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Guerra comercial com EUA afeta NE, mas tem estado que sai lucrando

Dos 10 produtos mais exportados pelo NE, seis estão entre os mais comprados pelos EUA
Comércio exterior registra oito meses de quedas consecutivas na Bahia
As futuras taxações das importações dos Estados Unidos podem prejudicar o Nordeste. Foto: Fieb

Caso uma eventual guerra comercial com os Estados Unidos chegue aos produtos brasileiros vai impactar muito mais o Nordeste do que o Brasil. O Brasil está no quarto lugar entre os países mais vulneráveis, caso haja uma guerra comercial com os Estados Unidos, segundo informações compiladas pela Bloomberg baseadas em informações da UN Comtrade, da ONU. Os profissionais consultados nesta matéria acreditam que a taxação vai chegar aos produtos brasileiros exportados aos EUA. Mas em Sergipe, um setor pode obter vantagens.

O coordenador dos cursos de Gestão da UNIFBV e Mestre em Economia, Gustavo Delgado, entende que o Nordeste é mais vulnerável do que o País a esta futura taxação dos EUA. “Dos 10 produtos mais exportados pela região, seis estão entre os que os Estados Unidos mais compram do Brasil”, explica o especialista.

Os seis itens citados pelo especialista são: pasta química de madeira; semimanufaturados de ferro ou aços longos; óxido de alumínio, ferro fundido, pasta química de madeira para dissolução; outros produtos de origem animal impróprio para alimentação humana, material para fazer ração de animais. Neste caso, a taxação destes produtos atingirá principalmente as empresas produtoras, com reflexo no setor industrial.

Em 2024, o Brasil exportou US$ 40,3 bilhões aos Estados Unidos em 3.525 itens. Os 10 produtos mais vendidos aos estadunidenses pelo Brasil somaram US$ 18,5 bilhões. Também no ano passado, as vendas aos Estados Unidos feitas pelo Nordeste totalizaram US$ 2,8 bilhões em 856 itens. Desse total, US$ 1,7 bilhão foi o valor dos 10 produtos mais comercializados aos EUA pela região, ou seja quase 60% das exportações. Ainda em 2024, a região importou 1.316 itens dos Estados Unidos no valor de US$ 6 bilhões.

Estados Unidos, segundo maior parceiro comercial do Brasil

Os Estados Unidos são o segundo parceiro comercial do Brasil, perdendo apenas para a China. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou, esta semana, a taxação de alguns produtos chineses e adiou,  por 30 dias,  a decisão de taxar produtos fabricados pelo México e Canadá destinados aos EUA. O México e o Canadá são os dois países mais vulneráveis nestas circunstâncias, ocupando primeiro e segundo lugar na lista da Bloomberg, pois vendem mais produtos aos norte-americanos.  

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Pragmaticamente, o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE), Bernardo Peixoto, diz que tudo que é alterado na economia chega ao bolso do consumidor, “embora neste primeiro momento, não ocorra consequência imediata no comercio”. 

Ele cita que “a grande preocupação e ameaça é a de tarifar até 100% os países emergentes do BRICS”. O executivo acredita que isso pode acontecer, caso o BRICs. Além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, se uniram ao bloco como membros permanentes o Irã, a Arábia Saudita, o Egito, a Etiópia e o Emirados Árabes Unidos. Para Peixoto, caso o BRICS insista em criar uma moeda própria, isso poderia ser visto por Trump como uma medida para enfraquecer o uso do dólar americano nas transações internacionais. 

Oura consequência da taxação dos Estados Unidos aos produtos importados de outros países poderia ser o aumento do preço dos produtos fabricados no Brasil que contém insumos importados de alguns países. Neste mundo globalizado, algumas peças ou partes de produtos são produzidos em países como México e Canadá, passam por mais um processo nos Estados Unidos e são exportados para outros lugares. Isso ocorre, por exemplo, com peças de carros.  

Stellantis /Peugeot
Fábrica da Stellantis em Pernambuco / Foto: Stellantis

Setor Automotivo

“Um dos setores que podem ser mais impactados em Pernambuco é o setor automotivo, porque os Estados Unidos importam peças automotivas do México e Canadá. E aí a gente importa algumas peças dos Estados Unidos”, resume a coordenadora do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Stephany  Miyeko, se referindo a hipótese de que produtos fabricados por países como México e Canadá sejam taxados ao entrar no mercado norte-americano. 

