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Os desafios do futuro presidente do Brasil

Economistas e empresários dizem quais as prioridades a serem enfrentadas pelo próximo ocupante do Palácio do Planalto.
Palácio do Planalto/Foto: Gastão Guedes

O desafio está só começando para quem vencer a eleição presidencial neste domingo  (30) para assumir o comando da nação. Os cenários econômicos que se desenham para 2023 não são nada animadores. E isso não é só no Brasil: há uma perspectiva de uma recessão mundial. No País, os gastos públicos foram altos nos últimos meses, com o governo federal assumindo mais despesas como o aumento do valor pago no Auxílio Brasil entre outras transferências de renda que ajudaram a melhorar a difícil situação de aperto de várias categorias profissionais como taxistas, caminhoneiros etc. 

“A primeira coisa que o presidente deveria fazer é apaziguar os ânimos, porque isso vai ter repercussão na sociedade e entre os empresários”, comenta o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL-Recife), Fred Leal. A economia vive de expectativas. A polarização e a falta de um consenso político vem prejudicando a economia do País desde 2014. E, na história recente, a falta de consenso político contribuiu para uma das maiores recessões do País, a de 2015-2016.

 Sócia-diretora da Ceplan Consultoria Tânia Bacelar dá um pouco do resumo do que acontecerá com o próximo presidente. Ele vai ter que “trocar os pneus com o carro andando em estrada cheia de atoleiros”. E acrescenta: “a gestão fiscal não será trivial e sua interação com a política monetária também será desafiadora”.

Numa comparação simplista, o País é governado como uma grande casa. Se os gastos estão em desequilíbrio, com as despesas  maiores do que as receitas, que no caso do governo federal é arrecadação, fica difícil encontrar quem queira emprestar dinheiro para o dono da casa e até acreditar que ele vai conseguir pagar o que deve ao mercado financeiro. E isso gera uma expectativa muito ruim para a economia. Esta expectativa também pode afastar os investidores.

Tânia Bacelar
Tânia Bacelar: o mais difícil será conciliar interesses/Foto: Arthur Cunha/ME

“O mais difícil será conciliar iniciativas de políticas públicas que “acudam” a população mais pobre (urgências) ao mesmo tempo em que se dialoga com um amplo espectro de interesses e resistências das camadas mais abastadas da sociedade e com um Congresso de viés fortemente conservador”, lembra Tânia. Nos últimos meses, o governo federal chegou a alterar a lei de teto de gastos para aumentar o Auxílio Brasil – que passou a pagar R$ 600 e mais alguns benefícios que contemplaram as pessoas de baixa renda, taxistas e caminhoneiros, entre outros. Ambos os candidatos a presidente que disputam o segundo turno já disseram que vão manter o Auxílio Brasil no atual valor, embora isso não esteja previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)  que o governo federal  apresentou ao Congresso Nacional…

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Ricardo Essinger
Presidente da Fiepe, Ricardo Essinger, diz que a questão fiscal é um dos primeiros desafios do novo presidente que será eleito neste domingo (30). Foto: Assessoria Fiepe/ Divulgação.

E a expectativa de arrecadação de tributos federais é menor para 2023, porque as projeções estimam que o Brasil deve crescer menos do que em 2022. E a arrecadação incide sobre o que é produzido pelo País como um todo. Quando a atividade econômica desacelera, a arrecadação cai. Numa estimativa divulgada no dia 04 de outubro pelo Banco Mundial, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceria 2,5% este ano e 0,8% em 2023.

Sócio da Ceplan Consultoria, o economista Paulo Guimarães afirma que a próxima gestão federal será “um início de austeridade fiscal para ajustar as contas públicas, mas ao mesmo tempo necessidade de manter programas emergenciais”. Ele enxerga uma “dificuldade de redução na taxa de juros no início de 2023, pela provável elevação no preço dos combustíveis e permanência da desorganização das cadeias globais de suprimentos”.

 Isso significa mais inflação e, como explica Tânia,  a atual inflação é de custos, “mais difícil de controlar”. Um dos fatores que está contribuindo para a alta da inflação é a guerra da Rússia com a Ucrânia, que reduziu, para uma parte do mundo, a oferta de energia e de commodities, como por exemplo o trigo.

Paulo Guimarães, da Ceplan Consultoria

 E Paulo complementa: “há um risco de recessão mundial, com os  EUA e Europa puxando a crise, influenciados também pelo baixo crescimento chinês. O Brasil não é uma ilha e esse cenário deve impactar o País em 2023”. E, como já foi dito acima, crise significa menos dinheiro circulando e menos tributos sendo arrecadados.

A importância de manter as contas públicas arrumadas…

“A questão fiscal mantém a estabilidade da economia. E isso é fundamental”, diz o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Ricardo Essinger. O que ele defende é que haja um controle dos gastos públicos. O empresário argumenta também que o próximo presidente deveria fazer uma política industrial “para que a cadeia de valor volte ao País. Não tem um país que seja rico sem uma indústria desenvolvida”. 

Uma parte do setor (industrial), inclusive Essinger, acredita que o Brasil vem passando por um processo de desindustrialização desde Fernando Henrique Cardoso (PSDB) que governou o País de 1995 a 2002. “A indústria paga os melhores salários, melhora a qualidade da educação do trabalhador, inova e traz um olhar para o futuro”, argumenta. 

Manter a segurança jurídica – respeitando  inclusive os contratos firmados até agora –  também foi defendida por pelo menos três executivos entrevistados nesta matéria. “A segurança jurídica traz um ambiente melhor para os negócios, estimulando os investimentos do setor privado”, resume o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE), Bernardo Peixoto. Ele sugere também que mais privatizações e concessões poderiam atrair mais investimentos privados ao País.

Fecomercio-PE
Bernardo Peixoto, presidente do Fecomércio-PE/Foto: Agência MakerMídia/Divulgação

Bernardo também cita outras iniciativas que considera importante como o Brasil continuar trilhando o caminho para fazer parte da Organização Mundial do Comércio (OMC), um bloco com mais de 30 países que tem um grande potencial para comprar bens e serviços. E afirma que o próximo presidente deveria liderar iniciativas que melhorem o ambiente de negócios no Brasil, como a diminuição da burocracia,a qualificação das pessoas com uma melhor educação, entre outros. “Todos os países desenvolvidos têm um ambiente mais facilitado para os negócios”, comenta.

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