Ata do Copom: incertezas justificam ajuste de 0,5 ponto percentual nos juros

O aumento dos juros básicos, com a taxa Selic passando de 12,75% para 13,25% ao ano, anunciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom), na semana passada, foi explicado na ata da última reunião do comitê, divulgada nesta terça-feira (21), em Brasília. De acordo com o Copom, apesar de “bastante intenso e tempestivo”, o atual ciclo de aperto […]
Etiene Ramos
Etiene Ramos
Jornalista

O aumento dos juros básicos, com a taxa Selic passando de 12,75% para 13,25% ao ano, anunciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom), na semana passada, foi explicado na ata da última reunião do comitê, divulgada nesta terça-feira (21), em Brasília.

Copom
Reunião do Copom/Foto: Agência Brasil

De acordo com o Copom, apesar de “bastante intenso e tempestivo”, o atual ciclo de aperto monetário foi necessário, por causa da defasagem da política monetária. “Mas ainda não se observa grande parte do efeito contracionista esperado, bem como seu impacto sobre a inflação corrente”.

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O aumento de 0,5 ponto percentual era previsto mas o mercado ficou surpreso com o anúncio do comitê de que pretende continuar a elevar a taxa nas próximas reuniões. Até então, a maioria dos analistas financeiros apostava que os juros básicos ficariam em 13,25% ao ano até o fim de 2022.

Selic atinge maior nível desde 2017

O último aumento dos juros é o 11ª consecutivo. Depois de dois reajustes seguidos de 1 ponto percentual, a taxa foi elevada em 0,5 ponto, colocando a Selic no maior nível desde janeiro de 2017, quando chegou a 13,75% ao ano.  Apesar da alta, o BC reduziu o ritmo do aperto monetário.

Na avaliação do comitê, o novo ajuste de 0,5 ponto percentual foi o apropriado “frente a um ambiente de elevada incerteza e o estágio significativamente contracionista da política monetária, que, considerando suas defasagens, deve impactar a economia mais fortemente a partir do segundo semestre deste ano”.

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A estratégia usada para trazer a inflação projetada em 4,0% para o redor da meta, segundo o Copom, “conjuga, de um lado, taxa de juros terminal acima da utilizada no cenário de referência e, de outro, manutenção da taxa de juros em território significativamente contracionista por um período mais prolongado que o utilizado no cenário de referência”.

A Selic é o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em maio, o indicador fechou em 11,73% no acumulado de 12 meses, no maior nível para o mês desde 2015.

Mesmo com o fim das bandeiras tarifárias reduzindo o preço da energia elétrica, a inflação continua pressionada pelos combustíveis. O índice está bem acima do teto da meta, fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 3,5%, para 2022, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não podia superar 5% neste ano nem ficar abaixo de 2%.

Aperto monetário e novo reajuste dos juros

Apresentadas as projeções e diante do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, o Copom acrescentou que se faz necessário manter o ciclo de aperto monetário “em território ainda mais contracionista”, e que com a persistência dos choques recentes, “somente a perspectiva de manutenção da taxa básica de juros por um período suficientemente longo não asseguraria, neste momento, a convergência da inflação para o redor da meta no horizonte relevante”.

A próxima reunião, de acordo com o comitê deverá ter um novo ajuste, “de igual ou menor magnitude”. “A crescente incerteza da atual conjuntura, aliada ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda por serem observados, demanda cautela adicional em sua atuação”, justifica. Para o Copom, a política monetária poderá ser ajustada, se preciso, a fim de garantir a convergência da inflação para suas metas, mas isso dependerá da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções”.

Copom considera contexto nacional e internacional

Entre expectativas e riscos de alta inflacionária, o Comitê destacou a maior persistência das pressões inflacionárias globais; a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país; e políticas fiscais que impliquem na sustentação da demanda agregada.

“A reorganização das cadeias de produção globais, já impulsionada pela guerra na Ucrânia, deve se intensificar, com a busca por uma maior regionalização na cadeia de suprimentos. Na visão do comitê, esses desenvolvimentos podem ter consequências de longo prazo e se traduzir em pressões inflacionárias mais prolongadas na produção global de bens.”

A ata acrescenta que a inflação ao consumidor segue elevada, “com alta disseminada entre vários componentes”, e tem se mostrado “mais persistente que o antecipado”, mantendo, inclusive, a alta nos preços de serviços e de bens industriais. “Os recentes choques continuam levando a um forte aumento nos componentes ligados a alimentos e combustíveis.”

Expectativas positivas para a inflação

O Copom lembra que as expectativas de inflação para 2022, 2023 e 2024, apuradas pela pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central, encontram-se em torno de 8,5%, 4,7% e 3,25%, respectivamente. A escolha foi manter a premissa de que o preço do petróleo seguirá próximo à “curva futura pelos próximos seis meses”, terminando o ano em US$ 110/barril, passando então a aumentar 2% ao ano a partir de janeiro de 2023.

“Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária amarela em dezembro de 2022, de 2023 e de 2024. Neste cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 8,8% para 2022, 4,0% para 2023 e 2,7% para 2024”, diz a ata.

Melhora da atividade doméstica

Para o comitê, a recente revisão positiva de crescimento da atividade doméstica prevista para 2022, reflete ainda, majoritariamente, o processo de normalização da economia após a pandemia, tanto no maior consumo de serviços quanto na utilização do excesso de poupança observado em relação ao precedente histórico, bem como ao estímulo fiscal transitório efetuado no primeiro semestre do ano.

Com isso, o comitê prevê que a atividade doméstica deve desacelerar nos próximos trimestres, quando os impactos defasados da política monetária se fizerem mais presentes.

Agência Brasil

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