A consequência desta taxação, segundo a especialista, é que os carros fabricados aqui ficariam mais caros. A indústria brasileira e nordestina depende de vários insumos importados. Caso sejam taxados produtos que o Brasil já exporta para os Estados Unidos, os produtores brasileiros teriam que procurar outros mercados.

“Talvez, isso vire a favor do Brasil, fortalecendo mercados como os que fazem parte dos BRICs”, conta Stephany. Tanto Stephany como Gustavo acreditam que uma parte das exportações brasileiras podem entrar numa lista de produtos a serem taxados pelos Estados Unidos.

Outro fator que também pode fazer alguns bens ficarem mais baratos no exterior é a taxação de mais produtos. “O que define o preço é a oferta e a demanda. A china vai ter que escoar, de forma mais barata, estes produtos taxado pelos Estados Unidos para outros países”, comenta Gustavo, acrescentando ser difícil o Brasil se beneficiar disso por alguns motivos como a burocracia, a cotação do dólar em alta. “O Brasil não é um player versátil no comércio internacional”, conclui.

Sergipe sento efeitos sobre petróleo

O economista do Sistema Fecomércio em Sergipe, Márcio Rocha, disse que o Estado sofrerá algum efeito colateral com as medidas de Trump. “Se ele elevar a taxação de produtos brasileiros, a gente pode terminar sendo prejudicado de alguma forma por causa das nossas exportações”, disse, ao acrescentar que no ano passado, as exportações totais para os EUA foram de 72 milhões de dólares.

Mas nem tudo será negativo. “No ano passado, pela primeira vez enviamos óleo bruto para os Estados Unidos. Isso deve ser um reflexo da guerra entre Rússia e Ucrânia, já que os americanos precisaram buscar novos emissores de petróleo para si, e aumentaram as compras da commodity no Brasil. Enviamos 44.3 milhões de dólares em petróleo para eles”, explicou o economista.

Petroleo Sergipe
Sergipe é uma grande produtor de petróleo no Nordeste e começou a exportar para os EUA/Foto: Divulgação

A balança comercial sergipana é negativa. Sergipe exportou US$ 72 milhões, mas comprou US$ 102 milhões. “Acho muito difícil que haja barreiras para nossos produtos, considerando que dependem muito de óleo bruto brasileiro. Já que eles exportam produtos refinados, a exemplo de gasolina e diesel (o Brasil não é autossuficiente na produção de combustíveis). As barreiras impostas por Trump podem beneficiar ainda mais a economia sergipana, levando à elevação nas vendas de material local. Haja vista que nunca haviam comprado óleo bruto nosso, e agora dependem disso”.

Sergipe exporta, apenas, 0,77% de um total de US$ 5,7 bilhões que os Estados Unidos compraram de petróleo, mas o economista entende que “para um Estado tão pequeno quanto o nosso, é um marco importante. Devemos lembrar que Japaratuba foi o município responsável por toda exportação de petróleo de nosso estado, em 2024, num total de R$ 237 milhões.

biogás - Combustível do Futuro
Represálias sobre etanol afetariam setor sucroenegético de Alagoas/Foto: reprodução Portal do Agronegócio

Alagoas: setor sucroalcooleiro em risco

A gerente do Centro de Negócios Internacionais da Federação das Indústrias de Alagoas (FIEA), Dielze Mello, entende que é cedo para analisar o impacto das medidas do presidente americano sobre os produtos importados. Mas prevê que haja reflexo nas exportações alagoanas. Ela explicou que no ano passado, Alagoas exportou para os Estados Unidos 9% do total realizado no ano, sendo o açúcar responsável por 97% deste total.

O país da América do Norte importou de Alagoas 88.464 toneladas de açúcar a granel e 10 mil toneladas de açúcar em sacas, totalizando US$ 81,074 milhões nestas transações.

“Qualquer medida restritiva americana que esteja direcionada a esta commodittie irá impactar negativamente as exportações de Alagoas. Os demais setores têm uma participação mais baixa, mas mesmo assim será impactado também”, analisou.

*Participaram desta reportagem Angela Fernanda Belfort, do Recife, Antônio Carlos Garcia, de Aracaju, e Vanessa Siqueira, de Maceió

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