Após o Banco Central divulgar o Relatório de Economia Bancária de 2021, nesta quinta-feira (6), mostrando que os cinco maiores bancos do país – Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander – reduziram sua concentração bancária, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) decidiu comentar o assunto. Leia a nota na íntegra:
A rentabilidade do setor bancário não é excepcional, nem está desalinhada da realidade de outros setores da economia brasileira ou do desempenho do setor bancário em outros países. Nos últimos anos, a rentabilidade do setor vem caindo e a concentração diminuindo.
Entre as mil maiores empresas do Brasil, conforme levantamento feito anualmente pelo jornal Valor Econômico, os bancos ficaram em 18º lugar na rentabilidade setorial no ano de 2021, ou seja, outros 17 setores foram bem mais lucrativos que os bancos.
Além disso, a última vez que os bancos brasileiros ficaram dentre os 5 setores mais rentáveis da economia, exatamente na quinta posição, foi em 2005, há 17 anos. O setor bancário nunca foi o que apresentou a maior rentabilidade na economia brasileira.
Outro dado importante: quando comparamos o setor bancário brasileiro com o de outros países, sobretudo nos chamados países emergentes, nosso setor também não é o mais rentável. A revista britânica The Banker publicou levantamento com os 1000 maiores bancos do mundo e o setor bancário brasileiro não está entre os mais rentáveis e é similar ao observado em outros países emergentes, em especial da América Latina, nos últimos anos.
Temos no Brasil um setor bancário sólido, rentável e moderno, alinhado com as melhores práticas e tecnologias internacionais.
A melhora da rentabilidade do setor em 2021 decorreu de uma baixa base de comparação, dado que o lucro do setor foi bastante baixo em 2020. Tal recuperação pode ser explicada pelos menores gastos com despesas contra devedores duvidosos (PDD), diante da redução das incertezas com a pandemia; retomada da atividade econômica, que propiciou a melhora da receita com serviços; além do controle das despesas, aumentando a eficiência do setor. Com isso, a rentabilidade do setor praticamente retornou ao nível pré-pandemia (embora ainda tenha ficado um pouco abaixo do nível de 2019).
Esse fenômeno não ocorreu apenas no Brasil, como nota o próprio Relatório de Economia Bancária do BCB, “a maioria dos sistemas bancários de países representativos de diferentes continentes apresentou melhora na rentabilidade em 2021 quando comparado a 2020. Apesar da melhora, metade dos países (incluindo o Brasil) não superou o nível de ROE registrado em 2019, antes dos efeitos da pandemia”. O REB ainda cita que a rentabilidade do setor no país foi inferior à registrada em países como Rússia, Canadá e México, embora tenha superado a de países como a Turquia, Estados Unidos e Austrália.
A recuperação da rentabilidade do setor bancário em 2021 pode ser explicada pela recuperação da atividade econômica no Brasil e no mundo no ano. Após cair 3,9% em 2020, o PIB brasileiro cresceu 4,6% em 2021, superando o nível de 2019.
Assim, não foi apenas a rentabilidade do setor bancário que retornou para o nível pré-pandemia em 2021 no país. Analisando os dados da revista Valor 1000, observa-se que a maioria dos setores econômicos registrou uma melhora acentuada da rentabilidade em 2021, com destaque para os setores produtores de matérias-primas, cuja rentabilidade ultrapassou os níveis observados antes da pandemia. Em tal ranking, o setor bancário havia ficado na 10ª posição em 2019 e em 2021, ocupou a 18ª posição. Isso significa que, apesar da recuperação da rentabilidade do setor bancário, esta ficou aquém da observada em outros 17 setores.
Concentração Bancária
O mercado bancário brasileiro tem bastante concorrência. Há muita confusão entre concentração e falta de competição. A atividade bancária, como outras que exigem elevados volumes de capital, tem maior grau de concentração, em especial no chamado varejo bancário.
Mas, no caso do mercado brasileiro, o nível de concentração é considerado moderado, como o próprio Banco Central reconhece. A FEBRABAN apoia qualquer medida de incentivo à competição e à entrada de novos competidores, desde que se preserve a segurança e a resiliência do setor e se assegure o mesmo tratamento regulatório a todos os participantes do mercado.
Em geral, observa-se que a concentração do mercado de crédito tem recuado nos últimos anos no país e é menor que a de muitos outros setores também intensivos em capital.
Setores como Mineração, Petróleo/Gás e Papel/Celulose, também intensivos em capital, são mais concentrados que o setor Bancário
Tal movimento pode ser atribuído a perda de participação dos principais bancos públicos do país, vis-à-vis o ganho de mercado pelos bancos privados, cooperativas e fintechs.
Quando se analisa a concentração das diferentes linhas de crédito, observa-se elevada heterogeneidade. As linhas mais concentradas são as que possuem forte presença do setor público (imobiliário, rural e investimentos). Por outro lado, as linhas com maior presença dos bancos privados são caracterizadas como de baixo ou médio grau de concentração.
Nova métrica do BC
No Relatório de Economia Bancária deste ano, o BCB introduziu aperfeiçoamentos importantes na sua metodologia, tanto no sentido de permitir uma melhor comparação com outros países, como também de permitir um diagnóstico mais amplo e aprofundado do nível de concentração em nosso setor bancário.
Em relação a chamada razão de concentração, o BC passa a considerar a participação de mercado dos quatro maiores bancos e não dos cinco como nas edições anteriores. De acordo com o BC, a intenção é permitir uma melhor comparação com outros mercados que em sua maioria adotam esta razão de concentração (RC4), o que é muito bem-vindo. Vale notar que a OCDE também adota tal prática, o que significa uma convergência para os padrões da entidade, dado que o interesse do Brasil em ingressar na Organização.
A exemplo do que acontecia na metodologia anterior, seguimos observando uma redução nos principais indicadores de concentração, a saber ativos totais, depósitos e operações de crédito. No caso dos depósitos, a participação do RC4 recuou de 67,2% em 2019 para 60,1% no final de 2021.
Nas operações de crédito, o market share dos quatro maiores recuou de 60,6% em 2019 para 59,3% em 2021, considerando todos as empresas que atuam no mercado (bancos, cooperativas, instituições de pagamento, etc..).
Outra alteração importante é que o REB traz uma abertura maior dos participantes do mercado, permitindo por exemplo que se observe a participação de outros players que começam a ter mais relevância, em especial nos mercados de crédito, como cooperativas, fintechs e instituições não bancárias que passaram a ter participação nestes mercados.
Chama atenção, por exemplo, que as cooperativas, que têm uma regulação mais flexível que a dos bancos, ampliaram a sua fatia de mercado, de 4,3% em 2019 para 6,1% no final do ano passado.
No geral, os dados confirmam que o mercado brasileiro possui um nível moderado de concentração, compatível com segmento que trabalha com níveis elevados de capital, alinhado com os nossos pares internacionais e abaixo de diversos outros setores da economia brasileira.
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