Nordeste ocupando o segundo lugar no ranking de região com mais endividados (72,7%). Os estados da Paraíba (92,2%); Rio Grande do Norte (88%) e Pernambuco (79,8%), respectivamente, lideram como os três do Nordeste com maior percentual de endividados com dívidas que vão desde compras com cartão de crédito, cheque especial, cheque pré-datado, os créditos consignado ou pessoal, aos financiamentos de carro ou de casa.
Mas se por um lado o fato de se endividar é algo considerado pelos economistas como um processo até que normal após um período de restrições provocadas pela pandemia da Covid-19, as contas em atraso acendem uma alerta.
Quando analisado regionalmente esse indicador de inadimplência, verifica-se que houve um aumento entre os estados do Nordeste, que saíram de um percentual de 29,2% em 2020 para 30,6% em 2021.
“Para 31%, cerca de 1/3 dos entrevistados, os compromissos financeiros se encontram pendentes. Esse é o indicador que mais preocupa”, analisa o economista da Fecomércio-PE, Admilson Saraiva.
Entre as regiões brasileiras, o Nordeste é a que tem maior presença de estados entre os 10 com grande percentual de famílias com contas em situação de atraso. São cinco estados, com percentuais acima de 25%. Além do Ceará (1° em nível nacional, com 46,1%); Maranhã (4°, com 37,6%); Rio Grande do Norte (5° e 37,2%); Pernambuco (8° e 32,9%); e Bahia (10° e 29,4%).
“É sempre importante frisar que o problema maior não se trata de estar endividado e sim da capacidade de planejar e conseguir sanar as dívidas. E essa situação, de aperto financeiro e dificuldade com o orçamento familiar, tem estreita relação com a dinâmica do mercado de trabalho: elevado grau de informalidade, impulsionado pela pandemia, alta relevância dos programas de transferência na composição da renda e pressão inflacionária sobre os itens mais básicos, que mais pesam sobre o orçamento, são condições que agravam a situação de endividamento na região. Além disso, a taxa de desocupação na região é bem mais elevada e também mais persistente desde que viemos passando pela pandemia”, argumenta Saraiva.