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Depois de críticas, Campos Neto diz que inflação não é única responsável por alta de juros

Em meio a questionamentos sobre a política de juros altos implementada pelo Banco Central (BC), o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, disse que os elementos que corroboram para essa alta vão além da inflação. Segundo ele, a definição da taxa de juros é uma consequência de fatores que não estão limitados à inflação, e […]
Brasília (DF) 25/04/2023 Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. (CAE) Foto Lula Marques/ Agência Brasil.

Em meio a questionamentos sobre a política de juros altos implementada pelo Banco Central (BC), o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, disse que os elementos que corroboram para essa alta vão além da inflação. Segundo ele, a definição da taxa de juros é uma consequência de fatores que não estão limitados à inflação, e que entre eles está o fato de a dívida bruta do governo ser alta, acima da média internacional.

“É a dívida alta o que faz os juros serem altos”, disse o presidente do BC. Outras causas para os juros altos citadas pelo economista são a baixa taxa de recuperação de crédito pelos bancos, uma vez que a inadimplência, segundo ele, é alta; a baixa taxa de poupança; e a percepção de riscos. O presidente do BC participou, nesta terça-feira (25), de uma audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e também afirmou que critérios técnicos prevalecem em relação a políticos nas decisões do BC.

Inflação


“Nós olhamos a inflação corrente; as características dessa inflação corrente; o aspecto qualitativo da inflação; o que dá para extrair da inflação corrente em termos de expectativa futura; e a capacidade de o país crescer sem gerar inflação”, disse Campos Neto.

No que se refere às expectativas de inflação, o sistema de metas tem, segundo ele, papel relevante por permitir, às pessoas, reajustarem preços tendo como base essas expectativas. Por isso, acrescentou, “a gente tem que ter certeza de que as expectativas de inflação estão dentro da meta, ancoradas”.

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Críticas


Uma das críticas mais enfáticas foi feita pelo senador Cid Gomes (PDT-CE), que chegou a usar um quadro-negro para apresentar uma comparação entre a inflação e as taxas de juros cobradas nos Estados Unidos e no Brasil.

“Em 2022, a inflação nos EUA estava em 6,5% enquanto a taxa de juro estava em 4,5%. No Brasil a inflação estava em 5,8% enquanto a taxa de juros estava em 13,75%. Não há razoabilidade nessa diferença”, disse o senador.

Gomes acrescentou que metade da dívida do país está vinculada à taxa básica de juros, a Selic. “Se o Brasil tivesse adotado a mesma taxa de juros dos EUA, teria economizado R$ 510 bilhões. Este é um dinheiro que infelizmente cai na conta de quem já tem. No caso, o tal rentista. Isso é fazer papel de Robin Hood ao inverso, retirando dinheiro dos pobres para concentrá-lo nas mãos dos ricos”, argumentou.

A fim de mostrar o que representa esse montante que, segundo ele, poderia ser economizado, Gomes lembrou que o programa Bolsa Família tem um orçamento de R$ 170 bilhões. “Daria para triplicar o valor atual. Daria para fazer 3,6 milhões de habitações populares por ano, o que, em dois anos, resolveria o problema de déficit habitacional do país”, acrescentou.

“Daria também para se fazer 134 mil escolas por ano. Isso universalizaria, em 3 anos, a infraestrutura necessária para todas as matrículas em tempo integral. Para se ter uma ideia, se aumentar em 10% o salário-mínimo, o impacto para o governo seria da ordem de R$ 28 bilhões. Numa conta simples, o valor total daria para elevar o salário-mínimo em 180%, chegando a R$ 4 mil”, acrescentou.

O senador Omar Aziz (PSD-AM) afirmou que, infelizmente, quem paga pela grande quantidade de dinheiro público gasto com juros “é o pobre”. Ele então e perguntou, ao presidente do BC, se ele concorda com essa afirmação.

Campos Neto disse concordar para, na sequência, emendar: “os juros altos fazem com que o custo seja para toda a economia, inclusive para o pobre. Recai sobre emprego também”, completou.

Campos Neto: alta de juros em ano eleitoral mostra critério técnico

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que o movimento de alta de juros implementado pela autoridade monetária brasileira foi feito durante o período eleitoral, o que, em sua avaliação, demonstra que critérios técnicos prevalecem em relação a políticos nas decisões do BC.

A afirmação foi feita nesta terça-feira (25), em Brasília, durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Segundo ele, “nunca na história deste país, nem na história do mundo, foi feito um movimento de alta de juros tão grande no período eleitoral, mostrando que o Banco Central, mesmo no período eleitoral, entendeu que a inflação ia subir”, explicou.

Campos Neto lembrou que essa movimentação foi iniciada, no Brasil, antes de grande parte dos outros países. “O Brasil foi um dos primeiros a subir os juros. Fez uma subida muito grande no ano eleitoral, e a gente pode ver a comparação com outros anos eleitorais. Se o Banco Central não tivesse feito esse movimento, a gente teria tido uma inflação de 10%, em vez de 5,8%”, argumentou.

“Aí, hoje, pra gente controlar a inflação – e a expectativa do ano que vem, que seria muito mais alta do que os 10% – a gente estaria com juros de 18,75% [ao ano]”, acrescentou, ao reiterar a defesa pela autonomia do BC. “É importante entender que o BC atua de forma autônoma e acumulou antes. E quanto mais cedo você atua, menos custo tem para a sociedade”, complementou.

Inflação II


Campos Neto descreveu o cenário financeiro do Brasil com a média dos núcleos de inflação em 7,8% e a taxa Selic em 13,75% ao ano.

“Olha que curioso: a gente está com o núcleo de inflação [de] 7,8% e com a juros de 13,75%. Na última vez que o juro estava [em] 14,75%, o núcleo de inflação estava mais ou menos o mesmo nível que está hoje. A gente tem uma inflação um pouquinho mais baixa do que quando os juros estavam em 14,25%. O fato de termos atuado antes funcionou”, argumentou.

Na avaliação do presidente do BC, as medidas adotadas pela autoridade monetária têm sido aplicadas de forma suave para evitar grandes choques no prazo imediato.

“Um dos parâmetros que está no mandato [no BC] é a suavização. Sim, o BC suaviza. Se eu quisesse combater o choque no período curto, eu teria que ter juros muito altos [posteriormente]. A gente não vai fazer isso. Suavizar significa alongar o horizonte para ter uma inflação controlada num horizonte que seja relevante, com o mínimo custo social possível”, disse.

Credibilidade


O presidente do Banco Central acrescentou que o objetivo é também o de evitar alongar demais esse “horizonte”, uma vez que é necessário, ao governo, manter a credibilidade.

“Quando você alonga demais o horizonte, eventualmente você perde credibilidade, e, se perder a credibilidade, a expectativa de inflação lá na frente sobe e contamina os preços presentes. Aí, depois, o custo é muito mais caro”, ponderou.

“O mundo não gira na Selic [taxa básica de juros]. Grande parte dos juros é prefixada. Controlar os juros de um dia não garante [queda para] o resto da curva de juros, que é determinada pelo preço que as pessoas estão dispostas a emprestar para o governo. Portanto, se eu não tiver credibilidade eu posso fazer cair os juros curtos, mas os demais vão subir porque a economia não gira no juro curto”, disse.

Segundo Campos Neto, o que possibilita uma queda de juros sustentável é a capacidade de se fazer os juros a curto prazo caírem, e essa curva se perpetuar e propagar.

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