O movimento não é novo, mas passa por uma fase recente de aquecimento, que promete grandes negócios. Construtoras e players do mercado imobiliário nordestino estão apostando pesado na região onde há mais competição no setor em todo o país: o Sudeste. Além de partir para cima da concorrência, essas empresas trabalham com expectativas nada modestas. A baiana Prima, por exemplo, quer faturar, de 2025 a 2030, R$ 1 bilhão em valor geral de vendas (VGV) em São Paulo e Rio de Janeiro.
Fundada em 2005 e consolidada no setor comercial e hoteleiro de alto padrão do mercado baiano, a Prima aproveitou o relacionamento estreito com grandes marcas nacionais e globais – Fasano, entre outras – para ampliar seu raio de ação.
A ousadia é grande, já que a estreia da companhia no Sudeste vai acontecer com dois projetos em paralelo, sendo um no mercado paulista e outro no Rio de Janeiro.
O principal parceiro da Prima nessa expansão é a Acciona, grupo espanhol com presença nas áreas de saneamento, energia limpa e mercado imobiliário.
Atualmente, os novos negócios da dupla estão na fase de prospecção de construtoras que atuem nesses estados e queiram se associar, trazendo a expertise que detêm do mercado local.
Prima quer sócios com mesmo padrão no mercado imobiliário
O CEO da Prima, Rúben Escartín, afirma que a empresa baiana busca sociedade com companhias de construção do Sudeste com experiência no mercado de luxo.
“Buscamos parceiros com o padrão e comprometimento da Prima e já estamos em negociações avançadas com duas empresas em São Paulo e uma no Rio de Janeiro para iniciar as operações”, detalha.
“Nossa intenção é fechar o acordo com esses desenvolvedores locais ainda no terceiro trimestre de 2024 e já ter o lançamento dos projetos em 2025”, acrescenta.
Mercado imobiliário residencial e built to rent na mira
O planejamento estratégico da Prima para o Sudeste prevê dois eixos principais de atuação. Um deles é incorporação imobiliária com foco em empreendimentos residenciais de luxo.
O segundo é o nicho built to rent, voltado para imóveis construídos visando contratos de locação nos segmentos residencial e comercial. Esse é uma atividade em crescimento, por exemplo, no varejo.
Os players, ao invés de construírem e administrarem a estrutura física de suas lojas, preferem que uma empresa do setor ou um fundo assuma a implantação e se mantenha como proprietário, ficando responsável portanto pela gestão desses ativos. É uma formas dos varejistas se concentrarem no seu core business: vendas.
Empresa abre escritório no mercado imobiliário do Sudeste
Rúben Escartín frisa que a chegada da Prima aos estados sudestinos faz parte de uma estratégia de longo prazo. “Temos planos ambiciosos”, reforça. Por isso, o próximo passo, segundo ele, é a abertura, ainda neste semestre, de um escritório na capital paulista e outro no Rio de Janeiro.
OR retorna ao mercado imobiliário paulistano
Também da Bahia, a OR (braço do grupo Novonor) já tem uma história na cidade de São Paulo. Mas passou um ciclo, principalmente durante a reestruturação do grupo de que faz parte (antiga Odebrecht), sem novos empreendimentos no coração econômico e financeiro do Brasil.
Recentemente, no entanto, a empresa decidiu que era hora de retomar as operações no mercadoimobiliário paulistano. A reabertura dessa frente passou por uma fase de maturação e finalmente veio o primeiro lançamento em fevereiro passado. Trata-se de um empreendimento residencial de alto padrão – o Baume Itaim – na cobiçada região do Itaim Bibi.
Nesse timing, a OR também apresentou um empreendimento corporativo, no mesmo bairro. E não vai parar por aí. O diretor superintendente Pedro Pessoa avisa que, até dezembro, haverá mais dois lançamentos, ambos no segmento de moradia de luxo. Além de São Paulo, a OR tem negócios na Bahia e em Pernambuco, onde desenvolveu o primeiro bairro planejado da Região Metropolitana do Recife, a Reserva do Paiva (Jaboatão dos Guararapes).
Tenório Empreendimentos também está de volta ao Sudeste
Outra empresa nordestina que está retomando os negócios no Sudeste é a Tenório Incorporações e Empreendimentos, que tem 40 de atuação no nicho de alto padrão. A companhia entrou há 15 anos no mercado paulista, mais precisamente em Campinas e Jundiaí, onde implementou diversos projetos.
No anos recentes, em meio às sucessivas crises econômicas e setoriais, a empresa concentrou novamente as operações nos estados nordestinos. Mas, com a melhoria do cenário econômico, decidiu voltar a atuar em São Paulo. “Teremos dois lançamentos no estado até o final de dezembro, na área residencial”, afirma a diretora Tanagra Tenório.
Pernambuco Construtora de olho em logística e área comercial
Com DNA de obras de infraestrutura e fabris, o Grupo Pernambuco Construtora foi uma das empresas pernambucanas que mais cresceu, nessa área, no ciclo de instalação de megaprojetos no Porto de Suape.
Foi a era de ouro de Suape, entre os anos 2000 e início de 2010, com a chegada de empreendimentos como estaleiro Atlântico Sul Heavy Industry Solutions, Refinaria Abreu e Lima e o complexo petroquímico atualmente operado pela Alpek, entre outros. Além disso, houve um up grade na infraestrutura de Suape, especialmente a portuária e viária.
Nesse ciclo, a Pernambuco Construtora teve participação na implantação do estaleiro, da MG Polímeros (atualmente operada pela Indorama Ventures), uma indústria de equipamentos eólicos e a montadora de duas rodas Shineray do Brasil. Também atuou em obras nas rodovias internas de Suape e na expansão do terminal de contêineres da filipina ICTSI.
Essa expertise permitiu ao negócio, que começou a trajetória focado nesse tipo de projeto, se transformar num dos maiores conglomerado da construção civil no estado. Houve expansão dos negócios para vários polos industriais no Brasil. No Norte, a empresa construiu a termelétrica da finlandesa Wartsila, em Roraima.
No Sudeste, a Pernambuco Construtora foi a responsável pelo terminal de combustíveis da holding alemã Oil Tanking em Vila Velha, no Espírito Santo. Depois de uma fase crítica nos anos recentes – quando chegou a realizar duas emissões de certificados de recebíveis imobiliários – a empresa se movimenta para voltar a essa região. O retorno será com uma cartada mais alta: o estado de São Paulo.
Segundo a companhia, a estratégia é captar projetos de empresas pernambucanas que tenham grandes negócios nesse mercado e demandem instalações nas áreas de armazenamento e comercial. As articulações com clientes já vêm acontecendo, mas são mantidas sob sigilo, por enquanto.
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